postado em 08/08/2019 04:05
Em mais um dia turbulento nos mercados internacionais diante do acirramento da guerra cambial entre Estados Unidos e China e do aumento das preocupações com a desaceleração na economia global, o real voltou a se desvalorizar fortemente ante o dólar. A divisa norte-americana teve alta de 0,5%, ontem, cotada a R$ 3,975 para a venda após encostar em R$ 4. À noite, o Banco Central anunciou uma intervenção no mercado e vai ofertar, hoje, até 22 mil contratos de swap cambial com vencimento em outubro, para fins de rolagem de 11 mil para maio de 2020 e de 11 mil, para julho de 2020. Ao todo, o BC deve jogar no mercado US$ 1,1 bilhão como forma de conter a alta da divisa.
;O que aconteceu foi uma escalada para outro patamar da disputa comercial, depois de uma negociação que parecia caminhar bem entre China e EUA. Apesar das conversas, houve um passo para trás de Donald Trump (presidente norte-americano), e a China não foi complacente nos últimos dias. Mostrou suas armas, que não são poucas, e deixou o câmbio desvalorizar;, explicou o economista-chefe do Banco Daycoval, Rafael Cardoso. Ele lembrou que há um movimento de queda nos juros no mundo, que está pressionando os ativos de países emergentes, com maior risco.
Não à toa, apenas no último dia 5, quando a China desvalorizou fortemente o yuane, investidores estrangeiros tiraram R$ 2,3 bilhões da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), a maior fuga desde 3 de janeiro. ;Os ativos brasileiros já estão muito valorizados e, como o câmbio está bem volátil, o investidor estrangeiro que não quer correr risco sai. Já os nacionais estão tão anestesiados com o otimismo em relação às reformas e à queda dos juros que ignoram as declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro;, disse um operador do mercado.
Uma semana depois de o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) e do BC brasileiro cortarem os juros, ontem, foi a vez de Índia, Nova Zelândia e Tailândia também reduzirem suas taxas básicas como forma de tentar dar algum impulso econômico diante dessa perspectiva de desaceleração global. ;Com a perspectiva de que o mundo vai crescer menos, os juros estão caindo, e, quando o juro cai por conta de um fenômeno de risco, essa queda faz com que os ativos de países emergentes e suas moedas também se desvalorizem;, detalhou Cardoso.
Essa confusão gerada pela nova guerra comercial entre Trump e os chineses deixou o mercado em clima de cautela. Os índices das bolsas da Europa e dos EUA recuaram pela manhã, mas ao fim da tarde recuperaram parte da queda, após Trump ir às redes sociais para criticar o Fed e afirmar que pretende fazer um acordo com o país asiático. Em Nova York, a Dow Jones escorregou 0,09%. No Brasil, o Ibovespa, principal indicador da B3, chegou a cair 2%, mas encerrou com leve alta de 0,61%, a 102.782 pontos. ;Riscos externos aumentaram. No Brasil, o avanço da votação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados ajudou a amenizar esse risco. Mas não há como o real não se desvalorizar nesse ambiente de incertezas;, afirmou a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Marzola Zara. Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho, o Brasil poderá ser beneficiado com essa nova crise entre EUA e China. ;Se o governo continuar avançando nas reformas, o impacto sobre o câmbio será menor e isso servirá de amortecedor para a confusão no mercado externo e o BC continuará reduzindo os juros;, apostou.