postado em 30/10/2019 04:05
São Paulo ; No Brasil, o uso medicinal de substâncias obtidas a partir da cânnabis ainda é tema de discussão na esfera governamental. Mas uma gestora brasileira, fundada há apenas um ano, se descolou do moroso debate em Brasília e lança o primeiro produto financeiro formado exclusivamente por ativos da indústria da cannabis.
O fundo Vitreo Canabidiol FIA IE começou a ser comercializado ontem e a expectativa é que atraia aportes totais de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões. A modelagem e a comercialização estão sendo feitas pela gestora Vitreo, dos sócios-fundadores George Wachsmann, Patrick O;Grady, Alexandre Aoude e Paulo Lemann, um dos filhos do bilionário Jorge Paulo Lemann.
Foram necessários seis meses até que o produto estivesse pronto para ser lançado e pudesse passar pelo crivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Wachsmann, CIO da Vitreo, conta que ficou surpreso com a procura por informações logo no primeiro dia de negociação. Foram cerca de 100 consultas feitas ao site da fintech.
O primeiro fundo brasileiro lastreado em negócios da cannabis é formado por ações de empresas americanas e canadenses que atuam nesse segmento e por ETFs (abreviação para Exchange Traded Funds, como são chamados os fundos de índices comercializados como ações), na proporção 50%/50%. No futuro, poderá haver uma variação nesses percentuais, explica Wachsmann, com o aumento da participação de ETFs para dois terços.
Para os entusiastas da indústria canábica, a possibilidade de investir nesse setor parece atraente, mas Wachsmann alerta para algumas características do fundo. Se, por um lado, é a oportunidade de investir em ativos fora do Brasil e buscar uma rentabilidade maior em tempos de queda da Selic (taxa básica de juros), por outro, as ações ligadas aos negócios da cânnabis têm enfrentado muitas oscilações nos últimos tempos.
;No caso dos ETFs, o sobe e desce tem sido grande, mas o momento de queda pode ser o de maior oportunidade para o investidor, até porque é um setor com um potencial bom de crescimento;, pondera o CIO da Vitreo. Por ser um ativo de risco, explica o sócio, a recomendação é de que ele tenha nesse produto apenas uma pequena parcela de seus ativos.
Ativo de risco
O novo fundo tem investimento mínimo de R$ 5 mil. Mas esse produto é voltado apenas a investidores qualificados, como são chamados aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras. A definição desse perfil também deve espantar os curiosos que esperam ganhar com aportes em empresas ligadas a algum ramo da cannabis.
As empresas que compõem o fundo têm negócios diversificados no setor e ; atuam na atividade agrícola, imobiliária (por meio de galpões onde as plantas são cultivadas), cosméticos, bebidas e farmacêutico.
O CIO da Vitreo diz que a fintech já estava preparada para possíveis polêmicas, por saber que a cânnabis, e mais especificamente o uso da maconha, "são tabus em uma sociedade conservadora. Mas não estamos tomando partido nem de um lado, nem de outro. Iniciativas como esse fundo poderão colaborar para dar mais clareza sobre o assunto. Particularmente, ficarei muito feliz que mais doenças possam ser tratadas e seus sintomas melhorados.;
Investimentos temáticos, lembra o sócio da Vitreo, não são novidade. Esse movimento já foi visto, por exemplo, em fundos estruturados a partir do ativo ;água; e energia renovável. Agora, um dos setores mais atraentes, inclusive para empresas e investidores de outras áreas, vem sendo o da cannabis.
Em boa parte, isso tem ocorrido por causa do aumento do número de países que tem aderido à liberação do uso medicinal da maconha, tema que, no Brasil, está na esfera da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. Hoje, segundo Wachsmann, cerca de 20 países, que respondem por quase 20% da população mundial, já têm regras que permitem o uso de produtos à base da cannabis.
O fundo da Vitreo tem taxa de administração de 1,5%, mais taxa de performance de 20% quando exceder o Índice S. Atualmente, a gestora administra cerca de R$ 2,5 bilhões.