Economia

Banco Central dos EUA corta juros básicos para entre 1,5% e 1,75% ao ano

Autoridade monetária norte-americana sinaliza, em comunicado, que vai fazer uma pausa na redução da taxa, que já sofreu três cortes este ano

Simone Kafruni
postado em 30/10/2019 16:30
[FOTO1]O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, cortou seus juros básicos nesta quarta-feira (30/10) pela terceira vez seguida. A redução foi de 0,25 ponto percentual, o que levou a taxa de referência norte-americana para entre 1,5% e 1,75% ao ano.

No entanto, a decisão não foi unânime, e dois diretores do Fed -- Esther L. George e Eric S. Rosengren -- votaram pela manutenção dos juros básicos. Em comunicado, a autoridade monetária norte-americana anunciou que o mercado de trabalho dos Estados Unidos continua forte e que a economia local vem crescendo em ritmo moderado. Segundo o Fed, o consumo das famílias se manteve aquecido, mas o investimento corporativo e exportações permanecem fracos, assim como as medidas de inflação baseadas no mercado.

No comunicado, o Fed disse que continuará a monitorar as implicações dos dados para as perspectivas econômicas, mas retirou a frase ;agir conforme o apropriado para sustentar o crescimento;, que constava no documento publicado no corte anterior promovido. Ficou registrado ainda que os diretores da autoridade monetária irão monitorar novos dados para decidir a trajetória da política monetária.

Para Marcelo Kfoury, professor de economia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), o ajuste era esperado pelo mercado, mas o que mais chamou a atenção foi a retirada da expressão ;agir conforme o apropriado;, que sinaliza uma pausa nos cortes de juros. ;A expressão significava que teria mais redução na reunião seguinte;, explicou.

Segundo Kfoury, o chairman do Fed, Jerome Powell, afirmou que a situação melhorou desde a última reunião e os riscos de desaceleração da economia diminuíram. ;A taxa de desemprego está no menor índice dos últimos 50 anos, talvez nem fosse necessário cortar juros;, analisou.

A medida abre espaço para cortar juros no Brasil, porque ainda mantém uma diferença razoável, na opinião de Kfoury. ;Nos EUA, está em 1,5% e aqui o BC (Banco Central) deve cortar para 4,5%. Ainda restam 3 pontos percentuais, dos quais 1,2 é Risco Brasil, hoje em 120 pontos. Portanto, sobra 1,8 ponto de risco depreciação cambial;, destacou.

Como a inflação no Brasil é mais alta, a diferença fica um pouco maior, explicou o professor da FGV. ;Ainda há uma atratividade em renda variável e na Bolsa, investimentos que pagam juros mais altos. Apesar de as duas taxas nunca terem estado tão próximas, acredito que não vai haver fuga de capitais do Brasil;, acrescentou.

Para a economista e especialista em macroeconomia nacional e internacional, professora do Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Margarida Gutierrez, o motivo do corte foi a inflação, que continua baixa nos EUA. ;O Fed está reduzindo juros para dar mais gás na economia e a inflação voltar à meta de 2%;, avaliou.

Segundo ela, como o Banco Central do Brasil também deve reduzir a taxa básica Selic, ainda nesta quarta-feira, possivelmente em 0,5 ponto percentual, a diferença entre os juros norte-americanos e brasileiros vai diminuir. ;Ainda assim, a Selic fica mais atrativa em relação aos juros dos Estados Unidos;, comparou.

Por trás da queda de juros nos Estados Unidos está a desaceleração apontada por dados recentes do varejo e da produção industrial. Investidores, temendo que o cenário avance para uma recessão no médio prazo, pressionaram o Banco Central norte-americano por ajustes.

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