Economia

Resultado do varejo 1º semestre fica abaixo do registrado em 2018

Se resultado de serviços também vier baixo, como projetam especialistas, há grande chance de o país entrar em recessão técnica

Vicente Nunes, Hamilton Ferrari
postado em 08/08/2019 06:00
Movimento no comércio: especialistas questionam eficácia do saque do FGTS para a melhoraDados desanimadores do volume de vendas do comércio reforçam projeções dos economistas de que a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre será negativa, assim como o primeiro. Se confirmado, o país voltará ao cenário de recessão técnica ; quando registra dois resultados trimestrais seguidos no vermelho. É dado como certo que 2019 será mais um ano perdido na área econômica, com crescimento próximo da estabilidade e adiando a recuperação do consumo e emprego para o futuro.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o varejo ampliado ; que inclui as atividades de automóveis, como peças, e de material de construção ; ficou estagnado em junho. Com o resultado, o comércio termina o primeiro semestre com crescimento de 3,2%, bem abaixo do ritmo do mesmo período do ano passado, quando avançou 6%.

O momento é de cautela, admite Edmundo Lima, diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), entidade que reúne as principais redes de vestuário e calçados do país. Na avaliação dele, o setor está confiante nos efeitos positivos da reforma da Previdência, mas, para a economia deslanchar, é preciso que o desemprego caia com força. ;As pessoas estão adiando muito o consumo. Quem costumava ir a uma loja toda semana, agora vai uma vez por mês. Quem ia mensalmente, estendeu esse prazo;, ressaltou.

Para Lima, nem mesmo a liberação dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) anunciada recentemente pelo governo deu ânimo novo ao varejo. ;Esperávamos um programa de liberação mais efeito do FGTS. O limite de saque de R$ 500 por conta frustrou nossas expectativas;, afirmou. ;Do jeito que ficou, o FGTS dará um gás limitado ao consumo. A maior parte do dinheiro sacado deve ir para o pagamento de dívidas;, acrescentou. A decepção no comércio foi tão grande que as grandes redes do varejo nem se movimentaram para antecipar as encomendas de Natal, apostando em vendas maiores.

A desaceleração no volume de vendas é acompanhada do péssimo desempenho da indústria, que recuou 1,6% entre janeiro a junho deste ano. O setor tem dificuldades de recuperar a confiança e os investimentos, dada a grande ociosidade da economia. Nesta sexta-feira (9/7), o IBGE divulgará os dados do setor de serviços, que representam 70% do PIB. Analistas do mercado acreditam que haverá uma queda próxima de 2% em junho, na comparação com maio.

Revisão

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, afirmou que manterá a projeção de crescimento econômico em 0,5% para este ano. ;Se confirmado o resultado ruim no setor de serviços vamos revisar para algo em torno de 0,2% e 0,3% para 2019;, disse. De acordo com ele, o Brasil deve cair 0,1% no segundo trimestre deste ano, em comparação com o primeiro. Nos primeiros três meses, a economia já havia tombado 0,2%. ;E estou sendo otimista, porque o PIB pode ser pior no segundo trimestre;, destacou Perfeito. Para ele, as medidas para injetar recursos na economia, como a liberação dos saques do FGTS, terão impacto limitado, de até 0,2 ponto percentual no crescimento.

O andamento da reforma da Previdência também não tem adiantado na economia real, de acordo com Thiago Figueiredo, gestor da GGR Investimentos. Para ele, são necessárias medidas complementares para atrair investimentos. ;O Brasil depende de renda e de crédito. Apesar da queda de juros nas últimas semanas, o grande empecilho é a baixa renda da classe média e classe C, que continua endividada. O spread bancário também não cai. Recuperar isso será nosso maior desafio em 2019 e em 2020;, disse. ;A reforma da Previdência não resolverá nada disso. É preciso desburocratizar a economia, diminuir o oligopólio (no setor financeiro) e dar maior concorrência;, completou.

O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, por sua vez, está mais otimista com a atividade econômica. Ele espera que a economia cresça 0,9% no ano, com expectativas positivas para a liberação dos recursos do FGTS e PIS-Pasep. ;Essas medidas de liberação de recursos vão destravar um pouco o consumo nessa metade do ano e abre espaço para mais um corte na taxa de juros, já que a inflação está longe do centro da meta;, declarou.

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