Economia

''Governo precisa melhorar a comunicação'', diz economista Elena Landau

Para a responsável pelo programa de privatização do governo FHC, discurso do governo está confuso e ele deve organizar melhor as prioridades

Rosana Hessel
postado em 26/11/2019 20:48

[FOTO1]Após enfrentar problemas de articulação no início do ano nas negociações com o Congresso para aprovação da reforma da Previdência, o governo parece que não aprendeu a lição, na avaliação da economista e advogada Elena Landau, responsável pelo programa de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. ;O governo precisa melhorar a comunicação;, destacou ela nesta terça-feira (26/11), durante o seminário ;Correio Debate: Desafios para 2020;, realizado na sede do Correio Braziliense.

No entender de Elena Landau, o governo continua dando sinais trocados para o mercado e os investidores, ao defender redução de subsídios e, ao mesmo tempo, falar em desoneração do mercado de trabalho, por exemplo. ;É preciso organizar melhor o discurso e mostrar estudos comprovando a necessidade de cada medida. Se não houver uma melhora na comunicação para que as demais reformas avancem, a economia vai continuar patinando. É preciso ter foco;, afirmou.

A ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) considera que o crescimento de 2% previsto pelo mercado no ano que vem, o dobro deste ano, ;já está dado;, mesmo se o governo não avançar nas demais reformas, como a tributária e a administrativa. E, para isso, ele precisa melhorar a interlocução explicando o porquê de cada medida e seus impactos, pois tudo indica que essas Propostas de Emendas à Constituição (PECs), devem ficar para o ano que vem.

;A sensação de urgência que havia na proposta da reforma da Previdência não tem. O lado bom é que os empresários não vão esperar isso para tomar decisão. Mas o governo não pode correr o erro de querer confrontar o Congresso, como fez com a PEC da Previdência, tentando impor a sua agenda em vez do diálogo, e, com isso, a tramitação atrasou;, alertou.

Elena Landau contou que achava que o governo tinha aprendido a lição, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, com suas últimas declarações sobre câmbio e AI-5, mostrou o contrário. ;Eu estava otimista com a melhora da articulação do governo, mas parece que o ministro acha que o dever dele já acabou e ele parou de defender as demais reformas. Ele não tem que falar de câmbio. Não tem que falar de AI-5. Ele precisa falar que, enquanto há 12,5 milhões de desempregados, há um grupo de trabalhadores com aumento real (acima da inflação).

A economista criticou o fato de o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, insistir em defender temas que confundem e não representam a agenda de reformas estruturantes, como é o caso da extinção do DPVAT e de municípios ou mesmo a insistência em defender a Medida Provisória dos balanços nos jornais, que foi considerada inconstitucional pelo Legislativo. ;Esses itens são ruídos que o governo faz. O DPVAT não tem nada a ver com reforma tributária. Não é imposto e ele existe porque há uma falha no mercado, porque motociclista não tem seguro;, destacou.

Privatizações

De acordo com Elena Landau, o ministro Paulo Guedes tem evitado falar de privatizações depois de prometer R$ 1 trilhão no início do mandato, um dado que ela sempre considerou inatingível. ;Nem se a União tivesse participação em todas as estatais, o governo conseguiria atingir R$ 1 trilhão;, avisou. Pelas contas feitas por ela e um grupo de economista no início do ano, se juntasse todas as estatais com capital aberto, considerando um sobrepreço de 100%, o govenro não conseguiria arrecadar R$ 300 bilhões. Logo, segundo ela, mesmo vendendo todos os imóveis do governo federal, algo bastante improvável, esse montante não seria alcançado. ;Nunca vai chegar;, pontuou.

A economista demonstrou preocupação com o fato de o governo optar por vender participações da União. ;Não tem uma pessoa no governo que defenda fortemente as privatizações e, ao vender as participações no varejo, mostra que não há um comando nesse processo;, lamentou. ;O BNDES não sabe mais fazer privatização. Ele perdeu emborcadura;, emendo. Ela disse que, no dia em que o governo vender a Valec, uma das estatais federais deficitárias, ;vai começar a acreditar que existe um programa de privatização;.

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