Economia

BTG é alvo da Lava-Jato

Banco teria recebido informações sigilosas sobre reuniões do Copom, que podem ter beneficiado instituições financeiras e agentes públicos. Informação veio à tona em nova delação do petista Antonio Palocci 

postado em 04/10/2019 04:12
Sede do BTG em São Paulo: autoridades apuram  práticas de corrupção passiva e ativa, informação privilegiada e lavagem de dinheiro

Em conjunto com o Ministério Público Federal, a Polícia Federal investiga o Banco BTG Pactual na operação Estrela Cadente, uma etapa da Lava-Jato. A instituição financeira teria recebido informações sigilosas sobre os resultados de reuniões do Conselho de Política Monetária (Copom), que a cada 45 dias revisa a taxa básica de juros, Selic.

A Operação deflagrada ontem gerou buscas e apreensões na sede do BTG Pactual S.A, em São Paulo. Os vazamentos teriam acontecido entre 2010 e 2012, período dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT). Na época, estavam à frente do Ministério da Fazenda e do Banco Central Guido Mantega e Alexandre Tombini, respectivamente.

Tombini comandava o BC na ocasião da primeira redução da taxa Selic em dois anos, em 2011, quando a taxa básica de juros caiu de 12,5% para 12%. Foi o primeiro passo na redução dos juros após tendência de alta desde 2009.

O esquema investigado favorecia mutuamente banqueiros e agentes públicos do alto escalão do governo federal da época. As autoridades apuram possíveis práticas de corrupção passiva, corrupção ativa, informação privilegiada e lavagem de dinheiro.

De acordo com o MPF, os detalhes do esquema foram revelados em delação premiada do ex-ministro petista Antônio Palocci, chefe do Ministério da Fazenda no governo Lula e da Casa Civil no governo Dilma. Ele alega que Mantega teria vazado informações para o banqueiro André Esteves, do BTG. Os lucros obtidos pelo fundo de investimento Bintang, administrado pelo banco, teriam sido de dezenas de milhões de reais.

Ainda de acordo com o depoimento de Palocci, as informações privilegiadas renderam propinas de 10% sobre o lucro do fundo ao ex-presidente Lula, e R$ 9,5 milhões à campanha da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2014.

Advogado do ex-ministro Guido Mantega, Fábio Tofic Simantob disse ao Correio que a delação é ;mentirosa; e que Palocci teria juntado fatos aleatórios disponíveis publicamente para criar uma narrativa falsa. ;O ministro não conhece essa operação financeira. É uma delação google. Juntou dados públicos oficiais para montar uma história falsa. Ele chutou e errou o alvo;, afirmou.

;As informações mostram que é papo furado. É lamentável que a palavra de um delator totalmente desacreditado tenha conseguido fazer um estardalhaço;, opinou o advogado. Segundo ele, a defesa de Mantega seguirá acompanhando as investigações, já que ele ;foi apenas mencionado, mas não foi alvo de nada;.

Segundo nota divulgada pelo BTG Pactual S.A, a instituição financeira exerceu o papel apenas de administrador do fundo investigado na operação, sem poder de gestão ou participação no mesmo. ;O fundo possuía um único cotista, pessoa física, profissional do mercado financeiro, que também era o gestor credenciado junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que nunca foi funcionário do BTG Pactual ou teve qualquer vínculo profissional com o banco ou qualquer de seus sócios;, informou.

O Banco Central divulgou nota informando que não foi comunicado sobre o conteúdo da Operação Estrela Cadente, que corre sob sigilo de Justiça. O Ministério da Economia não comentou o caso. Em nota, a defesa do ex-presidente Lula disse que Palocci ;mais uma vez recorreu a mentiras em relação ao ex-presidente Lula. De acordo com a defesa, pela própria Legislação de Regência (Lei n; 12.850), declarações de delatores carregam presunção de que são mentirosas.

Palocci foi preso em 2016, na Operação Omertà, também etapa da Lava-Jato. Em novembro de 2018, ele foi solto e deu início a uma série de depoimentos;84 anexos;do acordo de delação premiada feita, inicialmente, com a PF no Paraná. A reportagem tentou contato com a assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

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