Economia

Redução da taxa básica de juros atinge o piso histórico de 1999

Expectativa é de nova queda em dezembro, para 4,5%. Estados Unidos também reduzem juros, diminuindo a diferença entre a taxa dos dois países. Especialistas consideram que não haverá fuga de capital para economias com menos risco

Simone Kafruni
postado em 31/10/2019 06:00
[FOTO1]O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (30/10), por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros Selic, em 0,5 ponto porcentual, de 5,5% para 5% ao ano. É o terceiro corte este ano ; de 6,5% para 6% em julho e para 5,5% em setembro ;, atingindo o piso histórico desde 1999, quando o BC iniciou o regime de metas da inflação.

O banco central dos Estados Unidos, Federal Reserve (Fed), cortou, também nesta quarta-feira (30/10), pela terceira vez seguida, os juros básicos em 0,25 ponto percentual, ficando entre 1,5% e 1,75%. Com isso, a diferença entre as taxas dos dois países diminuiu e pode chegar a apenas 3 pontos, já que o Copom disse, em comunicado, que deve cortar mais 0,5 ponto, e a Selic deve fechar o ano em 4,5%.

As duas autoridades monetárias sinalizaram que, em 2020, não haverá mais cortes. Segundo o Copom, no cenário com expectativas de câmbio e inflação ancoradas, ;supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 4,5% ao ano, deve permanecer nesse patamar ao longo de 2020 e se eleva até 6,38% ao ano em 2021;. ;Indicadores da atividade econômica reforçam a continuidade da recuperação da economia em ritmo gradual;, justificou no comunicado.

A autoridade monetária afirmou que, no ambiente externo, estímulos monetários nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, é ;relativamente favorável; para países. ;Entretanto, o cenário segue incerto, e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem;, ressaltou. O BC também assinalou fatores de risco doméstico, como ;uma eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira;.

O Fed, por sua vez, cortou juros, mas não de forma unânime. Dois diretores ; Esther L. George e Eric S. Rosengren ; votaram pela manutenção da taxa. No comunicado, a autoridade monetária norte-americana disse que continuará a monitorar as perspectivas econômicas, mas retirou a frase ;agir conforme o apropriado para sustentar o crescimento;, que constava no documento publicado na reunião anterior.

Pausa

Para Marcelo Kfoury, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), ao tirar tal expressão, o Fed sinaliza uma pausa nos cortes de juros. Segundo ele, o chairman do Fed, Jerome Powell, afirmou que os riscos de desaceleração da economia diminuíram. ;A taxa de desemprego está no menor índice dos últimos 50 anos, talvez nem fosse necessário cortar juros nos EUA;, analisou.

Kfoury explicou que, com a Selic em 4,5% no fim do ano, a diferença entre as taxas dos países vai cair para 3 pontos percentuais, dos quais 1,2 é Risco Brasil, hoje em 120 pontos. ;Portanto, sobra 1,8 ponto e, como a inflação no Brasil é mais alta, a diferença do juro real fica um pouco maior. Ainda há atratividade em renda variável e na Bolsa, investimentos que pagam juros mais altos. Apesar de as duas taxas nunca terem estado tão próximas, acredito que não vai haver fuga de capitais do Brasil;, acrescentou.

No entender do professor e coordenador do curso de economia da FGV, Joelson Sampaio, a mensagem dos dois países é a mesma: tirar dinheiro do sistema financeiro e injetar na economia para buscar uma reação do crescimento. ;Para isso, no entanto, não basta cortar juros. Há um conjunto de fatores que impactam a confiança dos investidores. No Brasil, são a continuidade das reformas, um ambiente político mais tranquilo e avanços na questão fiscal;, enumerou.

De acordo com o superintendente de assessoria econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Everton Gonçalves, com a debilidade fiscal, restringindo os investimentos do governo, e a desaceleração sincronizada do comércio mundial, ;restam os estímulos monetários para impulsionar a atividade;.

Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, lembrou que a economia está fraca, porque sofreu choques. ;Tivemos a greve dos caminhoneiros, incertezas políticas e a crise da Argentina, que tem potencial de tirar meio ponto do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. ;O crescimento estimado de 1,1% poderia ser de 1,6%;, ressaltou. ;Como há incerteza global, o Brasil tem que fazer sua parte, além da política monetária: tocar as reformas e reduzir o alto desemprego;, defendeu.

Repercussão

Os argumentos do Copom em seu comunicado repercutiram no mercado. O economista-chefe da Necton, André Perfeito, mudou a projeção para a Selic. ;Antes trabalhávamos com mais um corte de 50 pontos-base, fazendo a taxa chegar a 4,5% em dezembro e depois parando. Agora vemos espaço para mais um corte de 25 pontos-base na reunião de fevereiro de 2020, levando os juros a 4,25% e finalizando o ciclo de corte da taxa básica;, disse.

Apesar do alto spread bancário (a diferença entre o que o banco paga para captar recursos e quanto cobra para emprestar dinheiro), o anúncio do Copom provocou queda nas taxas oferecidas ao consumidor. O Itaú Unibanco informou que repassará integralmente o corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica em linhas de crédito. ;O corte para pessoa física será no empréstimo pessoal, enquanto para pessoa jurídica, no capital de giro. Os novos valores passam a valer a partir de segunda-feira e variam de acordo com o perfil do cliente e seu relacionamento com o banco;, disse, em nota.

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