Economia

Peste suína na China aumenta exportação de carne de porco brasileira

Devido a surto de peste suína africana no país, a exportação da carne de porco brasileira teve aumento de cerca de 40% para os chineses

postado em 19/11/2019 17:45
[FOTO1]Recentemente, uma peste suína africana reduziu a produção de carne suína da China, maior produtora e consumidora global, em ao menos 20% em 2019, de acordo com a agência de alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU). Com isso, o Brasil teve na exportação de carnes para a China, um crescimento de cerca de 40%, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (Abpa).

Por causa da demanda dos chineses, os preços das carnes tendem a aumentar. De 110 milhões de toneladas de carne suína produzida, 54 milhões foram consumidas somente pela China, no ano passado. ;O aumento dos preços acontece devido ao fato deles buscarem novos mercados para suprir essa demanda que foi perdida por causa da febre suína africana e está assolando o país. Em média os animais morrem de dois a dez dias, mata muito rápido e eles estão perdendo o estoque;, diz o economista da Guide Investimentos, Victor Beirute.

Ele afirma que, como o Brasil é um grande produtor de carne bovina, essa carne se torna uma boa substituta para o problema dos chineses. ;Pode ser que tenha impacto na inflação do mundo, eles são os maiores consumidores e produtores.; De acordo com ele, caso não haja uma contenção da doença, ocorrerá o impulsionamento da inflação e os valores de vários produtos poderão começar a subir. ;Como é uma commoditie, ela tem um preço de mercado, é oferta e demanda, não tem como fugir caso os valores subam.;

O cliente já está percebendo o aumento dos valores das carnes no supermercado, é fato que no dia a dia, esse produto é o que mais pesa na hora de fazer as compras. Em um supermercado em Brasília, nos últimos oito dias, já foram aumentados em cerca de cinco reais os preços do quilo das carnes oferecidas, segundo a equipe que atua na área de açougue. As maiores altas foram no contra filé e no patinho, justamente as mais procuradas pelos clientes.

;Eu ia comprar um patinho que estava R$19,90 mas acabei levando o músculo que está muito mais em conta;, afirma a servidora pública de 34 anos, Janaína Pereira. ;Tentei ir em outro supermercado mas ainda assim eu achei bem caro.; Ela diz que uma das saídas possíveis é comprar as carnes em atacadistas, que cobram um valor mais baixo pelo produto. ;Dessa forma eu encontro às vezes por metade do preço de um mercado menor.; Assim como ela, Maria Batista de 70 anos, diz que ontem se espantou com os números que viu no açougue do supermercado. ;Eu ia comprar mais quantidade de carne, mas aí eu deixei de comprar porque eu achei muito caro.; Ela conta que os cortes que percebeu uma maior alta foram o contra filé e a costela bovina.

Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, afirma que esse problema já está sim se refletindo nos valores das carnes. ;Como é um produto da cultura do brasileiro, é um impacto grande na cesta. Nós temos a inflação sob controle, mas é claro que é um impacto indesejado. A população vai pagar mais caro por essa carne.; Ele diz que esse problema pode ser driblado com maiores estímulos tributários para os produtores de carne animal por parte do governo brasileiro.

;O câmbio está favorável e o real está desvalorizado, tem uma motivação de um processo maior de oferta e demanda. Com esse cenário, temos uma oferta menor por causa da produção que temos. Na pior das hipóteses isso traria uma retomada na nossa inflação;, afirma o economista.

De acordo com o Índice Nacional de Vendas da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a pesquisa Abrasmercado, que tem como objetivo acompanhar as oscilações de preços e gastos familiares em lojas de supermercados, nos últimos 12 meses as carnes de corte dianteiro aumentaram cerca de 0,30% e de corte traseiro, 2,84%, os últimos dados são de setembro deste ano.

Marco Aurélio de Lima, diretor da GfK (Growth from Knowledge), empresa alemã que faz a apuração do Indicador Abrasmercado diz que a carne vermelha, vinha com preço estável desde o fim do ano passado. Ele destaca que não só o aumento das exportações para a China fez os preços subirem, como também acredita que a Rússia tenha uma influência nos valores de compra da carne brasileira. ;A Rússia abriu uma autorização de alguns frigoríficos brasileiros, que antes não tinham esse aval. Isso leva não só a carne vermelha mas o frango também, que já vinha em uma alta considerável.; De acordo com o diretor, de janeiro a outubro, o pernil subiu 12,18%, o frango 7%, carne vermelha de corte traseiro 2,09% e a dianteiro 4,11%.

Jael Antônio da Silva, Presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), conta que, no setor, a preocupação já é grande. ;Em alguns lugares o preço do filé mignon já aumentou mais de 20% nos últimos meses. O empresário não vai conseguir segurar. Infelizmente, muito provavelmente, teremos um repasse do valor desse produto para o consumidor final;, afirma o presidente. Ele constata que para sair desse problema, o empresário terá a opção de diminuir a quantidade de carne que compra, sugerir opções ao cliente ou aumentar o preço para o consumidor final.

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