postado em 15/08/2019 04:05
São Paulo ; No Brasil, segundo estimativa do Sebrae, são abertos por dia cerca de 7 mil salões de beleza. O país tem em torno de 600 mil negócios desse tipo formalizados. O cuidado com a aparência, porém, também é visto dentro de casa. Os brasileiros estão entre os maiores consumidores de itens de cuidados pessoais, como xampus e cremes para os cabelos, atrás apenas dos americanos e japoneses. Esse conjunto de informações dá uma boa ideia da importância do setor para a economia e qual é a razão de surgirem tantos negócios.
O crescimento constante de salões de beleza, muitos deles abertos de forma quase improvisada, na garagem de casa, para garantir uma fonte de renda a quem está fora do mercado de trabalho, traz como efeito a falta de profissionalização na gestão do negócio. E, se num dia, há dois ou três estabelecimentos competindo pelos cabelos, unhas e pele da clientela em um mesmo quarteirão, no mês seguinte, o cenário pode ser outro ; um empreendedor pode ter ficado pelo caminho.
Nascida em 2013 com o nome Salão Vip e a oferta de serviços de agendamento por meio de aplicativo, a fintech Avec tem avançado no setor por meio da oferta de novas soluções. A empresa passou a se dedicar também ao desenvolvimento de soluções de gestão e pagamento, incluindo a oferta de maquininhas de cobrança (no portfólio desde o ano passado) e o controle de estoque dos salões. A empresa tem ainda um marketplace para a venda de produtos de beleza e uma divisão de negócios que organiza o evento Avec Beauty Week, dedicado à venda de pacotes promocionais em salões.
A Avec tem hoje, em sua base, em torno de 40 mil clientes no B2B (salões, esmalterias, clínicas de estética e barbearias, por exemplo), que contam com cerca de 100 mil profissionais e 700 mil clientes no B2C (pessoa física), que usam o app de agendamento de horário ou compram produtos. São salões de diferentes portes, que usam desde o sistema de administração das contas até softwares que calculam e fazem o pagamento das comissões dos funcionários e prestadores de serviço.
A folha de pagamento costuma ser uma das partes que exige mais dedicação dos empreendedores dessa área. Isso porque muitos salões trabalham por sistema de comissionamento de profissionais, como manicure e cabeleireiro. Na hora de fazer os acertos, as contas podem não fechar. A tecnologia ajuda a eliminar erros e ganhar tempo.
Banco dos salões
Apesar de ser forte na gestão de negócios, com o tempo, a Avec acabou ganhando um DNA ligado a finanças e, mais recentemente, começa a ser desenhada internamente para ser uma espécie de ;banco; dos salões. Parte dessa nova vocação veio de Henrique Loyola, ex-sócio da XP Investimentos.
O sócio, que entrou no negócio em 2015, não esconde o desejo de avançar na bancarização por meio de novos serviços. Também fazem parte da sociedade Victor Sorroche, Fernanda Greggio, Feres Baladi e a gestora de recursos Lanx Capital, que tem participação em negócios como a WeWork e o RB Capital. Até agora, a Avec recebeu cerca de R$ 18,5 milhões de investimentos ; a maior rodada, de R$ 14 milhões, foi feita no ano passado.
Os estabelecimentos pagam uma assinatura mensal a partir de R$ 69,90 pela plataforma, segundo o número de profissionais. Apesar de a economia brasileira não ajudar, a fintech tem crescido a uma taxa média de 300% nos últimos anos.
Em 2019, a previsão dos sócios é chegar ao faturamento de R$ 35 milhões, bem acima dos R$ 8 milhões obtidos em 2018. A receita vem dos serviços de SaaS (Software as a Service), dos ganhos nas transações de meios de pagamentos e das vendas no marketplace.
Um empurrão para esse crescimento nos últimos anos veio das aquisições. Até agora, foram compradas as concorrentes Beleza Soft, a Hair Solutions, a Coiffeur, a Box Check-In e a CrossX. Além de agregar a base tecnológica e de clientes dos competidores, a Avec tem apostado no aumento dos serviços. Por exemplo, ao desenvolver aplicativos personalizados para o agendamento de horários para os salões, mas a partir da sua própria base.
;Queremos estar em todos os lugares e ser o iFood da beleza;, diz Bruna Castro, diretora da Avec e ex-executiva do aplicativo de pedido de refeições. ;Nossa missão é fazer com que o gestor de beleza tenha mais tempo para cuidar do negócio e que aumente seus ganhos.;
Com o agendamento on-line, por exemplo, os estabelecimentos conseguem ter uma diminuição nas faltas de clientes. Além disso, cai a necessidade em manter o mesmo número de funcionários para fazer a marcação de serviços por telefone. Esses profissionais podem ser deslocados para novas funções e aumentar a produtividade do local.
Ao decidir ser uma espécie de faz-tudo no setor de beleza e bem-estar, a Avec mira o interessante crescente dos brasileiros pelos cuidados pessoais. Como lembra Bruna, gasta-se mais nessa área do que com educação no Brasil.
A executiva explica que não basta oferecer soluções tecnológicas e financeiras. Por isso, a fintech está começando a investir também em educação. Além de palestras on-line para os clientes, sobre temas do dia a dia de um salão, a Avec se prepara para lançar um braço de negócios com a venda de cursos sobre gestão, a partir de setembro, por meio de ensino a distância (EAD). ;Percebemos que esse tipo de conhecimento, que deveria fazer parte da rotina desses empreendimentos, está ausente, faz falta e muita gente perde dinheiro. Por isso, decidimos levar educação para esse público;, afirma a diretora.
Franquia
Para fazer a captação de clientes PJ e sustentar esse ritmo de crescimento, a fintech aderiu ao sistema de franchising. Hoje já são 42 franquias, distribuídas por 17 estados.
São esses franqueados que visitam os salões e oferecem as soluções da fintech, além de consultoria técnica para o empreendimento. A remuneração vem da venda de produtos e de um percentual da receita gerada pelo cliente. Até o fim do ano, apesar de faltarem poucos meses, o plano é chegar a 140 unidades.
Além de ter muito espaço para avançar no Brasil, não só pela base instalada de estabelecimentos de beleza, mas pela abertura de novos negócios, a Avec tem planos para expandir sua operação para quatro países: Colômbia, México, Portugal e Espanha. Os primeiros estudos de mercado já começaram a ser feitos. Os dois países do continente americano devem ser prioridade, deixando os europeus para uma etapa seguinte de internacionalização da marca.