Rosana Hessel, Anna Russi
postado em 20/09/2019 06:00
Ao reduzir a taxa básica de juros (Selic) de 6% para 5,5%, o menor patamar da história, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, sinalizou que a porta para novos cortes está aberta, o que animou o mercado nesta quinta-feira (19/9). Em meio ao cenário econômico com inflação controlada, mas com baixo crescimento, economistas reduziram as projeções para a Selic no fim do ano a um patamar inferior a 5%, podendo permanecer assim ao longo de 2020. Alguns, inclusive, admitem que é possível ter juro negativo durante o processo.
A previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é de 3,45%. Logo, se o custo de vida voltar a subir por conta das pressões do câmbio, é bem possível que os juros reais (descontada a inflação) fiquem negativos. Essa possibilidade é cogitada caso as previsões do BNP Paribas, que estima que a Selic chegará a 4,25% no fim do ano, se concretizem.
Para o diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer, o país está prestes a entrar em uma nova era se a Selic atingir esse patamar, com juros reais negativos. ;Com a Selic a 5,5%, e se tirarmos, em média, 20% de Imposto de Renda, uma aplicação indexada a essa taxa daria 4,40% ao ano, o que, descontado o IPCA a 3,45%, levaria o ganho real para 0,95%. Mas, se a Selic ficar em 4,40% ou abaixo disso, o Brasil entra no rol dos países com juros reais negativos. Será preciso tomar riscos para ganhar dinheiro no país;, destacou.
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) abriu o dia em alta e chegou a atingir 106.001 pontos, com valorização de 1,4%, mas recuou diante do aumento das tensões externas. O clima piorou com a ameaça de os Estados Unidos elevarem as tarifas contra produtos chineses de 50% a 100%, conforme as declarações de Michael Pillsubury, conselheiro do presidente dos EUA, Donald Trump, a um jornal chinês. ;A B3 arrefeceu à tarde porque as bolsas americanas caíram devido à nova ameaça tarifária contra a China;, resumiu Spyer. A bolsa paulista encerrou o dia em queda de 0,18%, a 104.339 pontos. O dólar subiu 1,44%, cotado a R$ 4,16.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, avaliou que o momento exige que o governo recupere a credibilidade via o ajuste fiscal, a fim de melhorar o ambiente competitivo. Para ele, se os juros ficarem negativos, será positivo para a economia. ;Vai estimular os investidores mais conservadores a migrarem aplicações para outras categorias com risco maior, como o empreendedorismo. Isso vai incentivar o investimento;, disse ele, que prevê a Selic em 4,75% no fim do ano. Agostini alertou, entretanto, que o juro negativo desestimula a aplicação em caderneta de poupança, principal fonte para o financiamento de imóveis.
Spyer, da Mirae, manteve a aposta de que os juros básicos devem encerrar o ano em 5%, porque existe risco de a inflação voltar a subir, pressionada pelo câmbio. Essa é a mesma aposta do economista-chefe para mercados emergentes da consultoria britânica Capital Economics, William Jackson. Ele vê espaço para um corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em outubro. ;Somos pessimistas nas perspectivas do câmbio. Acreditamos que o real poderá desvalorizar ainda mais frente ao dólar, chegando a R$ 4,30 no fim do ano;, destacou.
- Bolsa de apostas
- Confira previsões de analistas para a taxa básica de juros até o fim de 2019 (Em % ao ano)
Focus*: 5,0
ItaúUnibanco: 5,0
Mirae Asset: 5,0
Bradesco: 5,0
Capital Economics: 5,0
Tendências Consultoria: 5,0
Austin Rating: 4,75
MB Associados: 4,75
Necton Investimentos: 4,50
Daycoval Asset: 4,50
BNP Paribas: 4,25
*Mediana das estimativas de 107 economistas ouvidos pelo Banco Central
Fontes: Empresas e Banco Central