postado em 10/09/2019 04:05
São Paulo ; Presente no Brasil desde 2012, a Amazon, fundada pelo bilionário Jeff Bezos, tem acelerado sua estratégia de expansão no mercado local. Foi assim com o lançamento do serviço de vídeo por demanda e com marketplace no varejo on-line. Agora, a empresa dá um passo ainda maior. Desde o primeiro minuto desta terça-feira, o serviço Prime passou a ser oferecido aos brasileiros.
A direção da empresa decidiu adotar uma política agressiva de preço para a novidade, que vai custar R$ 9,90 por mês. Outra opção é a anuidade de R$ 89 (25% de desconto em relação ao pagamento mensal). Assim como fez em outros mercados, a empresa vai oferecer um período de degustação, de graça, por 30 dias.
Na assinatura brasileira do Amazon Prime, estão incluídos os serviços de streaming de vídeo, que até agora custava R$ 14,90 por mês, o frete grátis e a entrega de pedidos em até 48 horas para itens elegíveis (identificados com o selo prime), promoções exclusivas, acesso à plataforma de jogos e uma seleção gratuita de loots (itens virtuais extras dentro de games) e a jogos no Twitch Prime, como Apex Legends, Grand Theft Auto Online e Call of Duty: Black Ops 4.
Também fazem parte do pacote o serviço Prime Music (streaming de música sem anúncios), acesso a e-books e a revistas, por meio do Prime Reading. Quem já assinava o Prime Vídeo será avisado por e-mail sobre o novo valor do serviço prime, mais em conta, e convidado a seguir como cliente com um pacote ampliado.
Segundo Talita Taliberti, gerente-geral de Prime no Brasil, a decisão de lançar a modalidade prime no Brasil agora não tem a ver com o momento econômico do país. Ainda segundo a executiva, a data não está relacionada à Semana do Brasil, ação articulada pelo governo para ser uma espécie de antecipação da Black Friday com o objetivo de reaquecer a economia do país, estimulando o consumo.
;Estamos lançando o Amazon Prime em um momento em que oferecemos uma excelente experiência para nossos clientes, tanto de entrega quanto de confiança e tipos de serviços;, afirma a executiva.
Ainda de acordo com a gerente-geral, não se fala por aqui de meta de clientes com o novo pacote de benefícios. ;Passamos muito pouco tempo olhando métricas e target de resultado. O objetivo é oferecer uma boa experiência. Para isso, seguiremos monitorando os feedbacks dos clientes para entender se eles estão satisfeitos e onde podemos melhorar.;
No primeiro mês de operação da divisão prime, os assinantes terão acesso a ofertas exclusivas de marcas como Nespresso, Crocs, e Acer. Conforme a operação amadurecer, outros parceiros do marketplace serão incluídos em ações promocionais com o selo prime.
Até agora, o frete grátis era oferecido apenas para compras de livros no valor acima de R$ 99 ou a partir de R$ 149 para dispositivos da Amazon ou outras categorias de produtos. No caso dos e-books, ainda será oferecido a opção ;Kindle Unlimited;, ao preço de R$ 19,90 por mês.
Ameaça aos concorrentes
Com a nova estratégia para o Brasil, a Amazon vai partir com mais apetite não apenas para cima de concorrentes do varejo on-line, como Magazine Luiza, B2W (dona do Submarino, Americanas e Shoptime) e Via Varejo (dona de marcas como Casas Bahia e Ponto Frio), mas também passa a ameaçar de forma mais concreta o domínio da plataforma de streaming de vídeos Netflix no mercado nacional.
Atualmente, a Netflix tem planos a partir de R$ 21,90, mais que o dobro do valor que a Amazon vai cobrar pela modalidade Prime, que terá a plataforma de vídeo e outros serviços. Outra que poderá sentir o avanço da Amazon nessa divisão de negócios é a Globoplay, da Globo, que tem como diferencial os lançamentos e o acervo de produções nacionais e oferece assinaturas a R$ 19,90. A Amazon promete para 2020 o lançamento de sua primeira produção local. Será uma série sobre a Seleção Brasileira de Futebol durante a Copa América.
Outra frente de negócios da Amazon que deve causar incômodo entre os adversários é a de música por streaming. O Spotify, por exemplo, tem atualmente pacotes a partir de R$ 16,90 por mês, mesmo valor do Deezer. Nos dois casos, os preços são mais altos do que o cobrado pelo pacote Prime, da Amazon.
Conteúdo vai pesar
Apesar do preço agressivo para o lançamento, que deverá ser o principal chamariz não apenas para quem já é cliente de Bezos no Brasil, mas também entre novos usuários da plataforma digital, o crescimento da Amazon só vai se sustentar com o passar do tempo se o conteúdo dos diferentes canais for relevante. Hoje, por exemplo, há críticas quanto ao tamanho do acervo da plataforma de vídeos oferecido aos brasileiros, considerado muito inferior em relação à da Netflix.
A mesma comparação poderá ser feita pelos usuários do recurso de músicas a partir de agora. Se o conteúdo não for bem-avaliado pelos assinantes, nem o preço vai ser suficiente para sustentar os planos de crescimento da operação sobre adversários já estabelecidos, com Spotify.
