Economia

Tecnologias e usuário desafiam sustentabilidade da saúde complementar

Afirmação é de Vera Valente, diretora-executiva da FenaSaúde, que conta que esse desafio ocorre não apenas no Brasil, mas no mundo

Cláudia Dianni
postado em 25/09/2019 12:18

Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Complementar (FenaSaúde)Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Complementar (FenaSaúde), disse que o desafio do momento na saúde complementar, não apenas no Brasil, mas no mundo, é sustentabilidade. Isso ocorre devido à quantidade de novas tecnologia e de procedimentos disponíveis, de um lado, e cada vez menos recursos, do outro, para incorporar as novidades na oferta dos serviços, além das mudanças no perfil dos usuários, por causa do envelhecimento da população. Ela participou, na manhã desta quarta-feira, do Seminário Saúde Suplementar Consumo e Responsabilidade realizado pelo Correio, com apoio do Hospital Águas Claras, Ímpar, Laboratórios Sabin e FenaSaúde, no auditório do jornal, em Brasília.

Ela defendeu uma maior integração entre os sistemas públicos e privados de saúde. ; A saúde complementar se preocupa com o Sistema Único de Saúde, que perdeu 19 mil leitos nos últimos anos e, do lado da saúde complementar, perdemos três milhões de beneficiários desde 2015 e isso é ruim para todos, pois esses usuários vão todos para o sistema público, que está sobrecarregado;, disse.

Segundo Vera, 80% dos contratos são coletivos e, atualmente, as operadoras não vendem planos individuais por inviabilidade econômica. ;Quando uma operadora quebra, impacta milhoes de vida;, disse. Se por um lado, o setor perdeu beneficiários nos últimos anos, por outro, houve aumento das despesas assistenciais devido à incorporação de novas tecnologias, ao envelhecimento da população, mais acesso ao sistemas.

Inflação

De acordo com os dados apresentados, entre 2014 a 2018, houve uma redução de 6% no número de usuários, mas o aumento nominal das despesas foi 52% e aumento real (já descontada a inflação), de 21%, no período. ;A quantidade de procedimentos efetuados aumentou 17% e a despesa assistencial, per capta, 28% (já descontada a inflação). ;Esse não é um problema brasileiro, mas mundial;, disse. Entre 2001 e 2018, o reajuste dos planos individuais somou 155%, mas o índice das variações hospitalares cresceu 289% no mesmo período, apontou Vera. ;O custo é 3.4 vezes maior do que os índices gerais de preços;.

Ela explicou que a inflação de saúde é diferente da inflação geral de preços, já que os valores dos serviços, procedimentos e material de saúde são afetados por várias questões, como demografia, tecnologia, acesso aos serviços, aumento da expectativa de vida, entre outros aspectos.

Para Vera, o setor enfrenta vários desafios estruturais. Um deles é a questão demográfica. ;A pirâmide está invertida. Dobrou a população com mais de 60 anos nos últimos anos, uma população que vai precisar de mais cuidados médicos;.

Outra mudança é com relação à expectativa de vida, que aumentou. ;Isso é bom, mas é óbvio que impacta o sistema de saúde, pois é preciso controlar doenças crônicas e o acesso aos planos será feito com mais frequência. Nos últimos 20 anos, a expectativa de vida aumentou, em média, seis anos. Houve alteração também no perfil de tratamentos. De com Vera, houve redução no tratamento de doenças infectocontagiosas e aumento no de doenças crônicas, que requerem tecnologias.

Com relação às novas tecnologias, ;embora seja uma ótima notícia;, na avaliação de Vera, cada vez custam mais é este também é um desafio para o sistema. ;Nenhum sistema está conseguindo absorver esses custos e esta é uma preocupação global;, disse.

Acesso

Uma das soluções que ela aponta é focar mais na atenção primária, como em médicos de família e em prevenção. ;É preciso mudar o foco da doença para a manutenção de saúde;. Para ela, essa mudança podem reduzir em até 80% o uso dos planos.

Ela propõe uma maior segmentação das coberturas oferecidas pela operadoras, além de mais liberdade para a pessoa modular os planos, em temos de acesso e serviços, de acordo com suas necessidades. ;É preciso olhar para novos modelos. Hoje, quem usa mais, ganha mais, o que incentiva o uso e não a qualidade assistencial. A preocupação tem que ser mais no resultado;, disse.

Outra forma para reduzir os custos, de acordo com Vera, é combater fraudes e desperdícios. ;Esse é um desafio global. Não temos os números no Brasil, mas, nos Estados Unidos, os desperdícios correspondem a algo entre 20% e 40%, mas, se estivermos próximos ao número mínimo dos americanos, estamos falando em R$ 30 bilhões anuais;. Segundo ela, só em ressonância magnética, os países da OCDE fazem 82 exames por cada mil beneficiários ao ano, enquanto no Brasil são 162. ;Chama a atenção;, disse.

;Todos têm que fazer sua parte para promover uma mudança cultural na assistência à saúde. O consumidor tem que melhorar o autocuidado, a prevenção e o uso racional do sistema; as operadoras precisam investir em novos modelos, na qualidade, no combate a desperdícios, e em novos modelos de remuneração e em assistência básica; a regulação precisa ser modernizada e o governo tem que fortalecer o SUS para uma coexistência harmônica e cooperativa entre os dois sistemas;, disse.

De acordo com as informações apresentadas por Vera, em sua apresentação, pesquisa elaborada pelo Ibope mostrou que planos de saúdes são o terceiro item de desejo dos brasileiros, depois da casa própria e de educação, e 80% das pessoas que têm planos se dizem satisfeitos. Com relação às reclamações, dos 20 serviços com maior ocorrência, os plano de saúde figuram em 17; lugar. Segundo Vera, a FenaSAúde possui os 15 maiores grupos de operadoras de planos de saúde como associados, que atendem 26 milhões de pessoas, e representa 40% do mercado.

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