Paula Pacheco
postado em 26/09/2019 06:00
Com tantas notícias ruins, a companhia decidiu reagir e anunciou nesta quarta-feira (25/9) que Kevin Burns, presidente-executivo da americana Juul Labs, deixou o cargo. No seu lugar, assumirá K. C. Crosthwaite, executivo da Altria, a maior empresa de tabaco, dona de uma participação de 35% no capital da marca de cigarros eletrônicos de São Francisco.
Nos Estados Unidos, a Juul tem enfrentado um ambiente regulatório cada vez mais restritivo tanto na esfera federal quanto estadual. Mais recentemente, passou a ser investigada criminalmente sobre suas práticas de marketing.
Ate agora, nove mortes foram associadas a doenças pulmonares causadas pelo uso de vaping. Os casos fizeram com que as agências de saúde pública notificassem sobre os riscos. Alguns pacientes informaram ter usado o cigarro eletrônico para o consumo de nicotina ou de THC, substância obtida a partir da maconha.
Discute-se a possibilidade de a Juul ser proibida de oferecer produtos aromatizados, o que aumenta a atratividade para o público mais jovem, segundo especialistas. Os cigarros eletrônicos da Juul cresceram no mercado doméstico americano especialmente pelo apelo recreativo, ao oferecer opções com sabores de hortelã, pepino e manga.
Toda a polêmica em torno do consumo por adolescentes levou a uma pressão popular contra os cigarros eletrônicos e colocou a Juul no centro do debate. Em julho de 2017, Burns, que agora se despede do comando da companhia, se desculpou pelo fenômeno que os cigarros eletrônicos desencadearam.
Questionado sobre o que diria aos pais de um adolescente viciado nos produtos da empresa, o executivo respondeu na época: ;Não é para eles. Espero que não tenhamos feito nada que tornem os dispositivos atrativos. Como pai de um jovem de 16 anos, sinto muito por eles e tenho empatia pelos desafios que estão a enfrentar;.
Ano e meio depois, em julho de 2019, James Monsees, cofundador da Juul Labs e líder da equipe de desenvolvimento de produtos, era chamado para ser ouvido por um comitê, para apurar ;o papel da Juul na epidemia de nicotina entre jovens;. O problema se agravou ainda mais em agosto deste ano, quando uma pessoa morreu após ter usado cigarros eletrônicos com sabores e outras 200 ficarem doentes por causa do mesmo produto. Agora, o número de doentes já se aproxima de 500, o que tornou a situação de Burns insustentável.
Uma outra crítica à qual a Juul foi submetida foi quanto ao slogan de sua campanha, o "Make the switch; (em inglês, faça a troca), o que foi interpretado pelo FDA (o Food and Drug Administration, órgão regulador americano semelhante à Anvisa) como uma tentativa da empresa de mostrar seus cigarros eletrônicos como mais seguros do que os tradicionais.
Toda essa discussão, que pode colocar em dúvida o futuro dos cigarros eletrônicos no mercado americano, ocorre ao mesmo tempo em que a Anvisa começou a debater, em audiências, a possibilidade de liberar a venda do dispositivo no Brasil. Quem acompanha o assunto de perto acredita que os casos de doentes e de mortos vítimas desses produtos poderão ter um peso importante na decisão da agência reguladora.
Aliança naufraga
Também na última quarta-feira, a Altria e a Philip Morris International informaram ter encerrado as negociações para fundir as companhias, que, juntas, valeriam cerca de US$ 200 bilhões. A Philip Morris também atua no mercado de dispositivos eletrônicos ; uma das marcas é o IQOS ; e já anunciou que, no futuro, pretende deixar os cigarros tradicionais para trás.
"Embora acreditássemos que a criação de uma nova empresa resultante da fusão tivesse o potencial de criar sinergias incrementais de receita e custo, não conseguimos chegar a um acordo", informou, por meio de nota, Howard Willard, presidente e diretor-executivo da Altria. "Estamos ansiosos para continuar nossa comercialização de IQOS nos EUA, de acordo com nosso acordo existente."