Economia

Redução de taxas e deflação do IPCA: economistas apostam em Selic em 4,5%

Além do recuo de 0,04% no IPCA de setembro, a variação positiva de 0,1% no comércio varejista mostram que a economia brasileira segue praticamente travada

Anna Russi
postado em 10/10/2019 20:04
moeda e notasA continuidade na política de redução da taxa básica de juros do Banco Central, combinada com um resultado de deflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tem levado o mercado financeiro a apostar em uma política monetária cada vez mais frouxa, com a Selic caindo a 4,5%.

Atualmente a taxa se encontra na mínima histórica de 5,5% ao ano. No entanto, a expectativa do mercado financeiro é de que ainda sejam feitas reduções nas próximas três reuniões do Conselho de Política Monetária (Copom) até o fim do ano. Além do recuo de 0,04% no IPCA de setembro, a variação positiva de 0,1% no comércio varejista mostram que a economia brasileira segue praticamente travada. Assim, as portas estão abertas para que a autoridade monetária invista ainda mais no movimento de queda do juros.

Na visão de Rafael Leão Parallaxis, economista-chefe da Parallaxis Economics e Data Science, a priori, os riscos de o Banco Central não reduzir a taxa Selic são mais prejudiciais do que a política de redução. ;Os núcleos de inflação estão bem controlados e isso reflete um amplo espaço para a queda de juros. De quebra, embora não seja a bala de prata, a redução da Selic a 4,5% ajuda a estimular a economia, que ainda segue letárgica;, analisou.

Solange Srour, economista-chefe da ARX investimentos, destaca que essa aposta já vinha começando a se formar desde o início do segundo semestre. ;É uma sequência de dados econômicos que tem feito o mercado revisar essa projeção. Apesar de vermos melhora na recuperação, o movimento de volta é muito gradual. Então, o Banco Central continua a tentativa de estímulo ao consumo;, explicou.

As principais ameaças à economia em decorrência de um país com juro abaixo dos 5%, são em relação a possibilidade de uma alta significativa na inflação. Para 2019, a meta está em 4,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

De acordo com Srour, a maior parte das consequências de uma taxa básica de juros baixa são positivas. ;Com isso teríamos, em teoria, uma retomada econômica mais rápida, recuperação da capacidade ociosa, que está alta hoje. Com uma inflação controlada, os riscos são praticamente só positivos;, ressaltou.

Ela destacou que a maior preocupação do BC, no entanto, deve ser voltada para a inflação do próximo ano, já que os dados de 2019 estão praticamente fechados. ;A análise deve ser como as projeções de 2020 e 2021 são afetadas por uma Selic tão baixa;, disse. Para o ano que vem, a meta é de 4%, com a mesma tolerância.

Outro risco, segundo Srour, é que uma depreciação do real influencie as expectativas da inflação. ;Mas hoje essa possibilidade é muito baixa. Mas ainda assim, com uma recuperação atual tão lenta, mesmo com o câmbio a R$ 4,20, as previsões do IPCA não foram influenciadas;, ponderou.

Leão também alertou que, em condições econômicas normais, essa redução tem um limite, que seria a valorização do dólar. ;Mas não estamos em condições normais, temos uma ociosidade grande, então, o câmbio não repassa para a inflação. O Banco Central está em uma posição relativamente confortável para a redução;, afirmou. Ele ressaltou, no entanto, que provavelmente a autoridade monetária brasileira não precisará ultrapassar para menos de 4,5% a taxa.

Pelo lado negativo, a questão da pouca atratividade, em decorrência dos juros baixos, do país para investimentos seria a maior preocupação. ;Apesar de o Brasil ficar menos atrativo, hoje também não tem atraído tanto investimento. O importante é melhor o consumo e estimular a economia;, comentou Srour.

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