Economia

'The Voice' do emprego:agência usa vídeo currículos com entrevista às cegas

Cammila Yochabell montou uma agência de empregos que usa vídeo currículos com entrevistas às cegas

Denise Rothenburg - Enviada Especial
postado em 22/09/2019 17:39
Cammila Yochabell montou uma agência de empregos que usa vídeo currículos com entrevistas às cegasSan Francisco (EUA) - O velho ditado "a necessidade aguça o engenho" define o que levou Cammila Yochabell, desempregada, com formação em petróleo e gás, a ficar três noites acordada na Nova Zelândia desenhando o que viria a ser a Jobecam.com. A startup de recursos humanos já ganhou o apelido de "The Voice" do emprego, onde o empregador pode contratar uma pessoa sem saber o sexo, a cor, o sotaque, apenas se considera a pessoa tecnicamente qualificada. "Na época, eu procurei sites que tivessem entrevistas de vídeo para emprego e não encontrei. E por ser do Nordeste, também senti preconceito", diz ela, hoje dona do próprio negócio.

No famoso "The Voice", artistas ficam de costas para os cantores e viram a cadeira somente depois de decidir apadrinhar o candidato. Na Jobecam, o empregador só vai conhecer a aparência da pessoa interessada no emprego depois que acha a pessoa qualificada para o cargo, por intermédio das perguntas que fez. Essa etapa da entrevista de emprego, em vez da imagem real do candidato, aparece na tela seis "avatares", durante a entrevista, desenhos de uma mulher muçulmana usando um hijab, um rapaz negro de terno, outro branco. Até a voz da pessoa pode ser modificada. As empresas é que fazem as perguntas e os interessados respondem assim que se candidatam. De acordo com as respostas, o sistema vai posicionando os candidatos. "Ninguém é obrigado a contratar o candidato que estiver melhor posicionado apenas pela blind interview, em alguns casos, ela funciona como o primeiro processo de seleção", afirma Cammila.

Os candidatos não pagam nada para se inscreverem no site. "Em nosso país, onde há 13 milhões de desempregados, muitas pessoas não conseguem emprego, porque não têm dinheiro sequer para ir para a entrevista de emprego ou temem pela própria aparência. Às vezes, vai até a porta da empresa e volta dizendo ;ah, isso não é pra mim;, nós oferecemos a oportunidade de uma colocação sem preconceitos" diz Cammila. "

A jobecam começou com o sistema de entrevistas às cegas em 2018. Até então, era apenas vídeo-currículos. Hoje, entretanto, qualquer empresa que quiser recurtar seus funcionários por meio da startup tem como primeira fase as "blind interviews. Da parte das empresas, o serviço é pago. Cammila idealizou um sistema de "jobecoin". Uma jobecoin equivale a uma entrevista com até quatro perguntas de até dois minutos e respostas de um a dois minutos. O pacote básico, com 100 jobecoins, custa R$ 890,00. Isso significa uma redução nos custos de custos e tempo para a seleção dos candidatos. Clientes da Jobecam, que antes levavam 40 dias para contratar uma pessoa, agora, podem fazê-lo em 7. Hoje, a Jobecam tem 20 clientes fixos e outros 130 ocasionais. Cammila contabiliza pelo menos 500 contratações até hoje para seus clientes.

O sistema que Cammila criou é hoje considerado um caso mundial para a Oracle, que levou a Jobecam para o seu programa de startups no ano passado. Seus executivos ficaram satisfeitos ao ponto de contratar 74 funcionários na América Latina pelo sistema. "Antes, ficávamos de olho nos melhores alunos das grandes universidades. Agora,queremos as melhores ideias e engajamento", diz o vice-presidente da Oracle para a América Latina, Luiz Meisler. Este ano, Cammila foi convidada a apresentar seu sistema na Oracle Open World 2019, em San Francisco, a mega conferência anual da companhia, e convite para o jantar na casa de Larry Ellison, o co-fundador. "A Oracle me ajudou muito a desenvolver o que eu queria. Já tive convites para mudar, mas sou Oracle", diz ela.

O programa de startups da Oracle concede descontos de 70% no uso da nuvem e tem validade de dois anos. No caso da Jobecam, que usa vídeos online, esse desconto é fundamental. "Startups são empresas feitas com a cara e coragem, geralmente sem dinheiro", diz ela. Não é política da Oracle comprar participações nessas empresas. O que é feito é dar o suporte, crédito na nuvem e, esperar que, com o passar do tempo, quando a empresa conseguir andar pelas próprias pernas, passe a pagar pelo serviço. Agora, entretanto, esse começo será grátis conforme Ellison anunciou em sua primeira exposição na conferência deste ano. Boa notícia para quem tem uma ideia ou uma necessidade premente capaz de aguçar o engenho.

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