Economia

'Queda dos juros gera efeitos positivos', diz economista-chefe do UBS

Atualmente a Selic, taxa básica da economia, está em 5% ao ano. É o menor patamar desde 1999

Gabriel Pinheiro*, Cláudia Dianni
postado em 26/11/2019 17:23

[FOTO1]A menor taxa de juros da história já está surtindo efeitos na economia, tanto em termos de impacto na taxa de crescimento, como no comportamento dos investidores, avalia o economista-chefe do banco UBS, Tony Volpon. Por outro lado, nos últimos 12 meses, a fuga de capitais somou cerca de US$ 40 bilhões nos últimos 12 meses.

Nos últimos meses, a fuga de capitais foi mais intensa. Nos últimos cinco meses, as reservas diminuiram US$ 22,7 bilhões. Segundo relatório do UBS, se anualizada, a saída de dólares dos últimos três meses somaria US$ 75 bilhões em 12 meses. De acordo com os último dado disponível do Banco Central, o volume das reservas internacionais somava US$ 369,8 bilhões em 18 de novembro, ou seja, antes das intervenções feitas hoje pelo Banco Central para conter a alta do dólar.

;Mudança de juros gera mudança de comportamento e um aumento temporário na demanda por dólares e, para fazer o ajuste, tem que fazer um estoque;, disse Volpon no painel Ferramentas para o crescimento do seminário Desafios para 2020 ; o Brasil que nos aguarda promovido esta tarde pelo Correio em parceria com o Sebrae, das Faculdades Mackenzie e do Buser.

;Se solidificarmos esse patamar de juros, os recursos vão para fins produtivos e isso é uma enorme mudança;, disse o economista que espera reação na taxa de produtividade e de emprego. Atualmente, a Selic, taxa básica da economia, está em 5% ao ano. É o menor patamar desde 1999. No mês passado, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central confirmou a expectativa do mercado de que a taxa de juros termine o ano em 4,5%.

Segundo Volpon, embora muito positiva para a economia como um todo, nem todos ganham com a queda de juros e um dos perdedores é o mercado de câmbio. ;Vamos ter que passar por um ajuste, parte financiado pelo Banco Central, que está entregando reservas e, como disse o ministro Paulo Guedes (economia), conviver com o dólar mais caro, para fazer esse ajuste de estoque;, afirmou.

Crescimento - No entanto, o economista destacou que o crescimento econômico será estimulado pela queda da taxa de juros. Parte da razão do real estar fraco, segundo explicou, é porque o crescimento é baixo. ;Se o patamar atual de crescimento de 1% saltar para 2,5%, vai haver um impacto positivo sobre o real;, afirmou. ;Se há alguma coisa hoje que pode mudar radicalmente a cara da economia brasileira, é a queda dos juros, e é só o início. Ainda pode haver uma dança circular muito grande;, disse.

Para ele, embora ainda baixo, o crescimento de 1% dos últimos dois anos, e a previsão de expansão de 1% para 2019, é uma boa recuperação. ;O consumo está melhorando, mas o consumidor está carregando a economia nas costas, mas, com a queda dos juros, vamos conseguir aumento da economia. ;A queda de juros também vai ajudar na questão fiscal e na criação de empregos;.

Investidores - Ele afirmou que o investidor brasileiro está começando a tirar dinheiro do Brasil para aplicar fora e diversificar. ;Muito do investimentos feito no Brasil era porque os juros eram altos. Se não tem mais juros altos, o dinheiro sai. O empresário, se podia, emitia dívida lá fora e fazia hedge cambial (espécie de seguro). Hoje, é mais barato emitir debêntures no Brasil. Antes, as empresas brasileiras que emitiam dívida lá fora, compravam dólar no Brasil, mas, agora, estão fazendo o contrário. Isso é excelente do ponto de vista de risco do país, mas do ponto de vista da produção de estoque, gera um fluxo negativo no mercado de câmbio;, explicou.

De acordo com Volpon, o investidor brasileiro costumava investir, principalmente, em renda fixa no Brasil, com pouca diversificação. ;Isso tem mudado nos últimos dois anos e essa é a gasolina que vai movimentar o motor dos investimentos;, disse. Conforme disse o economista, pela primeira vez, a quantidade de dinheiro aplicado em fundos tem superado a quantidade de dinheiro em CDB no sistema bancário.

*estagiário sob supervisão de Cláudia Dianni

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