Agência Estado
postado em 12/10/2019 12:40
O diretor de Participações, Mercado de Capitais e Crédito Indireto do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), André Laloni, pediu licença do cargo ontem. Oficialmente, o BNDES informou que a licença foi pedida "por motivos pessoais", mas a relação entre a diretoria do BNDES e técnicos da área responsável pela gestão da carteira de participações acionárias estava marcada por tensões e divergências em torno da melhor forma de acelerar as vendas de ações.
Laloni, que fez carreira no mercado financeiro e foi diretor financeiro da Caixa no primeiro semestre, foi indicado para a diretoria do BNDES em julho e assumiu os trabalhos no fim de agosto, com a missão de acelerar as vendas da carteira de participações societárias, uma das metas colocadas ainda para este ano pelo presidente Gustavo Montezano.
O presidente do banco foi comunicado do pedido de licença de Laloni na noite de quinta-feira, disseram fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, plataforma de notícias em tempo real do Grupo Estado. Teria pesado na decisão do diretor uma suposta falta de apoio dos demais colegas de diretoria num embate em torno da mudança de normativos internos, materializado na tentativa do BNDES de aderir à oferta pública de ações do Banco do Brasil (BB) de posse do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), feita pela Caixa Econômica Federal.
Confirmada na quinta-feira da semana passada, a oferta deverá movimentar R$ 5,7 bilhões, incluindo a venda papéis em posse do próprio BB - a diretoria do BNDES queria incluir na operação cerca de R$ 1 bilhão em ações do BB de posse da União, que estão com o banco de fomento para serem vendidas.
A tensão se elevou com a destituição de Luciana Tito do cargo de superintendente responsável pelas atividades operacionais na área jurídica na quinta-feira da semana passada, como revelou O Estado de S. Paulo.
A AFBNDES, associação que representa os funcionários do banco, organizou um ato na segunda-feira, para cobrar publicamente explicações da diretoria. De lá para cá, a situação ficou insustentável. Segundo uma fonte que pediu para não se identificar, o resultado foi uma paralisia nas vendas das ações.
Tito foi destituída em meio à tentativa de aderir à oferta de ações do BB. Segundo um parecer jurídico interno, a tentativa de adesão à oferta foi decidida em cima da hora e sem seguir as normas do BNDES.
As tensões estão inseridas num contexto de divergências em torno da melhor forma de acelerar as vendas da carteira de participações, que passa pela opção entre fazer ofertas públicas, como a de ações do BB feita pela Caixa, ou usar a "mesa de operações", como tradicionalmente faz a instituição de fomento - e pelo cumprimento dos normativos que balizam essas decisões.
Nos corredores do BNDES, circulam comentários sobre receios, entre os técnicos da área, de vender as ações baratas demais. Os técnicos do BNDES temem ser questionados pelos órgãos de controle, no futuro, sobre a fixação dos preços e sobre os procedimentos para aprovar as vendas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.