Economia

''Bancos vão ganhar mais, quando juros caírem'', diz Maílson da Nóbrega

Ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney, durante o período de hiperinflação em fins dos anos 1980, defende a queda dos juros

Cláudia Dianni
postado em 06/08/2019 17:46
Ex-ministro Mailson da Nóbrega, durante entrevista na sede da Federação das Indústrias do Distrito Federal - Fibra, no Setor de Indústria e Abastecimento - SIA.O economista Maílson da Nóbrega disse que ;os bancos vão ganhar mais, quando os juros caírem, porque vão emprestar mais e com menor risco;. Ele foi um dos palestrantes, hoje de manhã, no seminário Como Fazer os Juros Caírem no Brasil?, promovido pelo Correio com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). ;Não há nada parecido com a taxa de recuperação de crédito no Brasil, de apenas 13%;, disse. De acordo com o economista, os bancos no Brasil levam quatro anos para recuperar os crédito, enquanto no Reino Unidos a taxa média de recuperação é de 89%, em um ano e meio.

Em sua palestra, Maílson falou sobre as razões do juros bancários serem tão altos no Brasil, chegando a 320%, no caso do cheque especial, mesmo com a Selic, a taxa básica de juros da economia, estar em 6% ao ano, o patamar mais baixo da história. ;É difícil explicar para as pessoas que a selic é 6%, mas que ela vai pagar 320% de cheque especial;. Segundo Maílson, os altos custos administrativos representam apenas 15% do spread cobrado pelos bancos (diferença entre o custo de captação e o preço dos empréstimos). ;O resto são custos trabalhistas, tributários, regulatórios, entre outros;, afirmou.

;Há muitos mitos envolvendo os bancos no Brasil, como que os bancos gostam de juros altos, que no Brasil os juros altos são uma consequência da concentração bancária e que os bancos são o segmentos que mais lucram;, disse. Para Maílson, há outras razões que explicam a dificuldade de baixar os juros, como o baixo nível de poupança, de cerca de 16% com relação ao Produto Interno Bruto (PIB), além do risco fiscal do país, ou seja, a possibilidade de calote do setor público.

[SAIBAMAIS];Além disso, há uma segmentação do crédito que reduz a potência da política monetária, que é o poder do Banco Central de influenciar o mercado com a taxa de juros. Metade do crédito do Brasil não sofre qualquer influência da taxa básica de juros;, explicou. Na opinião do economista, a taxa de juros poderia ser a metade se o crédito no Brasil não fosse tão segmentado entre tantas várias, como habitacional, rural e os empréstimos oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicos e Social (BNDES).

Para ele, a insegurança jurídica é outro fator que encarece o crédito. ;É difícil fazer cumprir contrato no Brasil quando temos temos um sistema judiciário que é pró-devedor e contra o credor. A tributação das transações financeiras é muito alta. Não tem paralelo no mundo;. Ele se referia à cobrança de IOF, PIS, Cofins. ;E o governo está sugerindo o retorno da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) justamente no momento em que tem mais liberais por metro quadrado no Ministério da Economia. Isso é incrível;.

Ele comemorou, porém, o aumento do mercado de capitais no Brasil que, segundo disse, está se transformando na fonte básica de crédito, apesar de corresponder a apenas 20% das operações de crédito, enquanto nos Estados Unidos, representam 80%. ;O mais importante para reduzir os juros é restabelecer a capacidade do Brasil de crescer;, concluiu.

Maílson da Nóbrega foi ministro da Fazenda durante o governo do ex-presidente José Sarney, na época da hiperinflação. Ele foi responsável pela implementação do pacote econômico de orientação heterodoxa, que ficou conhecido como "Plano Verão", o quarto e último do governo Sarney, que tentou controlar a escalada inflacionária em ano eleitoral, criou uma nova moeda, o cruzado novo, com desvalorização de 14% da moeda perante o dólar, e congelou preços.

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