Simone Kafruni
postado em 26/11/2019 18:08
[FOTO1]A situação do mercado de trabalho no Brasil é pessimista no longo prazo, porque a educação aumentou nas últimas décadas, mas a produtividade está estagnada desde os anos 1980, porque a qualidade do ensino é muito baixa no país. A afirmação foi feita pelo professor Naércio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, no painel Emprego, renda e infraestrutura, durante o seminário Correio Debate: Desafios para 2020 ; O Brasil que nos aguarda, realizado nesta terça-feira (26/11) no auditório do jornal.
O professor ressaltou que o país tem um problema estrutural de produtividade. Se isso não mudar, a renda ficará estagnada. ;Falta igualdade de oportunidade. O que vimos foi uma recuperação pequena porque os cônjuges entraram no mercado de trabalho para compensar a saída dos chefes. Sem oportunidade de emprego, mais jovens entraram na informalidade;, explicou.
;Por isso, a situação é pessimista no longo prazo. A recuperação é lenta. Se não melhorarmos a produtividade, a taxa de desemprego não vai cair;, disse. O professor comparou escolaridade e produtividade, com base no Produto Interno Bruto (PIB) por trabalhador. No país, de 1965 para 1980, a produtividade dobrou, sem investimentos em educação. De 1980 para 2010, o Brasil triplicou a educação mas não aumentou a produtividade ;Então, em 2010, a produtividade estava no mesmo nível de 1980. Uma estagnação de 30 anos;, afirmou.
O motivo desse descompasso, segundo Menezes, é a baixa qualidade do Brasil. ;Mais de 70% dos jovens de 15 anos está abaixo do nível 2 do Pisa, patamar mais baixo do levantamento;, ressaltou. Ao monitorar o desempenho desses jovens durante a prova do Pisa, enquanto alunos da Coreia e Finlância ficam com uma média de 50% a 60% de acertos, os brasileiros despencam para 10%. ;Pior que isso, 60% nem abriram a questão antes do intervalo, porque não fazem esforço;, criticou.
Conforme o professor, embora o gasto com aluno tenha triplicado, as notas são menores do que em 1995. ;No quinto ano, melhorou o desempenho. No nono, a melhora é mais lenta. Mas no ensino médio, caiu e parou. Ou seja, quem sai do ensino médio, sabe menos do que sabia em 1995. Chega no mercado de trabalho com nota média muito baixa;, destacou.
Além disso, 30% dos jovens brasileiros com 18 anos não estudam nem trabalham. ;Isso tem a ver com o desemprego. A situação aumenta a probabilidade da juventude entrar no crime;, alertou.
Ao desenhar a composição do desemprego, Menezes apontou que os grupos mais afetados são jovens e filhos que moram com os pais. Depois vêm os chefes de família, por isso houve aumento de cônjuges entrando no mercado de trabalho. ;Hoje, 50% dos jovens conseguem completar o ensino médio, antes era 25%. Mas esses jovens chegaram no mercado de trabalho numa época de crise. Por isso, são os mais afetados. Há uma recuperação, mas os jovens estão entrando, principalmente, no mercado informal;, destacou. ;É uma recuperação precária do mercado de trabalho, é o jovem que vai ser motorista de aplicativo, entregador de pizza;, afirmou.