Thaís Moura*
postado em 05/09/2019 20:36
A quantidade de depósitos na poupança foi superior aos saques em aproximadamente R$ 1,3 bilhão no mês de agosto. Dados divulgados pelo Banco Central nesta quinta-feira (5/9) mostram que as famílias brasileiras voltaram a aplicar recursos na caderneta de poupança, já que em julho, a captação líquida (a diferença entre depósitos e retiradas) foi negativa em R$ 1,6 bilhão. No mês passado, a quantidade depositada e sacada foi de, respectivamente, R$ 203,8 bilhões e R$ 202,5 bilhões. Apenas a poupança rural teve ingresso de R$ 286,4 milhões em agosto.
Com a entrada líquida de R$ 1,316 bilhão e o rendimento de R$ 3,008 bilhões no mês de agosto, o estoque total na caderneta de poupança chegou a R$ 806,387 bilhões. Nos oito primeiros meses do ano, a saída líquida de recursos da poupança foi registrada em cinco: janeiro, fevereiro, abril, maio e julho. Já os depósitos líquidos (isto é, superior às retiradas) ocorreram em março, junho e agosto. Até agora, janeiro foi o mês com maior retirada líquida, superior aos depósitos em R$ 11,232 bilhões. Enquanto isso, junho foi responsável pelos maiores depósitos, que superaram os saques em R$ 2,497 bilhões.
Para o educador financeiro Jônatas Bueno, a taxa básica de juros Selic no menor patamar histórico pode ter a ver com essa "inversão" no mês de agosto, em que os depósitos foram superiores aos saques. "É muito difícil explicar isso porque tem muitas variáveis em jogo, mas podemos inferir algumas tendências. A taxa basica de juros Selic, por exemplo, está no menor patamar histórico, então, como o governo negocia papéis com o mercado, ele (governo) é o grande concorrente dos outros investimentos", esclareceu Bueno.
Segundo o especialista, os investimentos pós-fixados vêm perdendo rentabilidade, e como a poupança é "basicamente fixa", isso pode resultar em mais ações nesta modalidade. "A taxa Selic baixa é uma variável, e a poupança tem componente fixo, porque ela é definida por lei, e a parte variável dela, a Taxa Referencial (TR), está proxima de zero há muito tempo. Ou seja, você tem um componente variando pra baixo (a Selic) e a poupança basicamente fixa. Os rendimentos de todos investimentos pós-fixados, estao perdendo rentabilidade nominal", afirmou.
Porém, para o economista da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques, não há "um fato econômico" específico que justifique o movimento. "Os saques maiores do que os depósitos (diferentemente do que ocorreu em agosto) mostram que as pessoas não conseguem consumir com a renda que tem, e por isso, lançam mão da poupança. Esse mês o movimento foi atípico", constatou Marques. "A poupança aparece quando alguém aumenta a renda ou reduz os gastos, mas a massa salarial não está crescendo."
*Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca