Agência Estado
postado em 19/09/2019 07:01
Em um ambiente de fraqueza da economia e taxas controladas de inflação no Brasil, o Banco Central voltou a reduzir os juros na noite desta quarta-feira, 18. O Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição anunciou corte de 0,50 ponto porcentual da Selic (a taxa básica de juros), de 6% para 5,50% ao ano. Com isso, a taxa está agora em um novo piso da série histórica, iniciada em junho de 1996.
Ao mesmo tempo, o Banco Central indicou a possibilidade de novos cortes nos próximos meses. A redução de juros foi a segunda no atual ciclo de baixas e era largamente esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 55 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas projetavam um corte de 0,50 ponto porcentual.
"Em nosso governo, pela segunda vez, a mais baixa taxa de juros da história do Brasil", comemorou pelo Twitter o presidente da República, Jair Bolsonaro. "É a economia dando certo", acrescentou.
Ao justificar a decisão, o Copom - formado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pelos oito diretores da autarquia - avaliou por meio de comunicado que o ambiente internacional tem sido favorável para países emergentes, como o Brasil. Isso porque economias centrais - como os Estados Unidos - têm adotado "estímulos monetários adicionais", ou seja, estão reduzindo seus juros.
De fato, na tarde de quarta-feira, ainda com a reunião do Copom em andamento no Brasil, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou corte de 0,25 ponto porcentual de sua taxa de juros, para a faixa de 1,75% a 2,00% ao ano.
Sem citar diretamente a alta mais recente da cotação do petróleo nos mercados internacionais, após os ataques a refinarias da Arábia Saudita, o BC brasileiro também ponderou que o cenário "segue incerto" e que há riscos ligados a uma "desaceleração mais intensa da economia global".
Reformas
Ao avaliar o cenário interno, os dirigentes do BC reconheceram o avanço da agenda de reformas na economia. Eles deixaram de avaliar no comunicado, inclusive, o risco de frustração no andamento das reformas como "preponderante" entre todos os riscos considerados para o controle de inflação. Esta postura surge após a aprovação, há duas semanas, da reforma da Previdência na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado.
Além do cenário externo favorável para emergentes e do avanço das reformas, o BC levou em conta os índices de inflação controlados em sua decisão sobre a Selic. Na nota de quarta, a instituição atualizou suas projeções para a alta de preços. No cenário de mercado - que utiliza expectativas para câmbio e juros do mercado financeiro -, o BC alterou a projeção para a inflação em 2019 de 3,6% para 3,3%. Para 2020, a expectativa passou de 3,9% para 3,6%. Em ambos os casos, as projeções estão abaixo da meta perseguida pelo BC, de inflação de 4,25% este ano e de 4,00% no próximo ano.
Novos cortes
Além de ter reduzido a Selic em 0,50 ponto porcentual, o BC deixou margem para novos cortes. "A consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo", afirmou o BC no comunicado, sem se comprometer com novo corte de meio ponto porcentual ou com redução de 0,25 ponto porcentual. "Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação", acrescentou a instituição.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, aposta em mais um corte no encontro do fim de outubro. "É claro que sempre os próximos passos dependem de uma reavaliação do cenário, mas acredito que uma nova redução de 0,50 está garantida", disse. "A continuidade do ciclo em dezembro vai depender das expectativas de inflação, principalmente para 2021."
Juro real. Apesar do novo corte da Selic, o Brasil segue entre os países com os maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo. Levantamento feito pela Infinity Asset e pelo site MoneYou aponta que o País tem o oitavo maior juro real (1,65%) em um ranking com 40 economias. Na liderança da lista está a Argentina, com taxa real de 10%. / COLABOROU ANTONIO PÉREZ
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.