Economia

FMI: desaceleração é geral e retomada difícil

Fundo revê projeção de crescimento mundial, que cai ao menor patamar desde a crise financeira global, 3%, reduzindo "espaço para erros de política". Previsão para o Brasil melhora e se aproxima da expectativa do mercado, 0,9%

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 16/10/2019 04:15

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou ontem novas projeções de crescimento econômico e alertou que o mundo está em um processo de desaceleração generalizada. Além disso, reconheceu ser difícil identificar uma retomada. ;Com uma desaceleração sincronizada e uma recuperação incerta, a perspectiva global continua sendo precária;, afirmou a economista-chefe e diretora do Departamento de Pesquisas do FMI, Gita Gopinath, durante a apresentação do relatório Panorama Econômico Global.

Pelas novas projeções do Fundo, o Produto Interno Bruto (PIB) global deverá crescer 3%, neste ano, 0,2 ponto percentual abaixo da estimativa feita em julho, de 3,2%. ;Esse é o menor patamar de crescimento desde a crise financeira global;, disse Gopinath, citando o período turbulento com recessão, que sucedeu a quebra de vários bancos, entre 2008 e 2009.

;Com um crescimento de 3%, não há espaço para erros de políticas e há uma necessidade urgente de que as autoridades procedam de forma a desescalar cooperativamente as tensões comerciais e geoestratégicas;, opinou. Para 2020, a estimativa de crescimento da economia mundial passou de 3,5% para 3,4%.

O Fundo reduziu de 1,9% para 1,7% a estimativa de expansão dos países desenvolvidos, neste ano. A previsão de alta do PIB dos Estados Unidos passou de 2,6%, em julho, para 2,4%, em outubro; e das economias emergentes de 4,1% para 3,9%. Já a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2019 teve leve alta. A previsão de avanço passou de 0,8% para 0,9%, em linha com as novas previsões do mercado, de 0,87%. Para 2020, caiu de 2,4% para 2%.

;O país tem elevado nível de demanda em comparação com 2015 e com 2016, mas ainda há muito o que fazer;, destacou Gopinath. Pelas estimativas do órgão, o crescimento da dívida pública bruta em relação ao PIB elevará o endividamento do governo geral até 2022, quando atingirá o pico de 95,3% do PIB, passando para 95%, no ano seguinte, e para 94,8%, em 2024.

Especialistas, no entanto, consideraram as estimativas do FMI para o PIB a partir de 2020 otimistas demais, uma vez que as incertezas ainda persistem. As projeções do mercado para o PIB brasileiro do ano que vem estão abaixo de 2%. ;Por conta da desaceleração da economia mundial e da recessão na Argentina, reduzimos nossa expectativa de avanço do PIB no ano que vem de 2% para 1,8%. E nessa projeção estamos incluindo já o efeito positivo da queda dos juros;, explicou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. Ela estima que a dívida pública chegará a 81,5% em 2022.

Reformas

Na avaliação de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, apesar de os dados do FMI serem mais otimistas que o mercado, ainda não há garantias de que esse ritmo melhor será confirmado se as reformas forem realizadas. ;Não é possível condicionar a expansão da economia às reformas. É apenas um cenário, que já está defasado, porque os dados do segundo semestre estão vindo abaixo das expectativas;, lamentou. Ele prevê alta de 0,8% neste ano. ;Reforma é uma questão de crença, no momento;, resumiu.

De acordo com a economista do FMI, haverá ;uma modesta recuperação em 2020;, porque esse quadro reflete a desaceleração da indústria global, com o setor automobilístico entre os mais afetados, e também o aumento das tarifas comerciais pelo planeta. Gopinath defendeu o multilateralismo como saída para a recuperação do crescimento global, especialmente, porque ajudará a reduzir a evasão tarifária. A expectativa de crescimento do volume de comércio global, neste ano, foi reduzida de 2,5% para 1,1%.

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