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Na avaliação de economista-chefe do Itaú Unibanco, economia está fraca porque falta investimento. Pelas previsões dele, PIB só vai deslanchar a partir de 2022

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/09/2019 04:14
Na avaliação de economista-chefe do Itaú Unibanco, economia está fraca porque falta investimento. Pelas previsões dele, PIB só vai deslanchar a partir de 2022



;País vai demorar para crescer acima de 2%;
São Paulo ; O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, avalia que, para o Brasil voltar a crescer acima de 2%, vai levar tempo. Para ele, isso deve ocorrer, provavelmente, a partir de 2022 e só vai acontecer se o governo conseguir avançar com as reformas estruturais e reequilibrar as contas públicas. O fraco crescimento é resultado, na avaliação dele, da falta de investimento, mas as turbulências externas têm ajudado a travar a recuperação da atividade interna. Mesquista diz que o mercado atravessa um momento de transição que demanda tempo, pois o país passa por um processo de ;desintoxicação;.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, pelas projeções da equipe coordenada por Mesquita, deve crescer 0,8%, neste ano, e 1,7%, no ano que vem, depois de registrar avanços de 1,1% em 2017 e em 2018. Por enquanto, mantém as previsões, mas admite que poderá alterá-las dentro de uns 10 dias, quando concluir o próximo relatório mensal. Na avaliação do economista, a prioridade do governo após a reforma da Previdência, precisa ser a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n; 438/2018, que impõe limites para o crescimento das despesas obrigatórias, regulamenta a regra de ouro (que proíbe a União emitir títulos da dívida para pagar gastos correntes, como salários e aposentadorias) e institui plano de revisão das despesas, entre outras providências. ;A PEC 438 é emergencial, porque vai permitir ao governo ter uma gestão fiscal mais flexível;, aposta. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Por que a economia brasileira não cresce?
A economia está crescendo há algum tempo ao ritmo de 1% com oscilação em torno dessa tendência. Temos um ambiente global mais desafiador do que esperávamos. As tensões comerciais entre Estados Unidos e China não arrefeceram e isso tem um impacto importante na produção industrial de vários países. No Brasil, o setor industrial está com menos dinamismo que o de serviços e há contágio da guerra comercial. O ambiente internacional desfavorável tem retardado a recuperação do Brasil.

E no ambiente interno?
Do lado interno, falta uma retomada do investimento, que tem quatro componentes. Um deles, que é menor, vem crescendo a um ritmo razoável que é o investimento de tecnologia da informação. Os outros três são: compra de máquinas e equipamentos, construção comercial e infraestrutura e construção residencial. Desses, o primeiro vem se recuperando em ritmo gradual, porque a ociosidade da indústria está acima da média. Na infraestrutura, temos problemas com licenciamento ambiental e institucionais em algumas concessões que não deram certo. A parte imobiliária comercial começa a ter uma retomada na grande São Paulo, mas ainda existe ociosidade em outras praças importantes. Um caminho mais promissor é na parte do imobiliário residencial. Há uma retomada de lançamentos para rendas média e alta e o financiamento para a renda baixa venha crescer.

Como o senhor avalia o governo Jair Bolsonaro em nove meses?
Os destaques até agora foram o avanço da reforma da Previdência e a assinatura do acordo comercial Mercosul e União Europeia. A MP de Liberdade Econômica também é positiva. Do ponto de vista de desempenho econômico, atividade econômica e inflação, ainda reflete decisões que foram tomadas no passado. A política monetária, por exemplo, que é a que eu acompanho mais de perto, tem atuação na economia com defasagem grande, de mais de seis meses. Portanto, pouco do que estamos vendo do desempenho econômico efetivo, para o bem ou para o mal, podemos atribuir às pessoas que começaram a trabalhar em janeiro. Então, o ônus e o bônus ainda estão com a equipe econômica anterior. Os efeitos e as cobranças virão. Ainda não acho que seja razoável que, com nove meses, na prática, do ponto de vista analitico, culpar a atual equipe econômica pelo estado da economia.

Mas havia expectativa de que, com o novo governo, o investimento voltaria. O que houve?
Sempre que tem novo governo tem expectativas. Quando a Dilma Rousseff entrou, havia uma expectativa de que ela seria uma excelente tecnocrata e que iria conduzir bem a economia. A gente viu no que deu. Há um aprendizado na sociedade, na economia e no setor privado de que o mercado deve funcionar sem tanto apoio do Estado. É inevitável. Estamos vivendo uma economia que está passando por um processo de desintoxicação.

O setor privado não investe porque o governo está parado?
O setor privado está investindo via crédito e mercado de capitais. O setor público viveu uma hipertrofia no Brasil até que os recursos acabaram. A dívida foi para quase 80% do PIB. Agora, não não tem mais capacidade de atuar. Estamos vivendo uma transição, que implica custo. Acho que parte da demora da retomada é esse custo de transição. A forma do setor privado está mudando. Vai ter que investir, pegar dinheiro no mercado financeiro. Os prazos estão se alongando. Mas a transição vai levar a uma economia que funciona melhor.

