Economia

Seis perguntas para

Lindsay Gorman, especialista em tecnologias em inteligência artificial, Big Data, 5G e cibersegurança da Alliance for Securing Democracy

postado em 04/11/2019 04:14
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Qual a importância do 5G?
A tecnologia vai gerar uma explosão de dados, transmitidos com mais qualidade, maior velocidade e menor latência. Logo, teremos conexão em todos os dispositivos, com a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). Com o 5G, haverá menos problemas de conectividade, o que permitirá que a IoT funcione de fato. Isso deve ocorrer em cinco ou 10 anos. Há uma estimativa segundo a qual, nos próximos anos, cada indivíduo vai produzir uma interação de dados a cada 18 segundos. Tudo será conectado. Isso vai garantir um potencial econômico enorme para quem conseguir captar, processar e analisar essas informações.

O leilão de 5G no Brasil só deve ocorrer no ano quem, talvez ique para 2021. O que esse
atraso pode provocar?

Mais do que implementar a infraestrutura de 5G, devemos nos preocupar em proteger as informações e a privacidade das pessoas. Os países estão correndo para ver quem vai construir as redes antes. Mas o desenvolvimento total acontecerá na próxima década. O espectro é importante, mas não é tudo. A segurança é mais relevante porque as decisões que tomarmos agora terão importância nos próximos 30 anos. Nesse sentido, o Brasil está mais avançado, pois já tem uma lei sobre o tema. Contudo, a implementação dessa regulamentação é muito difícil.

O 5G é mais vulnerável em termos de cibersegurança?
Quem controlar a infraestrutura de implementação do 5G terá acesso à informação que será transmitida. Em países como os Estados Unidos e o Brasil, a privacidade individual é importante. Com os dados coletados pela IoT, é possível saber tudo sobre as pessoas. Tudo o que estiver disponível ficará armazenado em apenas um lugar e o dono da infraestrutura terá acesso. É potencialmente mais vulnerável porque vai permitir uma transmissão muito maior de dados. Por isso, temos que ter cuidado com quem detiver a infraestrutura, que é um mercado muito mais concentrado. Há muitas empresas no ecossistema de telecomunicações, mas, em infraestrutura, mal enche a mão: Huawei, Ericsson, Samsung e Nokia.

O Brasil usa muitos equipamentos da Huawei. Há preocupação em relação à empresa?
Se temos uma empresa que é dona da infraestrutura e ela não respeita a regra, todas as informações estarão vulneráveis. Esse é o maior risco. Por isso, há uma grande preocupação em relação à Huawei, que já tem um histórico de fazer espionagem. Especialmente para o 5G, essa é uma área de preocupação. Não só por espionagem tradicional, mas por espionagem comercial e roubo de propriedade intelectual. Pagam funcionários para roubar tecnologia. É o modelo normal com o qual a China trabalha. Você faz mais dinheiro, se consegue roubar tecnologia.

Esse temor é porque a empresa é chinesa?
A China não é um país democrático. O país rouba informações dos demais. O pior é a vulnerabilidade dos dados pessoais. O país tem um sofisticado regime de vigilância, coleta informações sobre os seus cidadãos. E está exportando esse regime para todo mundo. A China, de fato, treina como vigiar pessoas, como entender o que as pessoas estão dizendo, usando sofisticada inteligência artificial, lendo o que dizem e determinando o que é perigoso para o governo. Sabem o que as pessoas fazem. Isso é assustador. Além disso, o governo influencia nas empresas que estabelecem a infraestrutura. Com o 5G e a IoT, a chinesa Huawei terá acesso às câmeras de vigilância, à iluminação pública e poderá passar isso tudo para a China, aumentando o risco geopolítico. Com o 5G, o monopólio é extremamente perigoso. Os Estados Unidos não têm companhias de infraestrutura. Samsung (coreana), Nokia (finlandesa) e Ericsson (sueca) são as companhias que competem com a Huawei. Os governos desses países não dão subsídios para suas empresas e por isso são tecnologias mais caras. Quando uma empresa tem subsídios e pode cobrar mais barato que as outras, é um perigo, porque as demais podem não sobreviver no longo prazo. A China subsidia a tecnologia da Huawei, por isso é mais barata, mas faz isso porque considera o setor de telecomunicações estratégico, da mesma forma que os governos brasileiro e norte-americano investem em equipamentos militares. Por isso, temos que ser cuidadosos com o que compramos.

Qual o maior desafio para os regimes democráticos em relação ao 5G?
A democracia valoriza a liberdade de expressão, a liberdade de criticar o governo. Se uma companhia de uma regime não democrático dominar o setor agora, vai ser um problema mais adiante. Porque infraestrutura é justamente a área mais difícil de fazer substiuições. As redes que estamos construindo agora serão as bases para as tecnologias que estão por vir, como 6G e 7G. A decisão de agora vai determinar o futuro.

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