Economia

Alimentos puxam inflação para baixo

IPCA fecha agosto em 0,11%. Em 12 meses, se mantém abaixo da meta: 3,43%. Preços de tomate, batata-inglesa, hortaliças e carnes recuaram. Refeição fora de casa, no entanto, sobe de julho para agosto. Segmento de transportes também contribui para queda

postado em 07/09/2019 04:04
Suellen Sousa leva marmita de casa para comer no trabalho. O tíquete não cobre o valor da refeição

A inflação desacelerou em agosto puxada pela queda nos preços dos alimentos, efeito da sazonalidade dos principais produtos que compõem a mesa dos brasileiros. Na comparação mensal, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,11%, 0,08 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa de julho, de 0,19%. No acumulado do ano, a carestia é de 2,54% e, nos últimos 12 meses, de 3,43%. Em agosto de 2018, no entanto, houve deflação de 0,09%.

As variações negativas mais intensas vieram dos grupos alimentação e bebidas (-0,35%) e transportes (-0,39%), que contribuíram com -0,09 p.p. e -0,07 p.p., respectivamente, no IPCA de agosto. O recuo foi puxado, sobretudo, no segmento de alimentação no domicílio (-0,84%) com contribuição do tomate, com queda de 24,49%. Tradicional vilão da inflação, dependendo do período do ano, o fruto já tinha recuado 11,28% em julho. Os valores da batata-inglesa (-9,11%), das hortaliças e verduras (-6,53%) e das carnes (-0,75%) também encolheram.

Conforme André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a alimentação puxou o índice para baixo em agosto, o que não é nenhuma surpresa. ;É uma questão sazonal. Os preços dos principais produtos alimentícios caem nesse período do ano, porque já maior oferta deles no mercado;, explicou.

Entre as maiores altas, os destaques foram as frutas (2,14%) e a cebola (7,05%). A servidora pública, Suely dos Santos, 50 anos, afirmou que percebeu muita oscilação no preço da cebola. ;Folhagem orgânica sempre é cara e as frutas, com certeza, estão com o valor bem alto no supermercado;, lamentou. Segundo ela, o tomate por muito tempo esteve com preços exorbitantes. ;Agora, baixou, mas nem tanto. Banana e maçã estão bem caras. Eu acabo cortando gastos dentro do mercado para poder conseguir pagar tudo;, afirmou.

Mais caro


A alimentação fora de casa, por sua vez, acelerou de julho (0,15%) para agosto (0,53%) ; influenciada pelas altas na refeição (0,52%) e no lanche (0,47%) ;, item cujos preços haviam recuado no mês anterior (-0,34%). Para fugir dos valores praticados por restaurantes e lanchonetes, a lojista de 30 anos Suellen Sousa tem o costume de levar sempre a comida de casa para almoçar no shopping onde trabalha. Ela contou que os estabelecimentos da praça de alimentação cobram mais caro do que o valor que ela recebe de vale-refeição.

;Um combo com sanduíche, refrigerante e batata frita, que custa R$ 27, não cabe no meu orçamento. Se baixassem os preços dos restaurantes ou aumentassem o nosso vale-refeição seria ótimo;, afirmou. Crislaynne Teixeira, 23, também vendedora, almoça sempre com a amiga Suellen. ;Para nós, vendedores, sempre vale a pena trazer uma marmita de casa;, disse.

Mesmo com preços em alta, a auxiliar administrativa Samira Haddad, 46, contou que almoça fora com a família nos fins de semana. ;Percebemos um aumento considerável, de 50%. O prato que sempre pedíamos passou de R$ 120 para R$ 180;, ressaltou.

O grupo dos transportes contribuiu para a desaceleração da inflação em agosto. Nesse segmento, o maior impacto, de -0,08 p.p., foi das passagens aéreas, que caíram 15,66%, após as altas de 18,90% e 18,63% em junho e julho, respectivamente. ;O tíquete oscila muito e depende, fundamentalmente, de feriados e períodos de férias. Fora disso, cai. E foi o que aconteceu, após as férias do meio do ano;, justificou o economista do Ibre.

Administrados

Os preços administrados tiveram influência em dois grupos importantes do IPCA, combustíveis e habitação, segundo André Braz. No primeiro caso, houve pressão para baixo. A gasolina teve queda de 0,45% e o óleo diesel, de 0,76%, mas os recuos foram bem menores do que no mês anterior, de 2,80% e 1,76%, respectivamente. Já o etanol, cujos preços haviam recuado 3,13% em julho, teve alta de 2,30% em agosto.

No caso da habitação, a pressão foi de alta. O grupo registrou inflação de 1,19%, com impacto no IPCA de agosto de 0,19 p.p., e variação muito próxima à de julho (1,20%). ;Isso se deve, fundamentalmente, ao custo da energia. Tivemos bandeira tarifária vermelha, que começou a vigorar em agosto e segue em setembro;, apontou. O item energia elétrica, que já havia registrado alta de 4,48% no mês anterior, subiu 3,85%, contribuindo com 0,15 p.p. no mês.

O economista alertou, ainda, que pode haver efeito do câmbio na inflação de alguns itens. ;Se reflete, sobretudo, no encarecimento das commodities, como milho, com reflexo em carnes, por conta da ração, soja e trigo, que contamina pães e biscoitos. ;Tanto que os itens onde o câmbio pode atuar vieram com alta, como panificados, aves e ovos;, disse.

Na capital federal, o peso regional da inflação é de 2,80% e o IPCA ficou em 0,08% em agosto, acima da variação de 0,22% em julho. Em Brasília, a carestia acumula 1,97% no ano e, em 12 meses, 3,36%.

Para os próximos meses a expectativa do mercado é de que a inflação relativamente baixa permaneça. ;Para setembro projetamos 0,11% como resultado de deflação em alimentos no domicílio e menor pressão de energia elétrica. Para outubro, esperamos IPCA de 0,13%;, estimou destacou Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset. A consultoria Rosenberg e Associados projeta ;inflação bem-comportada nos próximos meses, orbitando confortavelmente abaixo da meta, o que reflete a elevada ociosidade da economia;, com previsão de IPCA de 3,7% em 2019 e de 3,9% em 2020.

* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira

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