Quanto tempo vai levar essa transição? O que precisa para ser acelerada?
Se o mundo ajudar, pode acelerar. O desenvolvimento do mercado financeiro e do mercado de capitais é um prelúdio do que vai acontecer em termos de atividade econômica. É uma précondição. Uma coisa que eu esqueci de mencionar sobre investimento público é que 70% desses gastos vêm de estados e municípios que não conseguem investir mais, porque estão em crise fiscal. Essa crise, em muitos casos, é resultante do enorme gasto com pessoal. Por isso que, aprovar a reforma da Previdência para estados e municípios, é muito importante para a atividade econômica. O mercado tem segmentos que estão reagindo bem, como os sensíveis ao crédito, que está crescendo. O consumo das famílias está vindo em um ritmo bom. Tradicionalmente, a demanda doméstica é o principal determinante do PIB aqui no Brasil. Isso não vai ser diferente. Para o país crescer mais, falta investimento. Quando a reforma da Previdência não foi aprovada em 2017, a incerteza fiscal foi mantida por mais dois anos em um patamar elevado. O país perdeu dois bons anos de crescimento da economia mundial, entre 2017 e 2018. Ela cresceu quase que 4% e agora vai crescer em ritmo mais próximo de 3%. Não aproveitamos por um problema nosso.

Como estimular o investimento com o presidente Jair Bolsonaro criticando países como França e Alemanha na ONU?
O mercado presta menos atenção a certos aspectos do noticiário político e mais no noticiário legislativo. Ele está mais interessado no Congresso, quais são as leis estão sendo aprovadas e qual é a agenda de reformas. Isso é mais determinante para a confiança.

Como criar emprego de qualidade no Brasil?
O mercado de trabalho ainda apresenta bastante ociosidade. E, olhando o dado o desemprego cheio, pelo nosso ajuste sazonal, até aumentou um pouquinho na nossa conta, para 12%, dado acima dos 11,8% do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em agosto. Outros indicadores de subutilização da mão de obra são também bastante elevados. Logo, o país vai gerar mais emprego quando a economia crescer acima de 2%. Nossa previsão é de 1,7% de crescimento no ano que vem, dado próximo da projeção do Banco Central (de 1,8%).

Quando o país vai crescer mais de 2%?
Isso pode começar a partir de 2022. Em 2021, é provável que alguns projetos de infraestrutura sejam destravados. Na verdade, em 2020, o país estaria crescendo 2% ou mais, se não fosse a piora na economia global. A gente tem 1,7%, mas se o mundo não estiver andando de lado e a Argentina também, essa taxa caminharia para algo próximo de 2% por conta (da liberação dos saques) do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Só que o mundo está piorando um pouquinho e a Argentina também. Por conta disso, ficamos com 1,7%.

Essa possibilidade de um impeachment do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode atrapalhar ainda mais esse cenário externo que já está bem adverso?
Um dos primeiros impactos do aumento dessa incerteza política nos Estados Unidos é adiar a ratificação do acordo comercial que vai suceder o Nafta (Acordo de Livre Comércio do Atlântico Norte). Para a economia mexicana é uma notícia ruim, porque esse acordo é importante para a retomada deles. Enfim, acho que essa maior incerteza política acaba sendo prejudicial para a atividade econômica global.

Para o Brasil, tem algum impacto?
Afeta indiretamente. Se houver um crescimento mundial ainda mais fraco, é sempre negativo para o Brasil.

O país tem uma Selic (taxa básica da economia) que caminha para nova mínima histórica, de 5%, mas os juros de mercado continuam altos. Por que os bancos resistem em reduzir os juros?
O crédito ao consumidor está crescendo num ritmo forte. Isso tem ajudado na retomada do setor automotivo. Crédito para a compra de veículos está crescendo num ritmo muito bom. Quando se expande crédito, novos clientes tomam recursos e isso retarda a queda do spread. Acho que é uma questão de volume. O volume está aumentando bastante. O cadastro positivo vai ajudar a aumentar a pressão concorrencial e vai jogar o spread para baixo.

Na sua avaliação, o que falta para que o spread cai? É mais concorrência?
Acho que falta essa disseminação de informação. Quanto mais as instituições financeiras tiverem informação sobre a qualidade de crédito, mais fácil vai ser para as pessoas buscarem renegociar seus débitos, e isso tende a baixar o spread.

Qual a expectativa do mercado?
No que se se refere ao Congresso, é em relação à agenda do dia seguinte. Qual será a prioridade depois da reforma da Previdência: a reforma tributária ou a PEC 438. A PEC 438 é mais emergencial, porque vão uma gestão fiscal mais flexível.


;O Brasil está em uma situação fiscal ainda bastante precária. O país só não tem problema de financiamento porque essa dívida é basicamente doméstica, detida por brasileiros e porque tem essas medidas corretivas: o teto de gastos e a reforma da Previdência;

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