Hamilton Ferrari
postado em 10/08/2019 07:00
Responsável por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 72% dos empregos formais do país, o setor de serviços caiu 1% em junho, na comparação com o mês anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda se soma à coleção de resultados negativos que a economia brasileira obteve em 2019. Com isso, há grande probabilidade de o país ter voltado ao quadro de recessão técnica, quando há recuo na atividade econômica por dois trimestres seguidos.O indicador do volume de serviços era o último que faltava para completar os dados setoriais do segundo trimestre deste ano. No primeiro, a economia brasileira se retraiu 0,2% e, pelo que acreditam analistas, uma taxa negativa deve se repetir entre abril e junho. O economista Alex Agostini, analista da Austin Rating, afirmou que o país tem dificuldades de se aquecer economicamente, mesmo com o avanço de medidas importantes, como a reforma da Previdência.
;Infelizmente, nós estamos projetando uma queda de 0,32% no PIB do segundo trimestre, e o país voltará para o quadro de recessão técnica. Nossos indicadores não mostraram melhora. Pelo contrário, diversos índices estão ruins e continuam se deteriorando;, destacou Agostini.
Otimista, o mercado tinha uma expectativa no início do ano de que o setor produtivo teria um choque de confiança com a mudança de governo e viés na política econômica. Tanto que os indicadores de confiança aumentaram no começo de 2019, os dados da economia real, entretanto, permaneceram estagnados. O setor de serviços, por exemplo, cresceu apenas 0,6% no primeiro semestre do ano. Por conta disso, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou de 1,6% para 1,3% a projeção de crescimento do setor para este ano.
Para a entidade, a recuperação tem sido mais lenta do que o esperado. Atualmente, o volume mensal de receitas de serviços ainda se encontra em 12,8%, abaixo do pico da atividade ocorrido em novembro de 2014.
As vendas do varejo ampliado, que consideram o comércio de veículos, aumentaram 3,2% nos primeiros seis meses. Desconsiderando os números do ramo automobilístico, que é um dos poucos mercados que têm reagido bem, no entanto, o setor cresceu apenas 0,6%. O economista Flavio Serrano, do Banco Haitong, explicou que há um quadro geral de pouca demanda no país. ;O único que destoou do restante da economia foi a venda de veículos, que cresceu 10% no primeiro semestre, puxando o varejo para um resultado positivo. Mas o que nós vemos é que o setor tem demonstrado um ritmo de recuperação ainda muito fraco;, avalia.
Viés de baixa
Os dados mais desanimadores são da indústria, que tombou 1,6% no primeiro semestre do ano. Para analistas, a sensação é de que, até então, o ano foi perdido. ;Os primeiros seis meses foram bastante decepcionantes. Tanto é que nós revisamos as projeções do PIB de 2019 diversas vezes, passando de um crescimento de 3% para algo em torno de 1%, e em viés de baixa;, afirmou Agostini.Considerado uma prévia do PIB, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,47% em abril e avançou 0,54% em maio, ambos os resultados levando em comparação o mês anterior. A autoridade monetária ainda não divulgou a taxa de junho, mas analistas argumentam que o indicador, até então, ficou no zero a zero, e que a queda de 1% do setor de serviços no último mês do segundo trimestre deve puxar a atividade econômica para baixo.
O economista-chefe do Necton Investimentos, André Perfeito, que tem uma das projeções mais pessimistas do mercado, acredita que o PIB do segundo trimestre caiu 0,2%. Também ressalta que o país não conseguirá manter um bom desempenho pelo resto do ano. ;Assumindo que cresceremos 0,5% no terceiro trimestre e depois 0,6% no quarto trimestre, que são hipóteses bastante otimistas, isso implica dizer que o PIB de 2019 será de 0,42%;, destacou.
Endividamento
A conta do analista já leva em consideração a liberação dos saques dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Programa de Integração Social (PIS), além da redução dos juros feita pelo Banco Central (BC) para estimular a economia. A taxa básica Selic estava em 6,5% ao ano, considerado o menor patamar da história e, mesmo assim, a economia não reagiu como o esperado. O desemprego elevado e o endividamento das famílias ainda limitam o consumo e o aquecimento da economia.O Comitê de Política Monetária (Copom) prevê que haverá uma recuperação mais forte da economia à frente, com a concretização das reformas. Patrícia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos, afirmou, porém, que os indicadores da economia real não sugerem melhora no curto prazo. ;É uma sucessão de números de atividade que frustram expectativas. Há uma melhora de percepção em relação à atividade nos índices de confiança, mas que não impactou a economia real;, afirmou. ;Mesmo com a liberação dos saques do FGTS e PIS, estamos menos otimistas com estes estímulos. Só reforça que o BC terá que continuar a reduzir os juros para estimular ainda mais a economia;, completou.