De acordo com o levantamento, o número de oportunidades para condutores de processos robotizados terá a maior taxa de aumento no período: 22,4%, bem acima do crescimento médio projetado para as ocupações industriais como um todo, de 8,5%. A previsão leva em conta as mudanças tecnológicas e a automação de processos de produção no setor.
A maior quantidade de vagas, no entanto, será para instaladores e reparadores de linhas e cabos elétricos, telefônicos e de comunicação de dados. O estudo estima que serão abertas 14.367 oportunidades para esses profissionais de 2019 a 2023, como reflexo do uso crescente de tecnologias de informação e comunicação.
O diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi diz que a elaboração do mapa é uma tradição na entidade. ;A ideia é identificar as tendências e as competências técnicas e socioemocionais mais requisitadas pela indústria. É importante saber onde estão o emprego e as oportunidades;, explica.
As áreas que mais vão demandar formação profissional são as chamadas ;transversais;. De acordo com o coordenador do curso de segurança da informação do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Francisco Marcelo Lima, a transversalidade é uma formação que ;perpassa os conhecimentos mais gerais, e, dessa forma, prepara profissionais com diferentes tipos de visão voltados para a tecnologia;.
Lima observa que a maior amplitude de conhecimentos permite ao aluno desenvolver e avaliar a qualidade dos processos e procedimentos dos sistemas, além ganhar conhecimento sobre infraestruturas de rede e protocolos. Ele ressalta que o profissional do futuro precisa ter uma bagagem teórica coesa, mas, ao mesmo tempo, saber exercer as atividades.
O número de empregos criados para as ocupações de base tecnológica ainda é baixo em relação ao total de empregados no Brasil, mas o crescimento acelerado mostra que elas são a tendência no mercado de trabalho. Bruno Freire e Silva, professor de processo do trabalho da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e membro do Conselho de Relações do Trabalho da Fiesp, reforça que as profissões serão cada vez mais influenciadas pelas novas tecnologias, mídias sociais e plataformas digitais.
;Há muita preocupação com desemprego em razão de muitas funções, atualmente, serem desenvolvidas por máquinas e por inteligência artificial. A tecnologia vai alterar as relações de trabalho, com muito home office e novas formas de subordinação. As pessoas tenderão a ser mais empreendedoras para poder sobreviver;, afirma Silva.
Sementinha
Apaixonado por carros, o estudante do Senai Pedro Henrique Sousa, 31 anos, acredita que o conhecimento básico de funcionamento de sistemas é primordial: ;A partir disso, você tem base suficiente para acompanhar o desenvolvimento da tecnologia;, diz.Sousa está se formando como técnico de manutenção automotiva. No início, ele pretendia apenas apender a fazer a manutenção do automóvel que havia comprado e dos carros de alguns amigos. O curso, porém, mudou completamente a visão dele, que, agora, quer abrir um negócio e se especializar em gerenciamento e diagnóstico.
;Esse curso plantou uma sementinha em mim;, conta. ;Como os carros estão evoluindo rapidamente, acredito que quem se especializar vai sair na frente. Há 20 anos, quando veio a injeção eletrônica, as pessoas que estavam estudando carburadores ficaram pra trás.;
O técnico de planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Aguinaldo Nogueira detecta dois problemas no processo de oferta e formação de mão de obra no Brasil. O primeiro é que a indústria, devido à crise, ainda não consegue investir efetivamente nas novas tecnologias de uma forma ampla. ;É preciso um esforço de inovação no processo de produção;, observa.
O segundo problema é que as empresas enfrentarão uma formação de mão de obra com uma abordagem muito ampla e pouco ambiciosa. Com o tempo, explica, elas terão de criar programas de treinamento e de qualificação profissional que atendam efetivamente às suas necessidades.
*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo