[FOTO1]Em meio a um dia tumultuado no mercado de câmbio, com duas intervenções do Banco Central para segurar a alta do dólar nesta terça-feira (26/11), o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, reforçou que a desvalorização cambial não acontece apenas no Brasil. ;Todas as moedas emergentes estão apanhando do dólar. É uma percepção mundial que diz o seguinte: os emergentes estão em uma situação mais difícil, salvo poucas exceções;, destacou ele, durante o seminário Correio Debate: Desafios para 2020, realizado na sede do Correio Braziliense.
O economista do Fator reconheceu que trajetória do saldo em conta corrente tem piorado, mas ainda existe bastante folga e não há um risco iminente de uma crise cambial. Contudo, ele aposta em que o dólar continuará em um patamar elevado, como preconiza o Ministério da Economia. ;Dólar abaixo de R$ 4 eu não conto com isso faz tempo;, afirmou ele, apostando que a divisa norte-americana fique entre esse patamar e R$ 4,20 até o fim do ano.
Gonçalves elogiou a autuação da autoridade monetária, que, após a divisa norte-americana bater novos recordes hoje, realizou leilões extraordinários de contratos de swap cambial e de reservas. ;O BC está indo muito bem ao dar a opção de dólar e de swap;, afirmou.
O dólar bateu novo recorde, de R$ 4,27, após as declarações do Ministro da Economia, Paulo Guedes, em Washington, ontem. ;É bom se acostumar com juros mais baixos e câmbio mais alto por um bom tempo;. A divisa, contudo, encerrou em R$ 4,24, devido à atuação do BC.
Investimento
Na avaliação de Gonçalves, é importante se preocupar com o cenário de juros negativos que vem sendo vislumbrado em vários países, inclusive, no Brasil. E, nesse sentido, discutir os motivos dessa queda recente nos juros brasileiros, que também está relacionado com a queda nos investimentos, é essencial. ;O que está em risco é o crescimento da economia;, frisou.
O economista defendeu a adoção de medidas de curto prazo do governo, como a retomada de investimento, para ajudar na retomada da economia. Para ele, a falta de um crescimento robusto na economia brasileira não depende apenas na melhora da produtividade, como defende a equipe econômica. ;Subordinar o investimento público ao teto de gastos não me parece o mais inteligente;, destacou ele, defendendo medidas públicas para estimular o investimento, caso contrário, não haverá expansão econômica no curto prazo.
O teto de gastos, implementado nas contas públicas por emenda constitucional a partir de 2017, ajudou a controlar o aumento das despesas que foram reduzidas, em grande parte, pelo encolhimento dos investimentos. A emenda, inclusive, contribuiu para a recuperação da confiança dos investidores no país. ;Não estou falando que (o governo) não tenha que controlar o crescimento de despesa discricionária (não obrigatória). Mas ter um teto de gasto não implica em gerar investimento (na economia);, explicou.
Para o economista é preciso discutir saídas para o crescimento econômico, mas com diagnóstico correto para não cair no erro de que apenas medidas que usem as palavras sustentável e longo prazo seriam a solução. "Parece que adotar medidas de curto prazo virou pecado", disse. "Do mesmo erro do diagnóstico sai o erro da política;, emendou ele, em referência às críticas de integrantes da equipe econômica ao pensamento keynesiano, heterodoxo e desenvolvimentista, contrário ao defendido pelo ministro Paulo Guedes, que é ortodoxo.
Gonçalves, contudo, elogiou o fato de o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, ter criticado a má alocação de recursos dos governos anteriores. ;Está certo realocar;, disse. Mas ele ressaltou que o Banco Central Europeu (BCE) também tem mostrado preocupação com a falta de que investimento público também é importante para ajudar na retomada do crescimento econômico. ;Falar que o banco europeu não está preocupado,é um pouco complicado. Se governos anteriores usaram políticas contracíclicas para acelerar a economia, não quer dizer que isso seja errado;, declarou.