postado em 16/08/2019 04:05
Com 12,76 milhões desempregados, o Brasil tem um batalhão de 3,35 milhões de pessoas nessa condição há, pelo menos, dois anos. Em um ano, houve acréscimo de quase 200 mil brasileiros à espera de uma vaga nesse intervalo de tempo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação afeta, principalmente, pretos, pardos e mulheres.
Mesmo o grupo fazendo parte da maioria da população, é, historicamente, o mais penalizado no mercado de trabalho. Em 2012, quando o IBGE começou a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), o índice de desemprego era de 9,5%, no caso dos pretos, 8,7%, dos pardos e 6,2%, dos brancos. No último levantamento, as taxas subiram para 14,5%, 14% e 9,5%, respectivamente.
Do ponto de vista de gênero, o percentual de mulheres desempregadas é maior que o de homens. No segundo trimestre, atingiu 14,1%, enquanto o de homens marcou 10,3%. Taxas mais elevadas entre as mulheres foram observadas nas grandes regiões pesquisadas pelo instituto.
A pesquisa mostra, ainda, que o acesso ao mercado de trabalho é limitado, tanto é que chegou a 4,9 milhões o número de desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar emprego. De acordo com o IBGE, 40% dos desocupados demoram um ano ou mais para encontrar uma vaga.
Alguns, porém, não querem desistir. Sérgio Luiz da Costa, 43 anos, procura emprego há mais de um ano. Ele vai todos os dias à Agência do Trabalhador na esperança de encontrar uma ocupação. ;Estou aqui todo dia, minhas filhas estudam aqui no Plano, e eu as deixo lá, antes de vir para cá. Quando dá umas 17h30 eu tenho que descer para pegá-las;, explicou. Como vigilante e agente de portaria, ele considera que, além da falta de oportunidades, a concorrência também é grande. ;E olha que eu tenho mais de 12 anos de experiência. Tenho que correr atrás, só a mulher trabalhando não tem como;, disse.
Qualquer coisa
Luciano Borges, 23, é outro que está há quase dois anos distribuindo currículos. ;Entrego para qualquer trabalho, mesmo sem ter experiência na área. Infelizmente, tenho que abrir mão do que gosto de fazer para procurar qualquer coisa por conta da grana. E assim nós vamos correndo atrás, e olhando na internet, apesar de os sites não ajudarem muito;, disse.
Para o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), os dados do IBGE refletem a inércia do mercado de trabalho, ancorado numa taxa de crescimento baixa do país. ;O resultado do primeiro semestre está muito parecido com o do ano passado, refletindo uma estabilidade. O que mais preocupa não é nem tanto o desemprego, mas a subutilização e o número de desalentados, que vêm batendo recorde trimestre a trimestre;, afirmou.
Um estudo do economista Marcelo Neri, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que a desigualdade aumenta há 17 trimestres seguidos. Nem mesmo em 1989, pico histórico de desigualdade brasileira, houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos. ;Apesar disso, no segundo trimestre, a alta da desigualdade foi a menor nos últimos quatro anos;, argumentou. (RG)