Economia

As derrapadas da Volks e da Nissan

Executivos das duas empresas enfrentam processos milionários na Justiça e podem sofrer punições severas por trair a confiança de clientes e acionistas, causando grande prejuízo

postado em 25/09/2019 04:10
São Paulo ; Quatro anos depois do Dieselgate, como ficou conhecido o escândalo de adulteração de testes de emissão de poluentes de automóveis da Volkswagen, a empresa parecia enfim ter deixado os problemas para trás. Com uma série de lançamentos, aumento das vendas em diversos países e fortes investimentos em carros elétricos, a Volks vivia um período de tranquilidade. Ontem, porém, a paz foi interrompida. Promotores públicos alemães acusaram o atual diretor-presidente da empresa, Herbert Diess, o ex-diretor-presidente Martin Winterkorn e o presidente do conselho da montadora, Hans Dieter Poetsch, de manipulação de mercado no caso das fraudes de emissões de gás carbônico.

A acusação é grave. Segundo a denúncia, os executivos deliberadamente deixaram de informar o mercado de capitais sobre as multas que a empresa vinha recebendo relativas às fraudes no sistema de emissão de gases dos veículos. Ao não passar as informações, a empresa prejudicou milhares de acionistas, que não sabiam que a VW corria o risco de sofrer punições ; e que, àquela altura, já enfrentava severas sanções financeiras. ;Isso influenciou o mercado de ações da Volkswagen;, disse o promotor do processo.

Em 2015, uma investigação da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos descobriu que a companhia ludibriou testes que detectam a emissão de poluentes. A malandragem consistia em colocar, nos modelos a diesel, um software que ativa o sistema de controle durante os testes oficiais. No uso rotineiro dos veículos, os carros voltavam à normalidade, despejando toneladas de poluentes na atmosfera.

A Volkswagen se pronunciou pouco depois das novas denúncias. Segundo Hiltrud Dorothea Werner, do conselho de administração para integridade e assuntos jurídicos, a empresa está convencida que cumpriu todas as obrigações perante a lei do mercado de capitais. ;Se houver julgamento, estamos confiantes que as acusações são infundadas;, disse a porta-voz da empresa.

Brasileiro
Não se trata de um caso isolado de executivos da indústria automotiva enrolados com a Justiça. Na última segunda-feira, a Comissão do Mercado de Valores dos Estados Unidos (SEC) informou ter entrado com um processo contra o brasileiro Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan, o executivo Greg Kelly e a própria montadora por supostamente sonegarem US$ 140 milhões.

De acordo com as investigações, entre 2009 e até ser preso, em 2018, Ghosn participou de um plano para ocultar, com a ajuda de outros executivos da Nissan, US$ 90 milhões em pagamentos, além de ter tomado medidas impróprias para aumentar sua aposentadoria em US$ 50 milhões.

Em comunicado, a SEC revelou que a Nissan aceitou pagar uma multa de US$ 15 milhões e se comprometeu a deixar de infringir as regras antifraude. Por sua vez, o brasileiro concordou em pagar uma multa equivalente a US$ 1 milhão. A punição de Kelly foi mais branda: multa de US$ 100 mil. Além disso, os dois executivos foram proibidos de exercer cargos de direção nos Estados Unidos por períodos de 10 e 5 anos, respectivamente.



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