Jornal Correio Braziliense

Economia

Purdue Pharma declara falência para enfrentar crise dos opioides

No ano de 2017, cerca de 47 mil overdoses foram provocadas pelos opioides. Decisão fornecerá mais de US$ 10 bilhões para encarar o problema

O grupo farmacêutico Purdue Pharma - emblemático da crise dos opioides nos EUA - anunciou que vai declarar falência e a saída de seus proprietários, uma decisão com a intenção de solucionar a avalanche de processos contra ela.

Devido a um acordo com 23 promotores estaduais, mas que está sujeito à aprovação do tribunal, os Sackler vão transferir "todos (seus) ativos para um fundo, ou outra entidade estabelecida, para o benefício dos demandantes e do povo americano", de acordo com um comunicado do grupo divulgado no domingo (15/9).

Essa decisão deve fornecer mais de US$ 10 bilhões para lidar com a crise dos opioides, que causou 47.000 mortes por overdose nos Estados Unidos em 2017.

A empresa, cujo analgésico OxyContin e apontado como o culpado por grande parte da epidemia de uso de opioides nos Estados Unidos, enfrenta milhares de processos em tribunais estaduais e federais.

Se o contrato for aceito, todas as ações serão "solucionadas", inclusive as abertas por estados e municípios, e a Purdue seria "total e permanentemente liberada" de qualquer disputa judicial, explicou o grupo em seu site.

O laboratório é acusado de insistir com os médicos a prescreverem seus medicamentos em excesso, sabendo de seus efeitos viciantes. Dessa forma, ele teria contribuído para a crescente dependência dos americanos dos opioides, levando esses consumidores a tomarem drogas mais fortes, como o fentanil e a heroína.

O presidente da Purdue, Steve Miller, afirmou que o acordo "proporcionará bilhões de dólares e recursos críticos às comunidades de todo país, que tentam enfrentar a crise dos opioides".

A empresa explicou que solicitou a medida sob o Capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos. A diretoria da nova empresa seria selecionada pelos demandantes e aprovada pelo Tribunal de Falências.

Miller disse que a reestruturação evitará "gastar centenas de milhões de dólares e anos de litígios".

Nesta segunda, o CEO disse à CNBC que "esta é uma bifurcação no caminho", pedindo para as autoridades respeitarem o acordo.

Doações recusadas

Como parte do acordo, a empresa informou que contribuirá com medicamentos, sem ou de baixo custo, como o nalmefeno e a naloxona, para o tratamento de usuários de opioides.

Além de ceder o controle da Purdue, a bilionária família Sackler contribuirá com três bilhões de dólares de sua fortuna, mas o valor pode aumentar no futuro.

Carl Tobias, professor de direito da Universidade de Richmond, Virgínia, disse que não tinha garantias de que o acordo vá impedir futuros processos. "Lança mais perguntas que respostas", disse à AFP.

Na sexta-feira, o procurador do estado de Nova York acusou os Sacklers de tentarem esconder parte de sua fortuna transferindo um bilhão de dólares para a Suíça.

Os Sacklers, que durante décadas cultivaram uma imagem de patrocinadores das instituições acadêmicas e culturais mais prestigiadas do mundo, sofreram um duro golpe em sua reputação por seu papel na epidemia de opioides.

A National Portrait Gallery e a Tate Gallery, em Londres, o Metropolitan Museum e o Guggenheim, em Nova York, recusaram as doações dos Sacklers, devido à controvérsia.

Em julho, o museu do Louvre em Paris ocultou referências aos Sacklers de várias salas dedicadas a antiguidades orientais e que foram batizadas com o nome da família americana desde que fizeram uma doação em 1996.