Economia

Dólar segue a alta e bate recorde mais uma vez: R$ 4,21

Esse é o maior valor nominal desde 1994. Aumento foi determinado por intenso fluxo de saída de divisas e notícia de deficit elevado nas contas externas

Rafaela Gonçalves*, Gabriel Pinheiro*
postado em 26/11/2019 06:00

[FOTO1]O dólar comercial subiu 0,562% e atingiu novo recorde, nesta segunda-feira (25/11), ao fechar a R$ 4,213, maior valor nominal desde o lançamento do Plano Real, em 1994. Neste ano, a moeda norte-americana acumula valorização de 9,7% diante do real. A divisa teve alta ante moedas de países emergentes, mas o movimento aqui foi potencializado pelo fluxo de saída de recursos e pela divulgação de um deficit em conta-corrente pior que o esperado. Como reflexo, o real acabou sendo a moeda com pior desempenho ante o dólar, em uma cesta de 34 moedas mundiais.

Durante a sessão, o dólar chegou a ser negociado a R$ 4,22, mas acabou cedendo. Em Washington, onde participou do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que vê com naturalidade a posição atual da taxa de câmbio e o deficit nas contas externas. ;Com o país crescendo, é natural que vá importar mais;, disse. E afirmou: ;É bom se acostumar com juros mais baixos e câmbio mais alto por um bom tempo;.

Para o economista da BlueMetrix Ativos, Renan Silva, a diferença entre os cenários interno e externo ajuda a explicar a disparada da moeda. ;Nós tivemos notícias favoráveis da guerra comercial entre Estados Unidos e China e, por isso, as bolsas subiram lá fora. Isso é mais um motivo para que os recursos fiquem no exterior, pressionando o câmbio, disse o economista. ;Além disso, há descompasso entre a instabilidade do país e a taxa de juros que o Brasil oferece. Alguns bancos dizem que a Selic pode chegar até 4,25% ao ano, e os investidores veem um risco em investir em um país de capital especulativo.;

Renan acredita que, no ano que vem, ;as privatizações previstas para diversos setores econômicos do Brasil devem promover uma reentrada de capital; no país. ;No momento, temos que conviver um pouco com esse quadro;, frisou. Contribui para pressionar a cotação do dólar, além disso, a maior procura pela divisa, considerada comum nesta época do ano, sazonalmente marcada por remessas de lucros e dividendos das multinacionais para as matrizes no exterior.

Por causa disso, analistas dizem que o Banco Central (BC) pouco pode fazer para frear as cotações. ;O fluxo é de saída de recursos do país. Se intervir no mercado, o BC só vai queimar reservas;, disse o chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. Neste mês, até o dia 21, houve fluxo negativo de US$ 2,3 bilhões, segundo dados divulgados pelo BC.

No mercado acionário, após duas sessões de forte alta, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), iniciou a semana registrando queda de 0,25%, aos 108.424 pontos. Enfraqueceram o ânimo dos investidores as notícias de que o governo estuda taxar dividendos, a parte dos lucros das empresas que é distribuída aos acionistas.

Também pressionou o índice a notícia de que a balança comercial brasileira registrou deficit de US$ 1,01 bilhão no acumulado de novembro. ;Com câmbio mais forte, deveríamos ter resultados melhores das exportações, mas não é o que estamos vendo;, ressaltou o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman. Para ele, o mercado passa por um momento de transição. ;Os países da América do Sul são evitados pelos investidores, por isso, tanto a conta capital como a conta-corrente registraram deficits fortes;, disse.

*Estagiários sob supervisão de Odail Figueira

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