Economia

Presidente do Banco Central sinaliza que pode haver nova redução da Selic

Roberto Campos Neto entende, porém, que possíveis frustrações nos ajustes macroeconômicos, como reformas, podem afetar os prêmios de risco e aumentar a trajetória dos juros

Hamilton Ferrari
postado em 06/08/2019 11:11
De acordo com Campos Neto, o foco do BC é executar um trabalho para fazer com que os juros baixos cheguem na ponta, para o consumidorO presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sinalizou, no Correio Debate ; Como fazer os juros caírem no Brasil?, que a taxa Selic pode continuar a reduzir nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Ele entende, porém, que possíveis frustrações nos ajustes macroeconômicos, como reformas, podem afetar os prêmios de risco e aumentar a trajetória dos juros.

Na última quarta-feira (31/7), o comitê decidiu reduzir a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, saindo de 6,5% ao ano para 6% ao ano. O corte foi possível porque a inflação está baixa. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) 15, considerado a prévia da inflação, variou 3,27% no acumulado do ano até julho.

Para este ano, a meta central de inflação é de 4,25%, podendo variar entre 2,75% a 5,75%. Já para 2020, o objetivo é alcançar 4% ; com oscilação de 2,5% e 5,5%.

De acordo com Campos Neto, o foco do BC é executar um trabalho para fazer com que os juros baixos cheguem na ponta, para o consumidor. Para ele, é necessário um crédito saudável para incentivo de investimentos e infraestrutura.

Ao dar o panorama do cenário econômico atual, o presidente da autoridade monetária ressaltou que a economia global teve uma revisão de crescimento ;bastante grande para baixo;, processo que, para ele, ainda deve continuar. ;Continua aí em (expansão de) 3,3% e muito provavelmente será revisado para baixo;, alegou.

Campos Neto avalia que há três grandes fatores que se acumularam ao longo dos anos que ocasionaram na situação atual. A primeira é a tensão comercial, que teve ;trajetória; em várias fases. ;Se imaginava antes que haveria tarifas mais altas entre os países, como China e EUA, e a inflação ficaria mais alta. Isso nunca aconteceu. Ao contrário, nos primeiros anúncios, as inflações dos países caíram e tiveram revisão para baixo;, disse.

Também citou que o envelhecimento da população, em especial da Europa refletem no consumo e endividamento. A ;japonização; ; processo de envelhecimento que ocorreu no Japão ; deve ocorrer em outros países, segundo ele. Por fim, ele declarou que há problemas geopolíticos que também impactam na economia global.

Brasil

Sobre a atividade econômica no Brasil, o presidente do Banco Central ressaltou que o país sofreu com revisões do Produto Interno Bruto (PIB) para baixo, mas que foi em linha com outros países da América Latina. ;Países da América Latina todos revisaram para baixo mais ou menos na linha do Brasil. Não foi porque houve frustração do governo e da execução de reformas;, afirmou Campos Neto.

Com esse cenário de desaquecimento global e do Brasil, houve uma perspectiva de juros mais baixos. Ele ressaltou que as curvas de juros apontam que, no longo prazo, haverá menores taxas. Nos papéis de 10 anos, as taxas chegaram a 1,74%.

Ele destacou que a credibilidade da economia brasileira aumentou nos últimos anos. Campos Neto disse que o país tem uma posição sólida com reservas grandes. ;Nós navegamos na crise sem ter que subir os juros. O Brasil está numa situação bastante sólida nesse sentido;, alegou.
O presidente do BC ressaltou ainda que, na situação atual, comparado com o nível de mediana de outros países, o país já poderia estar ;um ou dois; graus melhor no ranking de investimento (rating). O país perdeu o grau de investimentos após a crise.

Campos Neto admitiu que assumiu o Banco Central com a casa em ordem e em pleno funcionamento após grande avanço na política monetária e na comunicação feita pelo ex-presidente Ilan Goldfajn, que assumiu em 2016 durante o governo Michel Temer. ;Na ponta, tem uma melhora recente tanto no crescimento quanto no emprego. Em termos de política monetária, temos como continuar nesse sentido;, alegou.

Mercado de crédito

Sobre o mercado de financiamentos e empréstimos, o presidente do Banco Central enfatizou que houve melhora nos últimos anos após a crise, o que pode ajudar na recuperação econômica. Campos Neto enfatizou que há uma mudança de viés na política de crédito, permitindo mais espaço para empréstimos privados, em detrimento do público.

Com isso, o BC está indo em direção para a diminuição do crédito direcionado. ;O país precisa se reinventar com o crédito privado. Nós batemos no muro fiscal e precisamos migrar para o crédito privado;, afirmou o chefe do BC.

Ele admitiu que o custo de alguns produtos são altos, como o cheque especial e o cartão de crédito. ;Precisamos cair (os juros) ainda bastante. Na composição do spread bancário, precisamos melhorar em todos os fatores, mas eu chamaria atenção à inadimplência;, afirmou.

De acordo com ele, a falta de informações sobre o tomador de crédito gera uma ;comunicação assimétrica;, o que leva o aumento de taxa pelas incertezas. O cadastro positivo e o open banking vão em linha para diminuir de forma mais estrutural essa assimetria. Além disso, a recuperação de financiamentos é muito mais baixa e lenta no Brasil do que em comparação com outros países. Por isso, há encarecimento dos financiamentos.

Sobre o cheque especial, Campos Neto ressaltou que há um estudo para diminuir a regressividade do produto financeiro. ;Quando (o banco) disponibiliza o limite, tem um consumo de capital do banco, que é proporcional a esse limite. Quem tem mais dinheiro, tem um limite maior e consome mais capital. Normalmente é quem menos usa o produto. Quem mais usa são, basicamente, quem tem dois salários mínimos;, afirmou.

De acordo com ele, as taxas do cheque especial, que superam 300% ao ano, pune quem está em baixo da pirâmide. ;As nossas conversas vai no sentido de como diminuir a regressividade. Também é necessário compreensão do instrumento, que vem com a educação financeira. Pensamos num programa mais amplo, porque a educação financeira é chave nesse sentido;, destacou Campos Neto.

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