Economia

Agosto acima do esperado

Melhora de 0,9% na produção, na comparação com julho, interrompe três meses consecutivos de recuo. Mas resultado não é suficiente para indicar virada devido à quantidade de dados negativos, segundo levantamento do IBGE

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 02/10/2019 04:14
Com um avanço de 0,8% em agosto, ante julho de 2019, a produção industrial interrompeu três meses consecutivos de retração no setor. O resultado, que ficou acima do esperado ; a medidana dos analistas ouvidos pela Bloomberg estimava crescimento de apenas 0,2% ; , foi puxado pelo aumento de 1,4% dos bens intermediários.

Ainda com o resultado positivo, a indústria registrou queda de 2,3%, na série sem ajuste sazonal, em relação ao mesmo mês de 2018. Em junho e julho, a produtividade da indústria também recuou 5,9% e 2,5%, respectivamente, na comparação anual.

Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Marcelo Azevedo, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destaca que o setor teve um início de ano ;negativo e complicado; e nem mesmo os resultados positivos conseguem virar o jogo.

;Por mais que agosto tenha sido positivo, não consegue reverter os dados ao longo do ano e essa comparação fica muito negativa. Os dados negativos têm sido predominantes. Ou seja, a atividade industrial continua, de fato, bem devagar. Na verdade, mal se pode falar de uma recuperação;, explicou Azevedo.

A produção dos outros grupos da indústria registraram queda: Bens de Capital recuou 0,4%; Bens de Consumo, 0,7%; Bens duráveis, 1,8%; e Bens Semi-Duráveis e Não Duráveis, 0,4%.

Na avaliação de Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a atividade industrial caminha em baixa velocidade. ;O resultado positivo de agosto é uma reação frente a esse mal desempenho dos três meses imediatamente anteriores, mas ainda é muito fraco porque só compensou o que foi perdido. Ou seja, continuamos no mesmo nível de produção que maio;.

De acordo com o IBGE, dos 26 ramos pesquisados, dez tiveram crescimento na produção ; no mês anterior, 11 registraram queda. No acumulado de 2019, o setor industrial registra perda de 1,7%, o mesmo número que o acumulado nos 12 meses imediatamente anteriores.

Com peso de aproximadamente 11% no Produto Interno Bruto (PIB), a produção industrial é um dos principais termômetros para a avaliação do desempenho da atividade econômica. Segundo o boletim Focus, do Banco Central, o mercado financeiro projeta um cenário de estagnação para a indústria em 2019, com queda de 0,06%. Para o PIB, a expectativa se mantém em alta de 0,87% há quatro semanas.

Faturamento cresce

Os indicadores industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também divulgados ontem, mostram que o faturamento do setor em agosto cresceu 0,6%, na comparação com o mês anterior, sendo o terceiro aumento consecutivo do índice. As horas trabalhadas na produção tiveram o mesmo desempenho.

A utilização da capacidade instalada alcançou 78,1% em agosto, registrando 0,1 ponto percentual acima do registrado no mês anterior. Segundo a CNI, apesar do resultado positivo de agosto, os índices da atividade industrial estão inferiores aos do mesmo período de 2018, ano fraco para o setor.

Ante agosto do ano passado, o faturamento teve queda de 5,7%; as horas trabalhadas recuaram 1,3%; e a utilização da capacidade ficou 0,2 ponto percentual abaixo.

Apesar de esperar um resultado positivo para o final de 2019, Azevedo pondera que não deve ser nada ;espetacular;. ;Além do problema de desaceleração global, temos particularidades que dificultam a situação brasileira. As vendas para a Argentina estão prejudicadas;. Já Cagnin destaca os riscos que ainda pairam sobre 2019. ;Não há recuperação. Um desempenho negativo, ainda que melhor que o anterior, não é recuperação;.


"Por mais que agosto tenha sido positivo, não consegue reverter os dados ao longo do ano e essa comparação fica muito negativa. Os dados negativos têm sido predominantes. (...) Na verdade, mal se pode falar de uma recuperação"

Marcelo Azevedo, economista da CNI



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