postado em 16/09/2019 04:05
A partir de amanhã, os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos se reúnem por dois dias para decidirem o novo valor da taxa básica de juros das respectivas economias. O mercado abre a semana com a expectativa de cortes parecidos na ;superquarta;, por conta dessa coincidência de agenda. Contudo, há uma apreensão em relação ao impacto do ataque de drones na Arábia Saudita, neste fim de semana, que afetou a produção de petróleo de um dos maiores fornecedores globais.No Brasil, as previsões são de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai reduzir a Selic, de 6% para 5,5% ao ano para dar estímulo à economia. ;Não tem como o BC não cortar a Selic em 0,5 ponto percentual. Essa redução já está dada porque a atividade ainda está fraca;, aposta o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. Ele descarta qualquer influência sobre a alta do preço do barril de petróleo na decisão da diretoria do BC em adiar o corte. ;Há um risco inflacionário, mas a Petrobras pode ganhar com isso, fazendo a bolsa subir;, pontua.
Enquanto isso, nos EUA, o presidente Donald Trump está impaciente para que o Federal Reserve (Fed) acelere o ritmo da redução dos juros e já manifestou o desejo de que eles caiam de 2,25% a zero, como ocorre na Zona do Euro, ou fique negativo. Logo, a diretoria do BC vai acompanhar atentamente a reunião do Fomc, que deverá anunciar o resultado poucas horas antes do Copom.
Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, destaca que a curva de juros dos títulos da dívida norte-americana aponta 99,7% de probabilidade de um corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros dos EUA. ;O Fed está de olho no Banco Central Europeu (BCE), que anunciou estímulos. Então, o cenário ainda é positivo, mas o investidor aproveita para realizar, antes do fim de semana, com poucas notícias por aqui e expectativa pelas decisões de juros do Fed e do nosso BC nos próximos dias;, explica. Para ele, o tema mais importante do mercado brasileiro, para a confiança do investidor, continua sendo o andamento da reforma da Previdência no Senado. Perfeito, da Necton, reforça que o aumento das dúvidas sobre qual reforma tributária o governo vai adotar após a saída do secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, pode deixar o mercado mais instável.
As duas principais variáveis para os diretores do Banco Central aumentarem ou reduzirem os juros básicos são: inflação e crescimento econômico. Como o ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano é mais lento do que o de 2018 e a inflação está controlada abaixo da meta, de 4,25% ano, analistas apostam em novas reduções da Selic como forma de estimular o crédito e o consumo para dar um impulso na atividade. A mediana das estimativas do mercado para o PIB deste ano está em 0,87%, dado inferior à alta de 1,1% registrada em 2018 e em 2017. E, para piorar, as estimativas de 2020 estão em queda, indicando que o PIB não conseguirá crescer mais do que 2%.
Pelas estimativas do Itaú Unibanco, a economia deve continuar fraca nos próximos meses. A projeção de expansão do PIB brasileiro neste ano é de 0,8%, passando para 1,7%, no ano que vem. Esse resultado, segundo o relatório da instituição, também dependerá do desempenho do mercado externo. O banco aposta em corte de 0,50 ponto percentual na Selic na quarta-feira. ;Dado o quadro de recuperação lenta e as perspectivas benignas para a inflação, projetamos que a taxa Selic chegará a 5% ao ano até o fim de 2019;, diz o estudo.
Histórico
Na última reunião do Copom, realizada no fim de julho, a Selic caiu para 6% ao ano, o menor patamar desde o início do regime de metas de inflação, adotado em 1999, depois de permanecer 16 meses em 6,5% anuais. Contudo, essa taxa ainda é elevada se comparada com a de outros países.
;As taxas de juros, historicamente baixas, e o crescimento do crédito privado para pessoas físicas e jurídicas, seguem contribuindo positivamente para o crescimento. Por outro lado, a intensa desaceleração da economia global e a contração das despesas discricionárias do governo, especialmente investimentos, dificultam o crescimento mais rápido da economia;, justifica o relatório do Itaú. O banco reduziu a projeção de inflação deste ano de 3,6% para 3,4%, com expectativa de altas de 3%, nos preços livres, e de 4,6%, nos preços administrados, aqueles que não dependam de condições de oferta e de demanda, pois são estabelecidos pelos órgãos públicos ou por contratos.
