Agência Estado
postado em 24/08/2019 12:10
O grupo XP está ingressando no disputado segmento de crédito a empresas médias. Mas não de qualquer jeito: quer usar o mesmo conceito de "shopping", que a levou a se tornar a maior plataforma de investimentos para pessoas físicas do País. A intenção é ser líder em oferta de produtos também para as pessoas jurídicas.
Chamada de XP Empresas, a nova área é comandada por Rodrigo Moreira, que trabalhou nos últimos 20 anos com crédito para empresas de médio porte no Itaú Unibanco. A instituição adquiriu 49% do grupo XP há dois anos.
Na casa nova, sua missão será criar um marketplace, plataforma na qual se encontrarão empresas que precisam de dinheiro com quem está disposto a emprestar. Assim, companhias com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 750 milhões ao ano terão acesso a recursos oferecidos por gestores de investimento que desejam colocar crédito em suas carteiras para melhorar o desempenho.
"Temos a ambição de democratizar o acesso a crédito e competir com os grandes bancos, por meio da desintermediação", disse Moreira ao Estadão/Broadcast, plataforma de notícias em tempo real do Grupo Estado. "Do mesmo modo feito na plataforma de investimento para pessoas físicas e é o principal negócio da XP."
Por isso, a operação da XP Empresas não está vinculada, inicialmente, à atividade de banco que o grupo estrutura. A operação bancária, no momento, está voltada a linhas de crédito para pessoas físicas, que poderão oferecer seus investimentos como garantia para conseguir melhores taxas.
Mais à frente, no entanto, a intenção é fazer com que a XP Empresas dialogue com o Banco XP. Já no primeiro semestre de 2020, por exemplo, está prevista a oferta de alguns serviços, como seguros, prestação de fiança e garantias e serviços de câmbio, alguns dependentes de autorização do Banco Central.
"A pessoa jurídica sempre foi uma fronteira difícil para a XP, porque não é possível abordá-las do ponto de vista de investimento, sem crédito", disse.
Segundo ele, o mercado de crédito para as empresas de médio porte soma mais de R$ 100 bilhões. Por outro lado, os fundos de investimento têm menos de 1% de crédito em seus portfólios, contra 75% nos Estados Unidos e 20% na Europa.
Na ponta dos investimentos, a XP quer oferecer às companhias para opções deem rentabilidade ao caixa, sem a necessidade de deixar o dinheiro preso. Muitas empresas usam esses recursos para girar suas operações e a ideia é colocar inteligência de investimento. "Nem todo o caixa precisa de liquidez imediata", diz.
Os investimentos poderão ser usados também como garantia de empréstimos, barateando o custo nessas operações.
Uma terceira vertente de atuação da XP Empresas será a estruturação de operações no mercado de capitais para esse grupo de empresas.
O economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, Mauricio Godói, afirma que a ofensiva da XP pode modificar o mercado de crédito para as empresas, mais pela capacidade de popularização do que pelo modelo que está utilizando para viabilizar o crédito. Segundo Godói, bancos e especialmente as fintechs já oferecem empréstimos às empresas com crédito que utiliza recursos de terceiros. "O ponto positivo da XP, e que deve ser um diferencial, é sua capacidade de massificação, por conta de sua rede de contatos em todo o Brasil", afirmou Godói.
Segundo ele, haverá crescimento na demanda por crédito das empresas de médio porte acima da média, em termos porcentuais, em relação às grandes companhias a partir do primeiro trimestre do ano que vem, quando a economia mostrar mais força. "Esse segmento atua na parte intermediária da cadeia produtiva e, portanto, tem demanda por crédito mais intensa", diz.
Mecanismo
As primeiras operações de crédito começam a rodar dentro de uma plataforma ainda restrita, com 50 correspondentes bancários que buscarão empresas que precisam de crédito junto a bancos de seu relacionamento. Esses empréstimos se tornarão certificados de crédito bancário (CCBs), transformados posteriormente em cotas de Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) e repassados a gestores da XP Asset para distribuição junto a investidores institucionais. Esses empréstimos não serão, portanto, oferecidos às pessoas físicas clientes da XP.
A avaliação de risco do crédito estará, em última instância, com o gestor que ficará com os certificados emitidos pela empresa que pega o empréstimo. Em caso de inadimplência, a perda recai sobre os cotistas da carteira gerida pelo gestor - exatamente como acontece com qualquer fundo de crédito privado. Essa operação, portanto, não tem a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Entretanto, a XP afirma que poderá atrair empresas para sua nova frente de negócios por meio de muitos dos agentes distribuídos em 150 cidades brasileiras e que têm relacionamento ou até mesmo um negócio paralelo de correspondente bancário. A XP tem uma rede de 750 agentes autônomos. A expectativa da casa é alcançar 150 correspondentes bancários associados a XP Empresas até o fim do ano.
O plano de Moreira é dar escala à XP Empresas e alcançar a configuração de marketplace a partir do ano que vem, abrindo o acesso aos créditos gerados na casa para outras gestoras além da XP Asset. "À medida que esse ambiente estiver estabelecido em nossa plataforma, a demanda dos gestores pelo crédito tende a reduzir as taxas dos empréstimos para as empresas", afirmou Moreira. Nas operações de crédito, o ganho da XP virá de uma margem do spread, a diferença entre o custo do dinheiro captado em relação ao cobrado das companhias nos empréstimos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.