Vicente Nunes, Hamilton Ferrari
postado em 08/08/2019 06:00
Dados desanimadores do volume de vendas do comércio reforçam projeções dos economistas de que a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre será negativa, assim como o primeiro. Se confirmado, o país voltará ao cenário de recessão técnica ; quando registra dois resultados trimestrais seguidos no vermelho. É dado como certo que 2019 será mais um ano perdido na área econômica, com crescimento próximo da estabilidade e adiando a recuperação do consumo e emprego para o futuro.O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o varejo ampliado ; que inclui as atividades de automóveis, como peças, e de material de construção ; ficou estagnado em junho. Com o resultado, o comércio termina o primeiro semestre com crescimento de 3,2%, bem abaixo do ritmo do mesmo período do ano passado, quando avançou 6%.
O momento é de cautela, admite Edmundo Lima, diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), entidade que reúne as principais redes de vestuário e calçados do país. Na avaliação dele, o setor está confiante nos efeitos positivos da reforma da Previdência, mas, para a economia deslanchar, é preciso que o desemprego caia com força. ;As pessoas estão adiando muito o consumo. Quem costumava ir a uma loja toda semana, agora vai uma vez por mês. Quem ia mensalmente, estendeu esse prazo;, ressaltou.
Para Lima, nem mesmo a liberação dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) anunciada recentemente pelo governo deu ânimo novo ao varejo. ;Esperávamos um programa de liberação mais efeito do FGTS. O limite de saque de R$ 500 por conta frustrou nossas expectativas;, afirmou. ;Do jeito que ficou, o FGTS dará um gás limitado ao consumo. A maior parte do dinheiro sacado deve ir para o pagamento de dívidas;, acrescentou. A decepção no comércio foi tão grande que as grandes redes do varejo nem se movimentaram para antecipar as encomendas de Natal, apostando em vendas maiores.
A desaceleração no volume de vendas é acompanhada do péssimo desempenho da indústria, que recuou 1,6% entre janeiro a junho deste ano. O setor tem dificuldades de recuperar a confiança e os investimentos, dada a grande ociosidade da economia. Nesta sexta-feira (9/7), o IBGE divulgará os dados do setor de serviços, que representam 70% do PIB. Analistas do mercado acreditam que haverá uma queda próxima de 2% em junho, na comparação com maio.
Revisão
O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, afirmou que manterá a projeção de crescimento econômico em 0,5% para este ano. ;Se confirmado o resultado ruim no setor de serviços vamos revisar para algo em torno de 0,2% e 0,3% para 2019;, disse. De acordo com ele, o Brasil deve cair 0,1% no segundo trimestre deste ano, em comparação com o primeiro. Nos primeiros três meses, a economia já havia tombado 0,2%. ;E estou sendo otimista, porque o PIB pode ser pior no segundo trimestre;, destacou Perfeito. Para ele, as medidas para injetar recursos na economia, como a liberação dos saques do FGTS, terão impacto limitado, de até 0,2 ponto percentual no crescimento.O andamento da reforma da Previdência também não tem adiantado na economia real, de acordo com Thiago Figueiredo, gestor da GGR Investimentos. Para ele, são necessárias medidas complementares para atrair investimentos. ;O Brasil depende de renda e de crédito. Apesar da queda de juros nas últimas semanas, o grande empecilho é a baixa renda da classe média e classe C, que continua endividada. O spread bancário também não cai. Recuperar isso será nosso maior desafio em 2019 e em 2020;, disse. ;A reforma da Previdência não resolverá nada disso. É preciso desburocratizar a economia, diminuir o oligopólio (no setor financeiro) e dar maior concorrência;, completou.
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, por sua vez, está mais otimista com a atividade econômica. Ele espera que a economia cresça 0,9% no ano, com expectativas positivas para a liberação dos recursos do FGTS e PIS-Pasep. ;Essas medidas de liberação de recursos vão destravar um pouco o consumo nessa metade do ano e abre espaço para mais um corte na taxa de juros, já que a inflação está longe do centro da meta;, declarou.