Economia

Ampliando mercados: fast-foods inovam para atrair veganos

Depois de McDonald's e Burger King oferecerem hambúrgueres alternativos, KFC lança, nos EUA, carne de frango vegetal. Redução do consumo de proteína animal é tendência mundial

Jaqueline Mendes
postado em 28/08/2019 06:00
Plano da KFC é colocar no cardápio nuggets e asas desossadas de frango na versão vegetalSão Paulo ; ;Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim;. Um dos mais memoráveis jingles da propaganda brasileira ajudou, durante décadas, a popularizar no país a maior rede de fast-food do mundo, o McDonald;s. Se fosse hoje, a história provavelmente seria outra.

McDonald;s, Burger King e KFC estão ampliando suas apostas em carnes vegetais ou criadas em laboratório. Na Alemanha e Suécia, a cadeia americana já oferece o McVegan, feito de soja, trigo, pimentão, beterraba, alho e outros condimentos vegetais. Nenhum ingrediente do sanduíche leva proteína de origem animal.

;Os consumidores mais jovens puxam uma tendência de conhecer melhor o que consomem e, cada vez mais, demandam mais transparência das empresas;, disse a chefe de pesquisa de lifestyle na Euromonitor International, Alison Angus. ;Com hábitos de consumo mais saudáveis e maior preocupação com o impacto da pecuária no meio ambiente, a tendência é de aumentar cada vez mais a procura por esse tipo de alimento.;

Além do McDonald;s, outras grandes empresas, obviamente, sabem disso. Nesta terça-feira (27/8), a rede de restaurantes KFC começou a oferecer, nos Estados Unidos, uma versão vegetal de carne de frango, em parceria com a startup californiana Beyond Meat.

Na estreia, a novidade será oferecida de graça, na cidade de Atlanta, para os consumidores experimentarem. Mas o plano é colocar no cardápio nuggets e asas desossadas com a mesma proposta. A empresa, porém, não revelou do que é feito o frango vegetal.

Segundo o CEO Ethan Brown, a estratégia é diversificar o portfólio, alinhando a empresa às novas demandas dos clientes. ;Estamos bem avançados nos testes para o desenvolvimento de um bacon vegetal;, afirmou o executivo, à época da abertura de capital da companhia, em maio.

Nos primeiros dias do IPO, as ações da Beyond Meat se valorizaram 163%. Em linha com essas transformações, o Burger King anunciou que vai testar, em algumas lanchonetes, o ;Impossible Burger; (;hambúrguer impossível;, na tradução do inglês) na composição do Whopper, o sanduíche mais conhecido da marca. Os testes vão ocorrer em quase 60 unidades do Burger King, na cidade de Saint Louis, nos Estados Unidos.

As carnes vegetais ou desenvolvidas em laboratório têm ganhado adeptos e atraído investimentos, inclusive de Bill Gates, fundador da Microsoft, e empresas como o Google. Eles estão ajudando a financiar pesquisas que possibilitem a criação de alternativas para o consumo de carne.

Sem volta

No caso do Burger King, a Impossible já está à venda em 1 mil lanchonetes no mercado americano. Por mês, são vendidas mais de 230 toneladas de ;carne;, que demanda três vezes menos água e emite 80% menos CO2 do que a carne comum. Além dos Estados Unidos, a Impossible também está presente em restaurantes do Canadá e de Hong Kong.

O fenômeno parece ser um caminho sem volta, mesmo nos países campeões em consumo de carne, como Brasil e Estados Unidos. No mercado americano, os vegetarianos representavam, em 2015, apenas 3,4% da população. Hoje em dia, são 25% entre o público de 25 a 34 anos. Os Estados Unidos já têm o maior mercado de substitutos da carne animal, que movimenta US$ 700 milhões ao ano.

No Brasil, de acordo com os dados mais recentes do Ibope Inteligência, a porcentagem que se identifica com o vegetarianismo atingiu 14% da população. São 30 milhões de pessoas, o equivalente a três vezes o número de habitantes de Portugal ou a metade da Itália.

No mundo, as vendas de comidas veganas cresceram 10 vezes mais do que o mercado total de alimentos em 12 meses (até junho de 2018), em comparação ao mesmo período do ano anterior. Houve, ainda, uma explosão na venda de leites alternativos, que subiu de US$ 1,5 bilhão para US$ 5 bilhões entre 2011 e 2018.

O que puxa o crescimento é o leite de coco. Os sorvetes sem leite também são outra novidade. A Ben & Jerry;s, marca comprada pela Unilever, tem investido em novos sabores sem a proteína.

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