Economia

Diretora da FenaSaúde defende segmentação de planos de saúde

Segundo Vera Valente, entrevistada do CB.Poder desta terça-feira (24/9), a ideia pode reduzir a chamada "inflação médica", responsável pelos custos elevados de saúde suplementar no Brasil

Thaís Moura*
postado em 24/09/2019 19:30
Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúdeA diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera Valente, reforçou, nesta terça-feira (24/9), a ideia de se criar uma segmentação nos planos de saúde oferecidos atualmente no país. Em entrevista ao CB.Poder, programa do Correio em parceria com a TV Brasília, Valente ainda justificou os constantes reajustes nos preços das parcelas dos planos, e explicitou que, apesar dos valores elevados, que contribuiu para a saída em massa de beneficiários de seguradoras e operadoras, existe uma "tendência no aumento do uso" desses planos. Ela também levantou dicas e cuidados que o consumidor deve levar em conta para fazer as prestações caberem no bolso.

Em um Brasil com baixas taxas de emprego e renda, o número de clientes de operadoras de saúde vêm diminuindo, por não terem como arcar com os custos elevados. De acordo com a diretora-executiva da FenaSaúde, a pressão pelos reajustes ocorre com maior frequência por conta dessa falta de novos beneficiários.

Por isso, ela defende uma segmentação do setor. "Temos defendido uma segmentação em que as operadoras possam ter a possibilidade de oferecer diferentes planos, e as pessoas tenham a possibilidade de escolher os que se adequem mais a sua situação", explicou. "Não seriam planos populares, seria uma maior segmentação, você poder comprar um módulo só de consulta, um só de terapia, um só de hospital. Ou seja, seria você fazer a segmentação de acordo com suas necessidades. Esse seria o caminho para trazer novos beneficiários".

De acordo com a diretora da FenaSaúde, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também está aberta ao diálogo sobre a possibilidade de segmentação. No entanto, ainda não existe uma previsão de quando isso pode ocorrer. "A gente vem discutindo isso tanto com a ANS quanto em um âmbito maior, mas é uma discussão que tem que ser democrática, tem que ouvir consumidores, o governo. Mas a gente considera essa discussão muito oportuna, porque, mais do que nunca, todos esses atores têm benefícios nisso", avaliou.

Para ela, a medida funcionaria para dar mais liberdade ao mercado, aumentar a livre concorrência, e proporcionar planos de saúde a população que pertence a classes mais baixas. "Ao segmentar, você não vai estar impedindo nada. O usuário vai poder escolher outros planos. Essa liberdade, com todas fiscalizações necessárias para manter os direitos dos consumidores, pode ajudar esse consumidor que tem o plano de saúde como objeto de desejo. Ele tem isso como objeto de desejo porque o Sistema Único de Saúde (SUS) está esgotado", afirmou Valente. "Não queremos tirar direitos, e sim dar mais direitos a população".

Segundo a diretora da FenaSaúde, o desafio do custo do plano de saúde também ocorre em outras partes do mundo. "Na verdade, o custo da saúde como um todo é um desafio mundial, mesmo em quem tem sistemas eminentementes públicos ou privados, ou como no Brasil, em que você tem as duas coisas", ressaltou Valente. Para ela, o reajuste nos planos revela um aumento expressivo da inflação médica, que seria influenciada pelo envelhecimento da população e pelo surgimento de novas tecnologias na área da saúde.

"Primeiro, você tem uma população envelhecendo, vivendo mais, isso é uma notícia boa, mas tem uma consequência para o sistema. Isso porque, você vivendo mais, você fica mais tempo no sistema, e o envelhecimento traz um uso relacionado a doenças crônicas que são doenças normais na terceira idade. Segundamente, se tem cada vez mais novas tecnologias", constatou a especialista. "Cada vez mais, no caso da saúde, tecnologia é sinônimo de aumento de custo. Novas tecnologias entram substituindo mercadorias mais baratas".

Vera Valente ainda chamou atenção para o aumento do uso dos planos de saúde, apesar da queda dos beneficiários. Nos últimos três anos, o setor já perdeu mais de 3 milhões de usuários. "Existe uma tendência do aumento do uso, que é explicável em função de cada vez mais pessoas pedirem mais exames, exames sofisticados. Existe uma cultura do modelo que a gente chama de hospitalocêntrico (o uso excessivo dos planos), e esse uso tem um custo", destacou. "O que explica essa inflação médica, e consequentemente um aumento dos reajustes dos planos, é exatamente esse aumento dos custos da saúde."

Ela constatou que, além da segmentação, existem alguns cuidados que o próprio cidadão deve ter para não depender dos planos de saúde. "Isso também passa pelo usuário, que deve ter um autocuidado maior, precisa ter atenção primária, a questão do atendimento preventivo. É preciso um uso consciente do sistema de saúde, que é algo importante para os consumidores se atentarem", alegou Valente. "As vezes a pessoa pensa ;já que eu tenho plano de saúde, vou fazer uma ressonância magnética ou algo do tipo;, mas esse ônus vai voltar para você. Então, é importante também rever a questão do excesso de uso de hospital quando você pode ter dentro dessa questão de atendimento médico familiar".

Confira o programa na íntegra:

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*Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca

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