Catarina Loiola*
postado em 17/10/2019 17:01
[FOTO1]O rendimento médio mensal de trabalho da população mais pobre foi quase 34 vezes menor que o da população 1% mais rica, em 2018, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada ontem (16/10). A diferença de renda entre os grupos resultou no maior Índice de Gini desde 2012, que subiu de 0,538 para 0,545. A estimativa avalia que quanto mais perto de 1, mais o país é desproporcional na distribuição de renda.
De acordo com o diretor de pesquisas adjunto do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo Pereira, o Brasil segue sendo um dos países mais desiguais do mundo. Para ele, o principal motivo é o aumento substancial do desemprego e da subutilização, em que a pessoa trabalha menos do que gostaria. ;São 7,2 milhões de pessoas que estão trabalhando menos de 40 horas por semana, mas disseram ao IBGE que poderiam trabalhar mais e que estão disponíveis para isso;, respalda.
A desigualdade entre ricos e pobres acontece a partir da criação de empregos de qualidade, que garanta a dignidade e perspectiva de crescimento para o cidadão, segundo a deputada Marcivânia Flexa (PCdoB). ;O desemprego acarreta outros problemas. As medidas que a gente vê sendo tomadas pelo governo são medidas de quem está dando paracetamol para tentar curar uma infecção;, diz.
Ela assegura que a retirada do Ministério do Trabalho prejudicou o aumento da empregabilidade do país. ;Temos uma demanda de pessoas que precisam sobreviver e cuidar da sua vida e da sua família. Não é possível a gente ter um Brasil fraterno e justo sem pessoas com emprego;, afirma. ;Fizemos uma reforma trabalhista, infelizmente, e as promessas que foram feitas ao povo brasileiro vão sendo sistematicamente descumpridas;.
Clóvis Scherer, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), explicou que a redução do desemprego necessita de ações urgentes. Para ilustrar os pontos, ele citou a agenda prioritária da classe trabalhadora, como a criação de frentes de trabalho emergenciais que empreguem contingente expressivo de pessoas, retomada de obras de infraestrutura, ampliação de políticas de amparo aos desempregados e nova jornada de trabalho. ;É preciso pensar numa reforma tributária que libere recursos para tomar ações efetivas no sentido de gerar emprego para fazer ceder o nível de desemprego que estamos atravessando;, ressalta.
Credibilidade das informações
As medidas adotadas pelo IBGE de aferição dos dados da população estão em consonância com os Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais, adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU). O principal ponto utilizado é o Princípio 9, que recomenda o uso de padrões internacionais para promover a coerência e a eficiência dos sistemas de estatística em todos os níveis oficiais.
;O compromisso que a gente tem em termos de divulgar estatísticas é seguir a risca os princípios fundamentais e levar em consideração qualquer que fosse as recomendações internacionais em termo de mercado de trabalho preconizadas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho);, explica Azeredo. ;O Brasil foi o primeiro país no mundo a adotar a recomendações da OIT e está divulgando as estatísticas tal qual a OIT recomenda, para que sejamos internacionalmente comparáveis;.
;A democratização da informação de mercado de trabalho, de condições de vida, tomou um patamar fantástico;, celebra o diretor técnico. ;É muito difícil fazer pesquisa em qualquer país, e aqui no Brasil a gente tem uma rede de coleta fantástica que consegue ter 92% de aproveitamento da amostra;. Ele conta que em breve vai ocorrer divulgação trimestral de dados sobre regiões interioranas dos estados da Federação.
O debate ocorreu na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP), hoje (17/10), na Câmara dos Deputados.
*Estagiária sob a supervisão de