O serviço Amazon Prime surgiu há 14 anos, é oferecido em 18 países e conta com cerca de 100 milhões de assinantes. O preço cobrado no Brasil está entre os mais baixos. No México, o valor mensal é de 99 pesos mexicanos, ou R$ 20,56. Na Índia a mensalidade é menor do que a oferecida aos brasileiros. São 100 rúpias, ou R$ 5,69 por mês.
O serviço de frete grátis será nacional, mas a entrega em até 48 horas começa a ser oferecida para assinantes das regiões Sudeste e Sul, além de Goiânia e Brasília, com um calendário de expansão, segundo Talita. No caso de produtos para outras regiões, fora de estoque ou que não podem ser despachados de avião (com características de explosivos, por exemplo), o prazo é maior, a partir de três dias.
Tanto o Prime Music quanto o Prime Reading estreiam agora, junto com o lançamento do Prime. Na plataforma de música, o catálogo chega a cerca de 2 milhões de títulos. Assim como os concorrentes, o canal oferecerá a opção de playlists e estações, com opções como gospel e sertanejo. As músicas poderão se escutadas pelo aplicativo Amazon Music, disponível para iOS e Android, Fire TV, em webplayer, ou no carro, pelo app Android Auto ou Apple CarPlay. Haverá a opção de assinar o pacote ilimitado, com acesso a mais músicas ; cerca de 50 milhões, segundo a empresa, mas ainda não foi divulgada a data para essa outra modalidade.
No caso dos e-books e revistas, o catálogo será rotativo. Os títulos podem ser lidos pelos apps gratuitos Kindle para Android e iOS, ou baixados nos dispositivos Kindle.
Ainda não está confirmado se o Brasil também fará parte ;Prime Day;, uma ação global de vendas promocionais que costuma fazer muito barulho em mercados como o americano. Apesar da expectativa de aumento das vendas no e-commerce, a empresa não ampliou o número de parceiros na área de logística.
Streaming de vídeo
Recentemente, o site Business Insider publicou uma pesquisa feita pela ferramenta de pesquisa de streaming Reelgood que comparou cinco serviços de vídeo, nem todos oferecidos no Brasil: Netflix, Hulu, Amazon Prime Vídeo, HBO e Showtime.A plataforma da Amazon é a que oferece a maior quantidade de filmes no mercado americano. O catálogo conta com 14.210 títulos. A Netflix, segunda colocada, conta com 3.803 filmes. Ainda segundo o levantamento do Reelgood, o Prime Vídeo fica com o primeiro lugar no quesito ;alta qualidade;, produções com classificação de 7,5 ou mais no site especializado IMDb. Por esse critério, o Prime Vídeo chegou ao primeiro lugar com 125 filmes de alta qualidade. Na segunda colocação, praticamente colada, com 124 filmes, está a Netflix. O Hulu tem 52, seguido pela HBO e Showtime, ambos com 32.Entre os títulos originais da Amazon Prime estão Manchester à beira-mar, indicado ao Oscar de melhor filme e vencedor na categoria melhor ator, com Casey Affleck, e Guerra fria, indicado em três categorias neste ano. A partir do mês que vem, quem também entra nesse mercado é a Disney+. No Brasil, porém, a nova plataforma de streaming de vídeos só deve chegar em 2020. Não há dados recentes sobre o uso dessas plataformas de streaming no Brasil. No ano passado, a consultoria Business Bureau divulgou um levantamento em que aponta a Netflix como a dona da maior participação de mercado no país, com 18%, seguida pela Globoplay, com 4%, e Telecine Play, com 3%.
E-commerce cresce a taxas expressivas
A razão para que a Amazon e outras grandes empresas aumentem seus esforços para atender ao consumidor que prefere o meio digital para fazer suas compras é o comportamento aquecido desse canal. O comércio eletrônico segue com taxas de crescimento superiores ao meio físico, que tem sentido mais de perto os efeitos da crise econômica que afeta o país nos últimos anos. Dados divulgados recentemente pelo Ebit/Nielsen, que fazem parte do levantamento Webshoppers, mostram que o comércio eletrônico teve um crescimento de 12% em vendas no primeiro semestre de 2019, o mesmo percentual registrado nos primeiros seis meses de 2018. O faturamento acumulado de janeiro a junho deste ano no e-commerce chegou a R$ 26,4 bilhões. O volume de pedidos no mesmo período teve uma alta maior, de 20%, contra 8% registrados no primeiro semestre do ano passado. Somados, foram R$ 65,2 milhões de pedidos no período. Apesar do crescimento tanto do faturamento quanto dos pedidos, a pesquisa Ebit/Nielsen alerta que esse comportamento não tem a ver com a recuperação da economia, mas sim com a migração do meio físico para o digital. Segundo o levantamento, dos consumidores pesquisados no primeiro semestre de 2019, 5,3 milhões (18,1% do total) fizeram sua primeira compra on-line. A Amazon não divulga seus números no Brasil, mas os dados de um de seus principais concorrentes, o Magazine Luiza, confirmam como o comércio eletrônico tem despontado, enquanto as vendas por meio de canais tradicionais ; onde a Amazon não atua por aqui ; caminham a passos tímidos. No segundo trimestre, as vendas do e-commerce da varejista brasileira cresceram 56,2%, representando 41,5% do total registrado pela empresa no período. Já as lojas físicas tiveram aumento nas vendas de 8,7%.