Bernardo Bittar, Simone Kafruni
postado em 13/11/2019 16:45
[FOTO1]A complementariedade das economias das cinco nações que compõem o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul foi destacada como motor para ampliação dos negócios entre os países pelos líderes que participam do painel Comércio Intra-Brics, durante o Fórum Empresarial, nesta quarta-feira (13/11), no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB). Para o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, a conexão do Brics, cujos presidentes se viam uma vez a cada oito anos e, após a formação do grupo, se reúnem mais de uma vez por ano, é uma vantagem para ampliação do comércio. ;Quando pensaríamos que teríamos a comunidade empresarial dos cinco países reunidas? Temos que aproveitar os padrões comuns no âmbito do Brics, porque são as melhores ferramentas para aumentar o comércio entre os países;, avaliou.
Chen Siqing, presidente do Conselho do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), destacou que a sinergia entre o país e o Brasil é muito boa, sobretudo via Vale, empresa símbolo do Brasil, com a qual a China tem uma parceria estratégica. ;Temos que estar de olho na economia real, promover uma parceria possível intra-Brics. A complementaridade é muito grande, mas precisa de investimento, de benefícios para todas as partes;, afirmou.
Segundo Siqing, os cinco países estão juntos há uma década. ;A parceria financeira teve grandes ações, fundamos um banco, o New Development Bank (NDB), que é um sucesso;, destacou. O chinês alertou que o ICBC da China é um dos maiores bancos do mundo e fez investimento nos cinco países. ;Somos o maior acionista do Banco da África do Sul e operamos nos cinco países. Essa cooperação precisa de normalidade e de um padrão;, defendeu.
Vikramjit Singh Sahney, presidente da Sun International da Índia, assinalou que, no contexto em que o comércio global está desacelerando o multilateralismo, se aproximando de protencionismo, com questões como o Brexit, a tensão entre China e Estados Unidos, todas economias acabam perdendo. ;Isso leva à estagnação. Como o Brics é responsável por metade do crescimento econômico temos que potencializar a complementariedade das economias. Cada uma das nossas economias têm suas pontas fortes;, disse.
Para Sahney, o Brasil é uma usina de commodities, a Rússia, em combustíveis como óleo e gás, a China é uma potência mundial, a África do Sul tem reservas minerais e a Índia, líder em serviços. ;Tudo muito complementar. Temos, na Europa, grande fatia do comércio global. Mas precisamos destravar esse grande potencial com acordos comerciais entre diferentes países;, sugeriu.
Sahney afirmou estar feliz ao ver que a cooperação alfandegária traz uma luz no fim do mundo, com certificados fitosanitários. ;Teremos muitos avanços no comércio agrícola, msa demos muito pouca atenção aos serviços, à conectividade também. Não temos voos diretos para África do Sul. Precisamos ter. Quando as pessoas se movimentam, os produtos seguem o caminho;, ressaltou. O indiano defendeu que, a partir do comércio digital e do NDB, o Brics possa fazer comércio e empréstimos nas próprias moedas. ;Temos que lançar uma espécie de Uber para empresários do Brics, uma plataforma de compradores e vendedores onde todos possam intercambiar;, sustentou.
Siroj Loikov, CEO Adjunto do PJSC PhosAgro, da Rússia, revelou que a empresa produz fertilizantes e que comercializou 1,2 milhões de toneladas para o Brasil, no valor de US$ 400 milhões nos últimos cinco anos. ;Isso representou um aumento de 90%, crescimento garantido por um acordo, em 2014, no qual o Brasil derrubou 6% das taxas para esse tipo de produto;, afirmou. Loikov agradeceu o governo brasileiro pela solução. ;Isso ampliou o uso de fertilizantes ecologicamente limpos;, destacou.
O empresário russo lembrou que os produtos são taxados em vários países, inclusive na Índia, que ainda impõe impostos sobre produtos russos. ;Com a diminuição da taxação, se aumenta o comércio. É esse tipo de progresso que queremos alcançar com o Brics.;
Irvindra Naidoo, gerente geral de Estratégia e Modelagem de Negócios da Transnet da África do Sul, alertou que, na conversa sobre aumentar o comércio entre os países, há uma tendência de esquecer que não é apenas a concorrência entre os países. ;Empresas que competem também. Empresas vendem para clientes em qualquer lugar do mundo desde que lucrem. Com a mesma importância, fornecedores também vem de qualquer lugar do mundo e colaboram ao mesmo tempo no que chamamos de cadeia do valor;, explicou.
;Se considerarmos importação de produtos manufaturados, bens intermediários, falamos em comércio, enviar produto consumido em outro país. Se considerarmos o iPhone, a China é o maior fornecedor, fabricam mais de 300 componentes. O Japão mais 100 e os Estados Unidos, 50. A questão principal é a seguinte: fabricantes poderão se plugar, se acoplar, e aí, com conectividade, diversificaremos e aumentaremos a nossa base industrial;, defendeu.
Segundo o sulafricano, esse deve ser o foco do Brics. ;Temos que desenvolver a conectividade. Isso é um desafio para a África do Sul e mercados emergentes como um todo. A vantagem dessa cadeia de suprimento global é não precisar desenvolver todas as competências para produzir algo. Por isso, precisamos aprofundar a conectividade;, completou.
O secretário Troyjo ressaltou que há duas maneiras de ver o caminho a ser percorrido pelo Brics. ;Um tema que poderia se chamar instrumentos, com as ramificações específicas, os temas alfandegários, as transações baseadas em moedas de um dos cinco países. Existem medidas que podem ser implementadas;, afirmou. ;Mas acho que nosso maior desafio é a questão da visão. Precisamos de uma grande visão para que isso aconteça. E pode acontecer com a China, que alcançou dimensões de superpotência, do ponto de vista do financiamento e do desenvolvimento. Mas precisamos de regras comuns;, acrescentou.