;O argumento de que os cigarros eletrônicos são proibidos porque fazem mal não se sustenta;, disse O;Connell, durante audiência pública realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Rio de Janeiro. ;A proposta de liberação desses dispositivos é, exatamente, reduzir os danos que o tabaco faz à população do mundo todo;, afirmou.
A proposta da companhia holandesa vai além do cigarro eletrônico. A empresa quer trazer para o Brasil dispositivos que vaporizam essências sem nicotina, para que fumantes mantenham o hábito sem prejudicar a saúde. ;Muitos fumantes têm dificuldade em abandonar o vício simplesmente porque se acostumaram a fumar depois das refeições ou no meio da tarde, algo que pode ser mantido se os cigarros eletrônicos forem autorizados pela Anvisa;, acrescentou. ;Estamos confiantes que a Anvisa entenderá isso e, nos próximos meses, liberará o produto no Brasil.;
Segundo o executivo, assim que houver um sinal verde do cigarro eletrônico, a companhia vai abrir uma filial no país, que atenderá todos os mercados da América do Sul. Os e-cigaretts já são comercializados legalmente em países como o Reino Unido, Espanha, França, Alemanha, Itália, Japão, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e Rússia.
;A regulação do cigarro eletrônico no país ainda acabaria com a venda ilegal do produto e coibiria o seu uso indevido;, diz O;Connell. ;As pessoas deixarão de comprar um cigarro inadequado e poderão ;vapear; um produto que é duas vezes mais eficaz que adesivos de nicotina, goma ou sprays para parar de fumar. A regulação também vai evitar o comércio ilegal.;
Até agora, a liberação dos cigarros eletrônicos tem esbarrado nas polêmicas envolvendo os produtos em alguns países, especialmente nos Estados Unidos. Recentemente, a Food and Drugs Administration (FDA), agência americana de fiscalização de alimentos e remédios, notificou fabricantes dos cigarros eletrônicos a comprovar que os produtos não incentivam o aumento do consumo entre os jovens.
Além disso, o órgão pediu laudos técnicos que atestem a segurança dos dispositivos em comparação aos cigarros convencionais. No ano passado, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) recebeu denúncias de que 153 pessoas sofreram danos pulmonares pelo uso dos cigarros eletrônicos e, por isso, afirma que é preciso mais estudos para determinar os riscos do uso do produto.
Sinal verde
Por sua vez, a indústria argumenta que esses danos têm sido potencializados pela restrição imposta às empresas, gerando um imenso mercado paralelo de produtos falsificados. ;Há muito ativismo envolvido em um debate que deveria ser estritamente técnico. Os cigarros eletrônicos não são produtos isentos de risco, mas são menos nocivos por não gerar a combustão do tabaco. A queima resulta em um processo químico que produz umas 7 mil substâncias tóxicas;, diz Analúcia Saraiva, diretora do departamento de estudos científicos da Souza Cruz, divisão brasileira da British American Tobacco (BAT). ;Há estudos muito sólidos, em instituições como Health Canada e o Public Health of England, um dos mais avançados do mundo nesse tema.;Apesar dos argumentos a favor dos cigarros eletrônicos, há um crescente movimento de médicos e cientistas contra a regulamentação de vaporizadores de nicotina e e-cigaretts. ;A nicotina é a droga lícita que mais mata no mundo. Com mais de 400 modelos de aparelhos para fumar no mercado, flexibilizar o consumo vai atrair jovens, manter fumantes no vício e convidar ex-fumantes a voltarem a consumir;, rebateu a pesquisadora do Instituto Nacional do Câncer, Liz Maria de Almeida.
O aguardado sinal verde da Anvisa será decisivo para o futuro da indústria do tabaco. O consumo vem caindo ano a ano, com a ampliação das campanhas antitabagistas e a crescente busca da população por hábitos mais saudáveis de consumo. Em 1989, o percentual era de 34,8%, segundo a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição. Em 2016, o percentual de fumantes no Brasil despencou para 10,2%, menor do que em países como Estados Unidos (16,2%) e França (23,6%). Hoje em dia está em 9,3%.
;Sabemos que o cigarro faz mal. É exatamente por isso que defendemos a regulamentação dos dispositivos eletrônicos, que reduzem em até 95% os danos à saúde dos fumantes, segundo evidências de estudos independentes;, garante Fernando Vieira, diretor de assuntos corporativos da Philip Morris.