Juan Jensen, economista-chefe e sócio da 4E Consultoria, ressalta que, mesmo com uma nova queda na Selic, os impactos econômicos dessa redução na economia serão pequenos no curto prazo. ;A taxa já está baixa e não está tendo o impacto esperado na atividade. A queda dos spreads (diferença apropriada nas transações de crédito pelo mercado financeiro, que inclui taxas e o lucro dos bancos) se mostra lenta e muito resistente. Por isso, demora a chegar no consumidor final;, explica. O consultor também espera que o Copom opte por mais duas reduções nos juros básicos, de 0,5 ponto percentual, até o fim do ano.
O coordenador do curso de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, lembra que a redução na Selic é positiva do ponto de vista das contas públicas. ;No Brasil, se confirmada, a redução nos juros básicos será uma excelente notícia para a dívida pública, já que o governo economiza no pagamento dos juros dos títulos públicos;, afirma. Outro efeito da redução dos juros é aumentar a atratividade do mercado de capitais e reduzir o interesse em investimentos de renda fixa, cuja remuneração toma por base a taxa Selic, lembra Spyer, da Mirae.
A mediana das previsões do mercado para os juros básicos para o fim do ano no boletim Focus, do BC, continua em 5% ao ano, mesmo patamar de um mês antes. Para 2020, baixou de 5,5%, há quatro semanas, para 5,25%.
Riscos
Com risco de recessão global, as taxas de juros básicas estão baixas nos países mais desenvolvidos, em uma tentativa de animar a economia e evitar a retração da economia mundial. Na Zona do Euro, é zero. Japão, Suíça, Suécia e Dinamarca já praticam juros negativos. É comum economias desenvolvidas adotarem juros reais negativos, ou seja, abaixo da inflação. É o caso dos Estados Unidos. A novidade, porém, é que alguns países estão adotando juros nominais negativos. Essa prática afeta uma parte do dinheiro, pois se aplica, principalmente, a depósitos interbancários. Na Suíça, porém, esse juro negativo chegou no varejo e há bancos que cobram para manter depósitos. Juros negativos começaram a ser adotados depois da crise financeira global, em 2008, detonada por uma grande quantidade de empréstimos com lastro imobiliário de baixa qualidade nos Estados Unidos, os subprimes.
E, para tentar reaquecer a economia do bloco europeu, o BCE anunciou, na semana passada, duas medidas de estímulo: redução de -0,4% para -0,5% a taxa de remueração de depósitos dos bancos na instituição, na expectativa de incentivar o consumo e causar mais inflação, atualmente em 1%. Além disso, anunciou que vai voltar a comprar títulos da dívida da Zona do Euro, a um ritmo de US$ 20 bilhões por mês, a partir de novembro. O órgão reduziu de 1,2% para 1,1% a previsão de crescimento da economia europeia, em 2019. A do próximo ano, passou de 1,4% para 1,2%.
"A taxa já está baixa e não está tendo o impacto esperado na atividade. A queda do spread (diferença apropriada nas transações de crédito pelo mercado financeiro, que inclui taxas e o lucro dos bancos) se mostra lenta e muito resistente. Por isso, demora a chegar no consumidor final;
Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria
Controle da inflação
A taxa básica de juros (Selic) é o principal instrumento de política monetária do Banco Central para garantir a estabilidade do poder de compra da população. Ele aumenta a taxa de juros com a expectativa de desestimular gastos do consumidor e investimentos das empresas e, assim, conter a alta nos preços. Quando a inflação está baixa permite que BC reduza a taxa de juros, com o objetivo de estimular o consumo e os investimentos, acelerando, assim, a atividade econômica. O Comitê de Política Econômica (Copom) visa estabelecer e definir as diretrizes da política monetária do país e garantir o cumprimento da meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 4,25% para este ano, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Qualquer mudança na taxa demora até seis meses para ter um impacto na economia real.