Catarina Loiola*
postado em 26/08/2019 15:07
O ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser Pereira, e o professor da FGV, Fernando de Holanda Barbosa, debateram os motivos da estagnação da economia brasileira e a divisão dos grupos econômicos entre neopopulistas, economia de privilégios e economia social de mercado, na Universidade de Brasília. "Estamos a 40 anos semiestagnados, a esquerda não sabe o que fazer, a direita não saber o que fazer. Ou pensamos em algo a ser feito, ou então o país ficará semiestagnado por mais 40 anos", ressalta Bresser. Segundo Holanda, a solução para o crescimento brasileiro é o fim da economia de privilégios. O debate ocorreu durante o seminário "Em busca do desenvolvimento perdido", realizado pelo Conselho Regional de Economia, ontem (26/8).
Baseado no cálculo matemático Fundamento do Crescimento, constituído pelos fatores instituição, cultura e geografia, Fernando de Holanda afirmou que os juros não são o problema, sendo que, na verdade, as crises fiscais no Brasil são geradas pela economia de privilégios, chamados também de oportunistas, e pelo fato das pessoas não se sentirem responsabilizadas pela falência do Estado. "Esse grupo não possui ideologia e busca sempre tirar renda do Estado", destaca. "O atual presidente é um representante da classe de privilégios das Forças Armadas. Vai chegar no Bolsonaro e falar ;você é um cara dos privilégios;. Ele vai te responder o que?".
Para Holanda, o problema está na cultura do Brasil, que é regido pela Ética de Macunaíma, caracterizado pelo "herói sem caráter" e pelo candidato "rouba mas faz". Segundo o professor, a mudança na cultura acontecerá na medida em que ocorrer a blindagem fiscal do setor público, ausência de privilégios com a lei valendo para todos e o aumento da taxa de poupança com o limite inferior de 25% PIB.
Assim como no livro de sua autoria "Em busca do desenvolvimento perdido: um projeto novo-desenvolvimentista para o Brasil", o ex-ministro da fazenda, explicitou que a estagnação da economia brasileira ocorre devido ao baixo crescimento e na queda dos investimentos públicos e privados. Entre 1950 e 1980, a renda peer capita brasileira crescia 4,5% ano a ano, registrando um crescimento elevado. Em 1980, o investimento público caiu de 7,8% para 3,2% PIB, pois, o Brasil entrou em crise fiscal quando as empresas estatais que foram usadas para endividamento externo e para controle da inflação quebraram e tiveram que ser socorridas pelo Estado. A partir de 2010, a carga tributária aumentou de 21% para 33% do PIB, mas a capacidade de investimento não foi superada devido aos gastos injustificáveis com juros pagos aos rentistas, salários e aposentadorias pagos aos servidores e gastos justificáveis, com transferência aos pobres e gastos em educação e saúde.
* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca