O senhor tem demonstrado otimismo em relação à economia brasileira. O que sustenta suas projeções?
Quem olhar para os números vai enxergar uma melhora. Nesta semana, saiu o dado da produção industrial, que cresceu 0,8% em agosto. O mercado esperava uma alta de 0,3%. É verdade que está caindo 2,3% em 12 meses, mas já melhorou. Mas não me considero otimista sempre. O problema é que os mais pessimistas são, geralmente, os economistas mais novos, que acham sempre coisas para criticar. Esse pessoal, que costumo chamar de ;economistas dos fundos da Faria Lima; (centro financeiro da capital paulista), precisa fazer uma autocrítica nesse sentido. As coisas estão andando melhor do que o esperado.
Qual a relação entre a idade e ser pessimista?
Porque esse pessoal é de uma escola em que tudo é expectativa para eles. Não basta ficar olhando para o déficit sem entender a dinâmica e o metabolismo da economia. Quando se olha para o Brasil, principalmente depois da crise, fica evidente que houve ajuste nos fundamentos da economia. Isso quer dizer o seguinte: estamos no ponto de início de um ciclo de recuperação.
Mas existem problemas sérios que resistem à melhora do cenário econômico. É o caso dos índices de desemprego, que continuam altos.
Em vez de ficar lamentando o desemprego, o país deveria olhar para os milhões que estão empregados. O número de desempregados é grande, quase 12 milhões de pessoas, mas há 95 milhões de brasileiros empregados. São eles que ganham seus salários, gastam no comércio e serviços, e movimentam a economia. O coitado que está meio fora do mercado formal está fazendo bico e cortando despesas. Em agosto, o Brasil criou uma taxa anualizada de 500 mil empregos. Não interessa se são empregos de boa qualidade ou não, o que interessa é que o cara terá uma renda daqui pra frente. Por isso, esses caras dos fundos da Faria Lima precisam pensar direito antes de fazer projeções.
Quais são seus outros argumentos para enxergar a economia com tanto otimismo?
Tenho um kit de dados que compõe esse otimismo e que me ajuda a medir em que ponto do ciclo econômico estamos. Porque o ciclo econômico de mais curto prazo, ele é muito fácil de medir. Basta contrapor os indicadores de hoje com dados de 2011 ou 2012.
Mas, se compararmos o desemprego de hoje com o daquela época, está muito pior.
Sim. O desemprego em 2012 era de 6%, que, para o Brasil, é quase pleno emprego. O salário subiu, os sindicatos estavam com toda força. Atualmente, estamos com 12%. Você tem aí uma capacidade ociosa de mão de obra muito grande. Por outro lado, enquanto é pior do ponto de vista do empregado, é melhor hoje em dia para o empregador. O ambiente cria empregos não formais, o que reduz aqueles custos trabalhistas e impostos que o emprego formal tem. Do ponto de vista de custo para o empregador, o cenário é muito mais favorável hoje.
O que mais há no seu kit de dados?
Além do custo menor para se empregar, outro ponto é a inflação. Por causa da recessão, estamos com a inflação no chão. E essa desinflação permitiu que se criasse uma expectativa de dois, três anos de inflação abaixo da meta, enquanto que a inflação na época da Dilma estava pegando fogo. Outro dado importante para a economia brasileira é a conta-corrente. O Brasil não tem poupança interna, a poupança vem de fora. Quando você fica um longo período tomando dinheiro da poupança de fora, você começa a pagar juros, piora a conta-corrente, e as pessoas passam a ter medo da cotação do dólar. E aí para a entrada de capital, que foi um dos aspectos que fizeram a economia brasileira levar aquele tremendo tombo. E a conta-corrente agora está muito baixa, piorou um pouco.
Se há indicadores bons, por que a confiança não retorna?
Uma das razões é a mídia. Vocês sempre preferem divulgar mais a informação negativa do que a positiva. O que saiu na mídia nos últimos dias? Que a conta-corrente está muito baixa.
Mas não é verdade?
É verdade, mas piorou porque as exportações caíram em função dessa crise mundial de comércio. É um número muito pequeno comparado, por exemplo, com o volume de capital estrangeiro que está entrando. Quando se joga a entrada de capital estrangeiro, ainda tem um número positivo muito grande.
O senhor acredita que a retomada da confiança é o fator principal que vai reaquecer a economia?
Sim, vai acelerar a economia. A recuperação vem pelo consumo das famílias. Outro dado importante que tenho citado é que o crédito para pessoas físicas está crescendo 15% ao ano. Com o juro mais baixo, os grandes bancos já estão disputando a tapa os clientes para crédito imobiliário, por exemplo. Uma confiança maior do empregado, do consumidor, com expansão de crédito e com juro barato como está agora, vai acelerar a recuperação.
Qual a sua projeção de crescimento para 2019?
Vamos crescer 1,4% no ano, como resultado principalmente do último trimestre, que deverá crescer no ritmo de 2% a 2,5%. Para 2020, a minha projeção é de 2,5%.
O dólar acima de R$ 4 preocupa?
O dólar está nesse patamar porque, com a redução de juros no Brasil, há um movimento de retirada de moeda por parte do investidor estrangeiro, que estava aqui aplicando na Selic. A desvalorização da moeda é positiva, porque beneficia o exportador. Na minha leitura, está tudo correto, como a teoria manda. Isso já ocorreu no governo do presidente Michel Temer, quando chegamos a crescer 2,5% na margem. O problema do Temer foi aquela questão da JBS. Agora, se não houver nenhum fator externo, as coisas devem melhorar.
Embora a Selic esteja em 5,5%, o patamar mais baixo da história, o juro ao consumidor na ponta demora a cair. Isso pode prejudicar a recuperação do consumo das famílias?
O problema é que temos um sistema bancário muito monopolizado. Mas, veja: a concorrência está chegando. O Bradesco e o Itaú anunciaram nesta semana a redução dos juros para o crédito imobiliário. Que, aliás, é outro setor que está puxando a economia. Basta olhar o jornal que você vê anúncios de lançamentos de prédios. Esse é o processo natural de uma economia em retomada, principalmente agora, com o Paulo Guedes no governo. Está todo mundo vendo que ele está tentando a economia fiscal, o que é muito bom. É por isso que acho que o analista precisa ter um pouco de coragem. Sempre digo: tem que tomar um copo de uma boa cachaça de Januária, e olhar para a frente.
Quais setores da economia vão brilhar neste ano além
do agronegócio, que tradicionalmente tem puxado o PIB?
O setor de consumo, o imobiliário e automóvel, tudo que depende de consumo vai subir, e já está subindo. Se você olhar as vendas do comércio, já estão crescendo 2,5% ao ano. O analista tem que identificar o setor e acompanhar tudo. Por exemplo: a indústria, na posição anual, espera aprofundar a queda de 2,5% para 3%. É ruim, mas quando você vai para o mensal, a indústria subiu 0,8%. Esse mensal é que vai para o PIB no terceiro trimestre.
O senhor acha que as privatizações, conforme planejadas por Paulo Guedes e por Salim Mattar, vão conseguir atrair os investimentos que o país precisa?
As privatizações demoram, porque não é uma coisa talvez nem para o ano que vem. Esse sinal das estradas foi muito positivo, porque saiu com deságio, houve briga entre os consórcios e saiu com deságio de quase 40%.
O tema da privatização ainda é sensível para diversos setores da sociedade. O que senhor pensa a esse respeito?
Tem que privatizar tudo. O governo tem uma responsabilidade de gastos sociais que é incompatível com a posição dele de investir em empresas. Repito: tem que privatizar tudo.