Catarina Loiola*
postado em 17/11/2019 06:25
[FOTO1]O setor coureiro nacional está investindo em soluções sustentáveis na produção. O despejo dos resíduos sólidos e líquidos é uma das prioridades nesse esforço de melhorar a reputação do produto de exportação. A maior ameaça consiste nos resíduos de cromo e outros componentes prejudiciais ao meio ambiente. O despejo irregular ocorre com frequência em regiões onde o couro é curtido, como China, Índia e Bangladesh. Em grande parte dos curtumes do Brasil, porém, não ocorre mais o despejo em áreas impróprias, asseguram os produtores nacionais. Essa questão ganhou atenção em agosto, quando 18 marcas internacionais suspenderam a importação do couro brasileiro, por causa das queimadas na Amazônia.Na avaliação de João Fernando Bello, presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), o setor coureiro brasileiro é um exemplo de produção sustentável. Ele cita a fábrica ítalo-brasileira ILSA Brasil, localizada no Rio Grande do Sul, que aproveita os resíduos dos curtumes para fabricar fertilizantes orgânicos. ;Os resíduos sólidos dos curtumes não vão mais para aterros sanitários. Mandamos tudo para a fábrica porque o couro tem muito nitrogênio, o que faz bem para a terra;, explica.
Bello relembra como os curtumes brasileiros começaram a pensar em soluções sustentáveis no fim dos anos 1970. Segundo ele, um dos segmentos mais visados à época foi a indústria do couro. ;Nós fomos obrigados a investir muito dinheiro em soluções de produção ecologicamente corretas, o que acarretou no fechamento de muitos curtumes que não tinham o capital suficiente para isso;, conta. ;Hoje, o curtume é uma indústria limpa, dentro da sua realidade;, avalia. Diego Moreira ;tzig, representante da Lanxess, empresa especializada em químicos, ressalta que o couro é uma indústria de reciclagem. ;Somos tecnológicos e estamos cada vez mais inseridos na indústria 4.0. Nosso desafio é mostrar ao consumidor final o quanto a nossa indústria é moderna;, diz.
Exportação
A sustentabilidade na produção é um fator importante, entre outros motivos, porque as exportações do setor têm diminuído nos últimos anos. Este ano, o setor coureiro exportou em outubro US$ 83,1 milhões, aumento de 2,7% em relação a setembro, quando a exportação foi de US$ 81 milhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. No entanto, em relação a outubro de 2018, quando foram exportados US$ 120,8 milhões, houve uma queda de 31,2%.
Quanto ao total exportado em metros quadrados, segundo a Secex, em outubro, foram embarcados 14,5 milhões, aumento de 6,3% sobre o mês anterior, quando o total foi de 13,7 milhões de m;. O acumulado do ano está 0,8% abaixo de 2018. Entre janeiro e outubro deste ano, os países que mais importaram o couro brasileiro foram China, com US$ 235 milhões, Estados Unidos, com mais de US$ 164 milhões, e Itália, com US$ 162 milhões. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda da importação desses países foi significativa, variando entre 16,8% e 29,3%.
Os curtumes se concentram no Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Paraná e Bahia. O estado gaúcho é o líder em embarques considerando valor e área, com participação de 26,2% e 21,0%, respectivamente. Em relação a janeiro e outubro de 2019, o Rio Grande do Sul exportou US$ 252.317, registrando queda de 14,9% em relação ao mesmo período de 2018. De acordo com o relatório do CICB, o Distrito Federal não tem participação neste setor.
Em relação ao tipo de produto, o couro acabado é o mais exportado, com mais de US$ 574 milhões, entre janeiro e outubro de 2019. Em segundo lugar, aparece o couro wet blue, com US$ 250 milhões no mesmo período. O couro acabado já passa por todos os estágios da produção, enquanto o modelo wet blue é submetido a um processo inicial de curtimento para depois receber o acabamento com outras cores e texturas. ;O Brasil é um dos pioneiros na redução do sistema de salga, agora utiliza outras formas de preservação. Isso já é um processo sustentável fantástico, porque o sal é muito danoso ao meio ambiente;, diz o presidente do CICB.
A modernização do setor e as propostas para amenizar os riscos ao meio ambiente foram debatidos durante a sétima edição do Fórum de Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB), que ocorreu em 7 de novembro, em Estância Velha (RS).
*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza. Viagem a convite do CICB.