Economia

Cenário externo agita o mercado; dólar bate em R$ 4,04

Indicadores de crescimento ruim na China e na Zona do Euro e perspectiva de recessão nos EUA derrubam cotação de moedas no mundo todo. Real foi a segunda que mais se desvalorizou ante a norte-americana. Banco Central venderá divisas para conter alta

Thaís Moura*, Hamilton Ferrari
postado em 15/08/2019 06:00
Indicadores de crescimento ruim na China e na Zona do Euro e perspectiva de recessão nos EUA derrubam cotação de moedas no mundo todo. Real foi a segunda que mais se desvalorizou ante a norte-americana. Banco Central venderá divisas para conter altaEm mais um dia de incertezas no mercado financeiro, o dólar disparou e fechou cotado a R$ 4,04, com alta de 1,79%. Entre as moedas dos países emergentes, o real foi a segunda que mais se desvalorizou, perdendo 2,10% do valor. Ficou atrás apenas do peso da Argentina, que passa por uma grave crise. Há o temor de que o mundo pode entrar em recessão, já que a guerra comercial entre China e Estados Unidos prejudica o resultado da atividade econômica em vários países.

As alfinetadas entre os dois maiores polos econômicos do planeta têm custado caro às nações, a começar pelo país asiático, que divulgou, nesta quarta-feira (14/8), que a produção industrial de julho teve a menor taxa de crescimento em 17 anos e as vendas varejistas também desaceleraram. Já a economia da Alemanha contraiu 0,1% no segundo trimestre do ano, em comparação com os três meses anteriores.

No mesmo período de comparação, o Produto Interno Bruto (PIB) da Zona do Euro registrou leve crescimento de apenas 0,2%. Analistas afirmam que, de forma generalizada, os indicadores de atividade econômica no mundo têm demonstrado desempenho ruim. A economia dos Estados Unidos também corre o risco de recessão, o que tem irritado o presidente Donald Trump, que busca a reeleição.

Pelo Twitter, ele atacou o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, ao chamá-lo de ;sem noção;. Além disso, disse que o problema não é a China, mas, sim, a política norte-americana de definição dos juros. Na avaliação de Trump, o Fed subiu demasiadamente as taxas no passado e, para estimular a economia agora, demora para cortar.

Isso teve reflexo imediato nos principais índices da Bolsa de Nova York. O Dow Jones encerrou o dia com queda de 3,05% e o Nasdaq, de 3,02%. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), despencou 2,94%, para 100.258 pontos.

Atuação

Pela primeira vez em 10 anos, o Banco Central (BC) optou por fazer venda à vista de dólar das reservas internacionais. Entre 21 e 29 de agosto, ofertará US$ 550 milhões de forma simultânea a contratos de swap cambial reverso, que é usado para segurar o real em patamares mais altos. Neste caso, o BC oferece aos compradores os juros do período da operação, enquanto que o investidor paga à autoridade monetária a oscilação cambial do período.

Como justificativa, o BC informou que as medidas não vão afetar a posição cambial líquida, e que a atuação simultânea visa trocar, por dólar à vista, um total de US$ 3,8445 bilhões em swaps cambiais tradicionais que expiram em 1; de outubro e não foram rolados.

De acordo com analistas, independentemente do anúncio do BC, a cotação do dólar deve se manter alta. Isso porque é a primeira vez, nos últimos tempos, que a moeda passa de R$ 4 no Brasil sobre pressões exclusivamente internacionais. Analistas afirmam que é difícil vislumbrar um fim para as tensões, e que o câmbio deve ficar próximo desse patamar, podendo subir para R$ 4,10 em caso de agravamento.

O economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, explica que a mudança nas moedas é conjuntural e independe de o Brasil ter problema cambial. ;Nossos balanços de transações correntes estão adequados, mas há uma conjuntura internacional de aversão ao risco, que afeta, principalmente, as moedas emergentes. A tensão entre China e EUA começou sendo comercial, virou tarifária e agora é de guerra cambial, com alterações de juros para mexer em preços de moeda. Essa ebulição toda faz o mundo ser defensivo;, disse.

*Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira

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