Economia

Nobel de Economia chama a atenção para urgência do combate à pobreza

Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer foram a campo experimentar políticas públicas para reduzir a desigualdade. Pesquisas mostram que divisão em questões menores e mais precisas em áreas de educação e saúde é mais eficiente

Catarina Loiola*, Cristiane Noberto*, Anna Russi
postado em 15/10/2019 06:00

uma mulher e dois homens lado a ladoO prêmio Nobel de Economia agraciou os economistas Abhijit Banerjee (Índia), Esther Duflo (França) e Michael Kremer (EUA) pela ;abordagem experimental da redução da pobreza global;. De acordo com o comitê da Academia Real de Ciências Econômicas da Suécia, que oferece o prêmio em memória de Alfred Nobel, o trio contribuiu de forma decisiva a políticas públicas e incentivos de combate à pobreza. Esther Duflo, além de ser a segunda mulher a ganhar o Nobel na área, assumiu o título de mais jovem economista a ser agraciada. Até então, o prêmio havia sido concedido apenas a Elinor Ostrom, em 2009.


Marcelo Neri, economista da FGV Social, acredita que, além da escolha do tema, os agraciados pelo prêmio se destacaram pela metodologia do trabalho. ;Foram experimentos aleatórios colocados em prática. Eles foram a campo reproduzir políticas públicas com populações de baixa renda de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Esse método é fundamental para o conhecimento da causa e avaliação dos programas públicos testados, ter uma visão do que funciona ou não em termos de políticas sociais;, destacou. Para ele, o Nobel serve também de lição para o que não funciona.

A partir de experimentos de campo em países como Quênia e Índia, os pesquisadores mostram que a pobreza pode ser combatida de forma mais eficiente se dividida em questões menores e mais precisas em áreas como educação e saúde. ;As descobertas das pesquisas dos premiados melhoraram drasticamente nossa capacidade de combater a pobreza na prática;, acrescentou a Academia Real em comunicado.

Renato Meirelles, CEO do Instituto Locomotiva, acredita que o resultado mostra a preocupação da Academia em colocar a pobreza como um problema econômico. ;A pobreza do mundo traz prejuízo à economia global e é um problema a ser resolvido. Com esse trabalho, vemos como a vida de milhões de pessoas pode mudar com um projeto pensado, focado na desigualdade;, disse.

Para ele, as pesquisas do trio trazem à tona a discussão de se ;o Estado deve ou não interferir na economia;. ;Dá o espaço ao bom senso, de percebermos que para algumas soluções e alguns segmentos, é necessário, sim, a intervenção de políticas públicas ou privadas. Acho que traz uma luz de esperança rumo ao bom senso nessa discussão;, comentou

Segundo o comitê, mais de 700 milhões de pessoas ainda sobrevivem com rendas ;extremamente baixas;. A questão foi classificada pelos juízes do prêmio como uma das mais urgentes da humanidade. ;A cada ano, cerca de 5 milhões de crianças menores de 5 anos morrem por doenças que poderiam ser prevenidas ou curadas com tratamentos que não são caros;, disse o comitê do Nobel.

Para o júri, os estudos e abordagens desenvolvidas pelos economistas permitiram ações mais eficazes para a saúde infantil e o desempenho escolar. ;Os laureados mostraram como o problema da pobreza global pode ser resolvido com a divisão de perguntas em uma série menor e mais precisas em níveis individual ou de grupo. Em apenas 20 anos, essa abordagem reformulou completamente a pesquisa no campo conhecido como economia do desenvolvimento;, disse o comitê.

A entrega do Nobel ocorrerá em 10 de dezembro. O prêmio de nove milhões de coroas suecas será compartilhado pelos três economistas. O valor é equivalente a US$ 1 milhão ou R$ 3,85 milhões.

* Estagiárias sob supervisão de Rozane Oliveira

Ganhadores

2008 (EUA): Paul Krugman, por trabalhos sobre o comércio internacional

2009 (EUA): Elinor Ostrom e Oliver Williamson, com trabalhos separados que mostram que a empresa e as associações de usuários são, às vezes, mais eficientes que o mercado

2010 (EUA e Reino Unido): Peter Diamond, Dale Mortensen e Christopher Pissarides, pela melhora na análise dos mercados nos quais a oferta e a demanda têm dificuldades para se acoplar, principalmente no mercado de trabalho

2011 (EUA): Thomas Sargent e Christopher Sims, com trabalhos que possibilitaram o entendimento de como imprevistos ou políticas programadas influenciam os indicadores macroeconômicos

2012 (EUA): Lloyd Shapley e Alvin Roth, mostraram a melhor maneira de adequar a oferta e a demanda em um mercado, com aplicações nas doações de órgãos e na educação
2013 (EUA): Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller, com trabalhos sobre mercados financeiros

2014 (França): Jean Tirole, com a análise do poder do mercado e de sua regulação

2015 (Reino Unido/EUA): Angus Deaton, com estudos sobre o consumo, a pobreza e o bem-estar

2016 (Reino Unido/EUA e Finlândia): Oliver Hart e Bengt Holmstr;m, por contribuições à teoria dos contratos

2017 (EUA): Richard Thaler, com pesquisa sobre as consequências dos mecanismos psicológicos e sociais
nas decisões dos consumidores
e dos investidores

2018 (EUA): William D. Nordhaus e Paul M. Romer, com estudos sobre economia sustentável e crescimento econômico a longo prazo

2019 (EUA, França/EUA e EUA): Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer, com trabalhos no combate à pobreza

Perfis

Esther Duflo: A franco-americana é a segunda mulher e a pessoa mais jovem a vencer um prêmio Nobel de economia. Aos 46 anos, Esther foi assessora de Barack Obama na Presidência dos EUA e, atualmente, é professora no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Cambridge, nos Estados Unidos. Duflo é especialista em economia do desenvolvimento. Seu trabalho foi marcado pelas pesquisas realizadas na África, onde avaliava o incentivo ao trabalho de professores e à capacitação feminina. ;Nossa visão de pobreza é dominada por caricaturas e clichês;, disse em entrevista à AFP, em 2017.

Abhijit Vinayak Banerjee: O indiano de Mumbai se tornou Ph.D, em 1988, pela Universidade de Harvard por sua tese sobre economia da informação. Atualmente é professor internacional de economia da Ford Foundation no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Em 2003, fundou o Laboratório de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jameel (J-PAL), ao lado da esposa, também vencedora do Nobel Esther Duflo, e Sendhil Mullainathan, e continua sendo um dos diretores. Ele possui outros prêmios internacionais como o Guggenheim Fellowship, Alfred P. Sloan e um Infosys.

Michael Kremer: O norte-americano é Ph.D pela Universidade de Harvard. Atualmente, é professor de sociedades em desenvolvimento no Departamento de Economia da universidade. O trabalho dele se destaca pelas pesquisas relacionadas ao desenvolvimento em países da América Latina e da África. Sua pesquisa mais recente se destina ao exame da educação, saúde, água e agricultura em nações em desenvolvimento. Kremer ajudou a desenvolver o compromisso antecipado do mercado para vacinas, cujo objetivo é estimular o investimento privado em pesquisas e distribuição em países em desenvolvimento.

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