Economia

Concentração bancária e falta de concorrência não são vilãs dos juros altos

Para o ex-presidente do Banco do Brasil Gustavo Loyola, a inadimplência, a complexa tributação e o Custo Brasil são os maiores responsáveis pelas taxas absurdas cobradas pelo setor bancário

Simone Kafruni
postado em 06/08/2019 12:50
o ex-presidente do Banco do Brasil Gustavo LoyolaEm linha com o tema do painel Quanto custa o dinheiro: mitos e verdades, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola afirmou que é necessário fazer distinção entre os três tipos e vilões para os juros altos praticados no Brasil. ;Temos os grandes, os pequenos e os falsos;, enumerou Loyola, durante o Correio Debate Como fazer os juros caírem no Brasil, realizado nesta terça-feira (6/8), com apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Os grandes vilões, conforme Loyola, são a inadimplência elevada, a excessiva e complexa tributação na intermediação financeira e o Custo Brasil, que atinge todas as atividades econômicas. Os pequenos são os compulsórios e os custos regulatórios. ;Os falsos são concentração bancárias e falta de concorrência. É importante considerar isso para buscar os remédios. Se focarmos nos falsos ou nos menores, certamente não vamos resolver o problema;, afirmou.

Sobre a inadimplência elevada, Loyola ressaltou a dificuldade do problema de crédito, não só na concessão, mas na recuperação do crédito e na execução das garantias. ;O Brasil é engraçado. Na maior recuperação judicial do país -- não vou citar o nome da empresa --, a garantia é alienação fiduciária de ações de outra companhia do mesmo grupo que vai bem obrigada. Os bancos poderiam usar essa garantia. Mas os advogados conseguiram suspender a execução, porque as ações seriam parte importante, bem indispensável para o funcionamento da empresa;, exemplificou.

Com a informação, Loyola apontou que o país parte do princípio que tem que favorecer o devedor. ;Ou seja, insegurança jurídica permeia esse processo;, disse. Além disso, ele comentou sobre o Custo Brasil. ;Na questão dos crimes eletrônicos e digitais, é impressionante que o Brasil não tenha legislação a respeito, ou uma legislação boa. As perdas que os bancos têm com fraudes é uma coisa impressionante. E isso é apenas um caso, sem contar as leis federais e estaduais contraditórias entre elas que dificultam os bancos. Mas não só eles, todos os empresários sofrem com isso;, explicou.

Nível de compulsórios

O nível de compulsórios é muito alto no país e há custos regulatórios, acrescentou Loyola. ;Precisamos de clareza para combater o inimigo certo na busca pela diminuição das taxas de juros no Brasil;, afirmou. ;Primeiro mito é que nova concorrência digital vai resolver a questão da concorrência no Brasil e reduzir juros. Não vai. Porque não vai resolver a execução de garantias, a tributação e a insegurança jurídica;, assinalou.

Outro mito, segundo Loyola, é que é preciso reduzir a lucratividade dos bancos. ;Não destoa do que a gente vê em outros países. Há que se discutir a concentração bancária, mas não às custas da estabilidade financeira. O Brasil passou pelo pior período recessivo em décadas e não houve problema nos bancos. Isso não tem preço, é muito bom;, alertou.

O ex-presidente do BC argumentou ainda que não se pode fazer debate sobre competitividade relaxando padrões prudenciais. ;Outro mito é que banco público deve ser usados como arma para reduzir juros. A gente viu que não, os bancos públicos vão atrair os piores pagadores e o custo será de todos. Não existe almoço grátis, não dá para combater problemas criando outros;, concluiu.

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