Economia

Roberto Brant

O Estado brasileiro vive uma crise fiscal extrema, acumulando deficits e endividamento, sem poder investir ou melhorar os serviços públicos

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 11/11/2019 04:04


Até quando os brasileiros vão esperar?


Por mais que sejamos hoje um país dividido por visões irreconciliáveis do mundo, com agendas políticas distantes dos problemas reais que afetam a vida das pessoas, duas realidades não podem mais ser ignoradas. Há muito nos tornamos uma economia de baixo crescimento. Temos sistematicamente crescido menos que os países desenvolvidos e menos ainda que os países emergentes. Até 1980, não era isso o que esperávamos, pois durante quase todo o século XX crescemos muito mais do que a maioria dos países. Foi o tempo em que o Brasil era chamado de o país do futuro, e não gostávamos desta fama!

Além da estagnação da renda, o Brasil cobra das suas famílias e das suas empresas muito mais impostos do que quase todos os países, ricos ou pobres. Apesar disso, o Estado brasileiro vive uma crise fiscal extrema, acumulando deficits e endividamento, sem poder investir ou melhorar os serviços públicos. É difícil deixar de admitir que somos hoje um país errado, um país que não está dando certo.

A esta altura só nos restaria pensar no futuro, à espera de algum milagre. Mas na história dos homens não acontecem muitos milagres e quem conta somente com eles pode terminar muito mal.

Compreender como chegamos a esse ponto não é uma tarefa muito simples. Algumas coisas sabemos. Nas últimas décadas apostamos muitas fichas na expansão do Estado, especialmente durante o regime militar. Ao mesmo tempo, insistimos sempre em isolar nossa economia do mundo externo, negligenciando a busca de mercados para a exportação e protegendo os produtores locais contra a competição das importações. Quando chegaram as ondas de globalização não estávamos preparados para tirar proveito da internacionalização das cadeias de produção e fomos ficando irremediavelmente para trás.

A nova Constituição aumentou ainda mais o tamanho do governo e chamou isto de política progressista. Na verdade, o que ela fez foi entregar o Estado para as corporações de burocratas estatais e distribuir direitos a grupos restritos da sociedade. Tudo isso feito sem levar em conta o mínimo cálculo das consequências fiscais. Em pouco tempo, para pagar as novas contas, os impostos tiveram que aumentar de 25% do PIB para 34%, embora, com a exceção do Sistema Único de Saúde ; uma autêntica conquista civilizatória ;, os novos recursos extraídos da sociedade só tenham servido para pagar maiores salários e mais aposentadorias. Praticamente nada foi para investimento ou melhoria real dos serviços públicos para as pessoas.

Não seria injusto dizer que após a nova Constituição nada melhorou do ponto de vista econômico, salvo o fim da inflação, com o Plano Real, que não deveu nada à nova ordem institucional. Foi obra de um governo capaz e que fez as coisas certas. Mas, olhando em perspectiva, o governo Fernando Henrique foi um ponto fora da curva em nossa história política, uma improbabilidade que ocorreu e dificilmente se repetirá. Depois dele tivemos uma sucessão de aventuras de cunho populista que aprofundaram as nossas maiores crises.

As populações do mundo têm hoje uma maior consciência dos fatos que lhe dizem respeito. Às vezes, é uma falsa consciência, mas seus efeitos na vida política são os mesmos. Nos países que tiveram crescimento, seus frutos foram muito mal repartidos e a vida das pessoas não melhorou. Essa crescente desigualdade nos países ricos está abalando os fundamentos da vida democrática. Nos países que não crescem, como é o caso do Brasil, a situação é muito mais crítica, pois a pobreza está aumentando e as classes médias estão perdendo a esperança.

Nessas circunstâncias, o Brasil precisa crescer se quiser manter sua integridade social e política. O combate à crise fiscal é inegavelmente necessário, mas precisa ser conduzido com um olho nas exigências do conhecimento convencional e um outro na vida real das pessoas. Com juros reais próximos de zero, reduzir a dívida pública em vez de elevar o investimento público, é o caminho certo para graves perturbações que talvez não sejamos capazes de administrar.



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