postado em 30/09/2019 04:10
O perigo da má política para o meio ambienteO desaparecimento do velho conflito entre esquerda e direita, que só sobrevive ainda em países culturalmente periféricos e em mentes com pouca luz, criou na política do mundo novas oposições. Estão neste caso as polarizações entre globalização e nacionalismo, religião e secularismo, ambientalismo e desenvolvimentismo, e uns tantos outros pares de conceitos que, por sua natureza, não deveriam constituir necessariamente antagonismos.
O progresso humano e a proteção contra as vicissitudes do destino, que constituem o propósito da vida social, sempre dependeram da formação de consensos no interior das sociedades. As nações e os grupos humanos mais bem-sucedidos têm sido sempre os que conseguem chegar a um acordo sobre objetivos e meios de ação. Os que não têm tido esta sorte e esgotam suas forças em conflitos inúteis e paralisantes constituem as sociedades pobres e falidas que se espalham pelo mundo.
Estamos todos diante de um fato da natureza verificado e reconhecido pela melhor ciência de que dispomos. O clima em nosso planeta está se alterando com rapidez e à medida que o tempo passa isto vai significar uma mudança perigosa em nossa vida. O planeta resistirá a um aumento de dois a três graus de temperatura média, e a humanidade não vai estar à beira da extinção. O modo como vivemos e produzimos, no entanto, vai sofrer forte degradação.
Se a mudança fosse um fenômeno natural, nossa única escolha seria nos prepararmos para uma penosa adaptação. A Terra, afinal, já passou por vários ciclos climáticos muito mais severos e a vida prosseguiu. Agora, a imensa maioria dos cientistas não hesita em apontar a ação do homem como a principal causa do aquecimento do planeta. Esta é uma boa notícia, pois reverter o processo está em nossas mãos. Se a política permitir!
A questão do clima tornou-se matéria de disputa política em todo o mundo e em cada país. Temos os chamados partidos verdes ou ambientalistas, grupos políticos que se reúnem na defesa do meio ambiente com uma retórica apocalíptica e um sectarismo de cunho religioso, mais engajados em apontar culpados do que em convencer as pessoas. Em geral, defendem que as sociedades democráticas não são capazes de lidar com os problemas do clima e que enfrentar os desafios ambientais vai exigir uma postura mais autoritária dos governos.
Além da descrença na democracia, esses movimentos também consideram o capitalismo incompatível com as mudanças no modo de viver e produzir que serão necessárias para reverter o colapso ambiental. Defendem o fim do capitalismo e uma espécie de modulação da democracia, o que os relega a um extremo do espectro político, sem força para influir nas políticas públicas.
Do outro lado do campo, temos os negacionistas de direita, que, apesar das evidências, tratam a mudança climática como um fenômeno artificial, uma criação dos globalistas e das esquerdas, algo, enfim, que é pura conspiração anticapitalista. A política, em seus momentos de paroxismo, isola as pessoas da realidade e as confina numa bolha de ficções e de delírios.
Entre estes dois extremos fica a maior parte da humanidade, homens e mulheres de todos os continentes, sofrendo o peso das mudanças, mas incapazes de serem convencidos por essas narrativas sem um fundo de realidade e que usam as tragédias da vida como instrumento para chegar ao poder.
O desafio da mudança do clima e da degradação ambiental é uma tarefa de toda a humanidade. As sociedades nacionais não podem se dividir nesta matéria. As divisões políticas precisam ser atenuadas para que se chegue a uma pauta comum que una governo, empresas e cidadãos. Do mesmo modo, esta é uma questão global. Se países se fecharem em si mesmos e não reconhecerem suas obrigações para com o resto do mundo, de nada adiantará o esforço dos demais. Cooperação não é o contrário de soberania. Vivemos numa terra comum.
Diante dos perigos verdadeiros da mudança do clima o que nos resta é pedir a Deus, ou à natureza, que os nacionalismos e outros tantos ismos morram calcinados pelo aquecimento que não deixam combater.