Economia

Prestação da casa própria à inflação é um risco, afirmam analistas

Especialistas alertam que correção pela inflação é interessante quando a carestia está baixa, mas, como crédito habitacional é de longo prazo, o fato de o contrato ser pós-fixado tira a previsibilidade do valor a ser pago mensalmente

Thaís Moura*, Gabriel Pinheiro*
postado em 22/08/2019 06:00
Com índice de preços baixos, redução da prestação pode chegar a 51%O lançamento de uma linha de crédito habitacional atrelada à inflação preocupa especialistas. O fato de a carestia estar sob controle, atualmente, no país torna atraente a modalidade de empréstimo, mas representa um risco, já que os financiamentos são de longo prazo e pós-fixados. O professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Ricardo Rocha alerta para o risco de contrair uma dívida longa que varie pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). ;Em 30 anos, o mundo muda, o Brasil deve mudar muito. Pode haver crises ou mudanças muito profundas na economia nacional, com grande chance de pesar no bolso. É um risco;, afirmou.

Para Rocha, é preciso avaliar com cuidado, pois pode ser que uma taxa de juros do crédito prefixada seja mais segura para o comprador. ;No fim do mês, a pessoa sabe exatamente quanto custa a sua moradia.; Ao contrário dos contratos pré-fixados, no pós não é informado o valor dos juros a serem pagos na assinatura dos contratos. No caso da linha oferecida pela Caixa Econômica Federal, a variação será pelo IPCA.

O CEO da Beiramar Imóveis, Pedro Fernandes, no entanto, vê pontos positivos na nova linha. ;A taxa pós-fixada com uma inflação mais baixa diminui o valor da parcela e possibilita aos bancos oferecer mais crédito;, disse. Na opinião de Fernandes, essa linha pode ser uma alternativa para quem já tem imóvel e pretende fazer um upgrade. ;O perfil de cliente que poderia aderir é aquele que já é proprietário e quer imóveis maiores, com um crédito a curto prazo, com menos juros;, explicou.

Na terça-feira, a Caixa lançou uma modalidade de crédito habitacional atrelada ao IPCA, que valerá para imóveis residenciais enquadrados no Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). As prestações vão variar de acordo com a inflação mais taxa de juros mínima de 2,95% e máxima de 4,95% ao ano.

Hoje, o financiamento imobiliário é regulado por uma taxa fixa que varia de 8,5% a 9,75% mais a taxa referencial (TR), que está zerada. ;Na prática, hoje, em um imóvel de R$ 300 mil, a parcela começa em um valor de, aproximadamente, R$ 3,2 mil. Na nova modalidade de crédito, fica na faixa de R$ 1,5 mil mais a correção do IPCA, uma queda de 51%. Isso possibilitará a mais pessoas a realização do sonho da casa própria;, concluiu o CEO da Beiramar.

Além da Caixa, o Banco do Brasil anunciou mudanças nas taxas de juros do crédito imobiliário, que serão válidas para as linhas do SFH e para a Carteira Hipotecária (CH). As operações de 60 meses terão taxa a partir de 7,99% ao ano mais a TR. Os financiamentos de 359 a 418 meses cobrarão juros a partir de 8,45% ao ano mais TR.

* Estagiários sob supervisão de Rozane Oliveira

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